Desde o princípio, Deus pensou na Virgem Maria em função do seu desígnio de salvar a humanidade, desposando a nossa natureza em Jesus Cristo. Quando o homem caiu, ele nos abriu uma promessa de esperança, e nessa promessa, já estava presente a Virgem Maria: “Porei hostilidade entre ti e a mulher, entre tua linhagem e a linhagem dela. Ela te esmagará a cabeça e tu lhe ferirás o calcanhar” (Gn 3,15). Esta mulher é aquela a quem Jesus se refere como “mulher” em Caná e aos pés da cruz (cf. Jo 2,4; 19,26); é aquela de quem diz o Apóstolo: “Quando chegou a plenitude do tempo, enviou Deus o seu Filho, nascido de uma mulher...” (Gl 4,4). Esta mulher fora prenunciada pelos profetas de Israel, sempre ligada à vinda do Messias, que traria a bênção da salvação: “Eis que a Virgem conceberá e dará à luz um filho e pôr-lhe-á o nome de Emanuel” (Is 7,14); “Mas tu, Belém..., de ti sairá para mim Aquele que será Dominador em Israel... Por isso ele os abandonará até o tempo em que a Parturiente dará à luz (Mq 5,1s). O centro de nossa salvação e de nossa esperança é e sempre foi o Messias, o Cristo-Salvador. Mas, no desígnio do Senhor Deus, aparece no centro, que é Cristo, a figura dessa Mulher, ao mesmo tempo Virgem e Parturiente. Ela não é o Centro, mas está no Centro, porque está no Cristo, em função dele e de sua missão salvadora.

É assim que Nossa Senhora aparece no Evangelho. Escolhida em Cristo antes da fundação do mundo (cf. Ef 1,4s), ela foi por Deus preservada da contaminação do pecado que marca a nossa raça. Por isso o anjo, ao dirigir-se a ela, deu-lhe o nome com o qual Deus a conhece desde toda a eternidade: Toda-agraciada: “Alegra-te, ó Toda-Agraciada, ó Toda-inundada-pela-Graça” ( Lc 1,27). É assim que Gabriel a chamou, é este o nome da Virgem porque é isto que Deus fez nela: unicamente pela graça da paixão, morte e ressurreição do Senhor Jesus, a Virgem foi, por antecipação, libertada de todo o pecado. Como diz a fé da Igreja: “Puríssima, na verdade, devia ser a Virgem que nos daria o Salvador, o Cordeiro sem mancha, que tira os nossos pecados”. Como diz ela própria, cheia de júbilo: “O Todo-Poderoso fez grandes coisas em mim!” (Lc 1,49). Foi assim que a Virgem concebeu e deu à luz o nosso Salvador, o Cristo-Deus. Mas, no plano do Pai, esta maternidade da Virgem – sempre Virgem: Virgem concebeu e Virgem deu à luz (cf. Is 7,14) – não deveria ficar somente no pleno biológico, mas também estender-se ao plano da graça. Por isso, Jesus foi educando-a sua Mãe (cf. Lc ......................) para que passasse, pouco a pouco, da maternidade segundo a carne para a maternidade segundo o Espírito de Deus: “O que nasce da carne é carne; o que nasce do Espírito é espírito” (Jo 3,6). Foi um processo doloroso. Por isso mesmo, o Concílio Vaticano II diz que ela “peregrinou no caminho da fé” (LG 58). Já provada nesse caminho, ela, que sempre esteve unida ao seu Filho, apareceu pobre, madura e fidelíssima ao pé da cruz: “Conservou fielmente a união com seu Filho até a cruz, junto da qual, por desígnio de Deus, se manteve de pé (cf. Jo 19,25); sofreu profundamente com o seu Unigênito e associou-se de coração maternal ao seu sacrifício, consentindo amorosamente na imolação da vítima que ela havia gerado...” (LG 58). Vale a pena aprofundar um pouco o sentido da presença de Maria ao pé da cruz. Aqui, não se trata de uma simples cena doméstica, de intimidade familiar. Os personagens são: o Cristo, a Mulher e o Discípulo Amado. A Mulher é a Virgem, aquela do Gênesis, da inimizade com a serpente, cuja Descendência esmagará a cabeçada serpente; o Discípulo Amado é cada cristão, cada discípulo pelo qual Jesus deu a vida, é a própria Igreja, comunidade dos discípulos amados. Pois bem, de modo surpreendente, o Cristo entrega seus discípulos e cada discípulo aos cuidados da Mulher: “Mulher, eis o teu filho” (Jo 19,26). Ela deverá cuidar maternalmente de cada discípulo de Jesus. Ela, que segundo a carne, dera à luz o Cristo, Cabeça da Igreja, agora vai dar à luz segundo o Espírito que Jesus vai entregar na cruz (cf. Jo 19,30), ao Corpo, que é a Igreja. Depois, Jesus volta-se para o Discípulo – cada discípulo – e confia: “’Eis a tua Mãe!’ E a partir dessa hora, o discípulo a recebeu em sua casa” (Jo 19,27). É impressionante: Jesus não somente nos dá por filhos à sua Mãe, mas também dá a cada discípulo seu a graça de tomar a Virgem por Mãe e levá-la para a casa de sua vida. É muito significativo o modo como o Evangelho se exprime: “A partir dessa hora...” que hora? A hora da Páscoa, a hora de Jesus: “Pai, chegou a hora...” (Jo 17,1) A Virgem como Mãe da Igreja e Mãe de cada discípulo amado por Jesus é um dos frutos da Hora, da Páscoa de Cristo! Somente porque Jesus morreu e ressuscitou por nós, somente porque nos deu o seu Espírito, aquele Espírito que, ao inclinar a cabeça, entregou na cruz (cf. Jo 19,27), é que nós temos a graça e a honra de levar para nossa casa, a casa de nossa vida, a Virgem-Mãe de Jesus como nossa Mãe.

É esta mesma Virgem-Mãe que aparece em oração com a Igreja nos Atos dos Apóstolos (cf. At 1,14) , simbolicamente, aparece como a Mulher plenamente gloriosa no céu, mas em dores de parto, envolvida no combate à antiga serpente do Gênesis. Esta Mulher é ao mesmo tempo a Virgem Maria e a Virgem Igreja, pois uma é imagem da outra, como já ensinavam os antigos doutores da Igreja.

Assim sendo, “a Mãe de Deus é a figura da Igreja na ordem da fé, da caridade e da perfeita união com Cristo. De fato, no mistério da Igreja, a qual também se chama com razão virgem e mãe, o primeiro lugar pertence à bem-aventurada Virgem Maria, por ser, de modo eminente e singular, exemplo de virgem e mãe” (LG 63). Por tudo isso, a Igreja volta-se para a Virgem Maria como seu exemplo, seu modelo, sua Mãe de fiel intercessora e a ela se confia.

É este o sentido da Festa de hoje em nossa Cidade e em toda a Arquidiocese de Maceió. Nossos antepassados confiaram esta Cidade e toda a Igreja de Cristo que aqui peregrina à proteção materna da Virgem Maria. Que ela interceda e vele por nós.

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