Há pianistas que treinam anos e anos para começar seus recitais como profissionais. E continuam treinando três, quatro horas por dia, a fim de atingir a perfeição artística. Quem os vê tocar pensa que é fácil. É fácil porque, embora difícil, houve perseverança...


Os esportistas treinam dias e horas a fio para atingirem sua meta. E se privam de muitos prazeres a que teriam direito, porque querem acertar na sua profissão. Não há vocação fácil. E isto qualquer pessoa pode confirmar.


Quero dar-lhe mais um conselho, se é que já não se cansou deles. Nunca julgue uma vocação ou uma profissão pelas aparências. Todas elas trazem aborrecimentos e problemas; todas exigem renúncia, todas têm seus cinco minutos de inferno. Mas também é verdade que todas têm seu céu e suas alegrias. O parto doloroso da mulher que se torna mãe; as renúncias diárias de marido e mulher, de pai e mãe; de filhos, de namorados, de estudantes; de professores; as renúncias naturais da profissão; tudo isso tem sentido quando se vê uma vocação pela ótica do que realiza e não apenas do que exige de sofrimento.


Um dos quadros mais bonitos que já vi é o daquele menino que carrega o outro às costas em plena borrasca. Tem um sorriso nos lábios, embora se veja que está cansado. Embaixo os dizeres: "Não é pesado, é meu irmão...". Na vida somos como Cirineu. Ajudamos Jesus carregar a cruz na pessoa do outro. Às vezes o fazemos de bom grado como aquele menino, para quem o amor fazia o irmão não parecer pesado, ou entramos de gaiatos nos acontecimentos, espectadores indiferentes ou curiosos que, de repente, se sentem obrigados a tomar partido e descobrem no trajeto que estão fazendo uma obra agradável. Se Cirineu se converteu não sei, mas as coisas devem ter mudado para ele. Sabemos, por narrações posteriores, que dois de seus filhos eram cristãos (Mc. 15,21). Chamavam-se Alexandre e Rufo.


Há vocações que perseguimos até encontrarmos. Há outras que nos levam de roldão e acabamos por assumi-las, como foi o caso do Cirineu. Assumimos porque são a resposta às nossas indagações. Um médico me dizia que sempre sonhou em ser aviador. Entrou para a aeronáutica cheio de ideal de voar. Lá não se sabe até hoje porque, acharam que tinha jeito para a enfermaria. Ele que sempre quis voar foi destacado, por um longo período para ajudar o médico da base. Nem enfermeiro era. Acabou aconselhado a fazer o curso de enfermagem, porque tinha jeito para a coisa. Os fatos foram acontecendo e ele esqueceu sua vontade de voar, que vinha desde os seis anos. Em três anos ingressava num curso de medicina e seis anos depois era médico, já fora da aeronáutica. Descobriu que tinha mais a dar e receber numa clínica.

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