A cura do cego de nascença que provocou tanta polémica entre os vizinhos do miraculado e entre os fariseus (Jo 9) oferece uma maravilhosa lição: crer em Jesus é estar curado da cegueira espiritual. Com efeito, Cristo tendo tomado conhecimento de que tinham expulsado da Sinagoga seu agraciado, ao se encontrar com ele, indagou: “Crês tu no Filho de Deus?” Respondeu ele: “E quem é, Senhor, para que eu creia nele”? Disse-lhe Jesus: “Tu o vês; é este mesmo que está falando contigo”. Então exclamou: “Creio, Senhor! E o adorou” (Jo 9, 35-39).

A fé abre os olhos da alma e é pré-requisito para se aproximar do Mestre divino e dele haurir todos as graças. Introduz o crente no mistério redentor como condição básica da existência cristã. Leva o ser humano a admitir que Jesus de Nazaré é “o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mt 16,16). Pode-se então usufruir dos dons do perdão, da justiça que Ele com sua morte e ressurreição oferece a todos que O acolhem. Ele é o único mediador em cujo nome se pode encontrar remissão dos pecados. Aceitá-lo implica encontrar o caminho que leva à eternidade beatífica. Como ensina São Paulo, “não há senão um só Deus, um só é também o mediador entre Deus e os homens, o homem Cristo Jesus (1 Tm 25).

Cumpre, deste modo, purificar, apurar e confirmar a fé em Jesus Cristo, para que, crendo, se tenha a vida em seu nome, como bem se expressou São João (Jo 20,31). Quem bem analisa o diálogo do cego com Cristo se percebe que houve da parte daquele que fora curado uma atitude de abertura, de acolhida, de disponibilidade que o levou a ver a Luz que veio a este mundo para iluminar os que estavam nas trevas.

Os fariseus, fechados em si mesmos, na sua empáfia e nas suas falsas teorias, continuaram cegos e, como eles, muitos coetâneos de Jesus (Jo 1,11). Optar, porém, por Jesus significa sair da escuridão, escolher a vida e não a morte. Trata-se de um movimento de total união à pessoa do Redentor que leva a um rompimento com a mentira, com a falsidade, com o embuste que entenebrecem o ser pensante e o envolvem nas sombras do erro. É preciso perspicácia espiritual para se perceber a grandeza de se poder dizer discípulo de Cristo, entendida a fé nele como dom total de si numa aquiescência completa de sua doutrina.

São João, no episódio do cego miraculado, diz que ele se prostrou diante de Jesus. É necessário, de facto, celebrar o Redentor num culto de autêntico amor, como preconizou o Apóstolo aos Filipenses: “Para que, no nome de Jesus, todo o joelho se dobre, nos céus, na terra, e abaixo da terra, e toda a língua proclame que Jesus Cristo é o senhor para glória de Deus Pai” (Fl 2,10-11). Daí toda atenção que se deve ter durante as celebrações litúrgicas, as quais vão alimentando uma fé laudatória naquele que por todos padeceu e se sacrificou. São louvores cristologizados que tanto agradam ao Pai. Donde a importância da solene doxologia da Missa: «Por Cristo, com Cristo e em Cristo, a vós, Deus Pai todo-poderoso, na unidade do Espírito Santo, toda honra e toda glória, Fórmula trinitária esplêndida que assinala magnificamente a união com Verbo Encarnado como caminho para dar glória à divindade e santificar a vida de cada um. Eis por que, proferida unicamente pelo celebrante, os fiéis, como acontece desde os primórdios da Igreja, respondem com um entusiástico Amém, palavra hebraica que indica uma afirmação, e uma adesão total àquele louvor. Quem, porém, crê e vê Jesus e o adora deve crescer progressivamente nele, no sentido de se “tornar cada um perfeito em Cristo” (Cl 1,28). Isto significa que o eu carnal é suplantado pelo Redentor como aconteceu com São Paulo: “Fui crucificado junto com Cristo” (Gl 2,20). Deste modo, o cristão se envolve na mais completa luminosidade, dado que Jesus afirmou: “ Eu sou a luz do mundo; quem me segue não anda nas trevas, mas terá a luz da vida” ( Jo 8,12). É o caminhar nos passos do Redentor que veio a este mundo obscuro de morte para levar consigo para cima todos os que se unem a Ele, conduzindo-os para a casa do Pai.

É assim que o baptizado deve viver uma espiritualidade cristocêntrica, tendo olhos para ver Jesus também em cada irmão no serviço humilde do próximo, no luminoso caminho que leva à vida eterna, tornando-se lucífluo, lucipotente, lembrado do que disse o Mestre divino: “Vós sois a luz do mundo”.

Escrito por: Côn. Vidigal*

* Professor no Seminário de Mariana – Mg.

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