A objeção contra a afirmação da Igreja católica sobre o desenvolvimento doutrinal é mais ou menos assim:


“A afirmação católica que a doutrina se desenvolveu com o passar do tempo é contraditória porque a Igreja católica também afirma que sua doutrina é idêntica a qual os Apóstolos possuíram".


O católico mostraria que a objeção exibe uma falsa dicotomia - uma falácia que um cristão pode encontrar ao dialogar, por exemplo, com os arianos (i.e. “Deus é três ou Deus é um, os cristãos acreditam em ambos, mas ambos não podem ser ao mesmo tempo certos”). Talvez um trinitário usaria o termo "categorização", já que Deus não está na mesma categoria como Deus é três: Deus é um está na categoria da natureza e três está na categoria de pessoa.



É claro que, como os cristãos acreditam na Trindade, os cristãos que objetam ao desenvolvimento doutrinal não diriam que eles sendo contraditórios afirmando que Deus é um ser em três pessoas, apesar de afirmações arianas ao contrário. Os trinitarianos veriam as distinções como válidas, assim como os católicos. Isto nos traz para a objeção ao desenvolvimento dogmático.



Há duas categorias distintas no desenvolvimento doutrinal: a propriedade objetiva do que é a doutrina e a compreensão subjetiva desta propriedade objetiva.



Os católicos diriam que a revelação dada à Igreja séc. I é objetivamente a mesmo revelação exata que a Igreja católica no séc. XXI guarda e professa em uma certa categoria. Isto significa que os conceitos por trás das declarações dogmáticas que surgem depois do período apostólico eram materialmente e não formalmente possuídos pelos Apóstolos.



Em outras palavras, por exemplo, os termos e sentenças dogmáticas que descrevem a consubstanciação de Cristo com o Pai como "homoousious" não foram explicitamente definidos ou até mesmo usados pelos apóstolos, mas o conceito por trás dos termos foi “de uma vez por todas" dado aos apóstolos, mesmo que não fosse possuído conscientemente por eles no formato dogmático que Nicéia professou.



Assim, o desenvolvimento acontece em nosso reconhecimento explícito de um certo ponto da revelação que sempre é o que é objetivamente, seja no séc. I ou no séc. XXI, seja se compreendemos subjetivamente um conteúdo desta revelação.



Uma analogia imperfeita é a do Oceano Pacífico. Esta civilização possuiu o conceito de "Oceano Pacífico” por gerações. Ainda assim, nosso conhecimento do Oceano Pacífico tem aumentado profundamente (desculpem o trocadilho) mesmo desde que nós descobrimos que o Oceano Pacífico existiu. O conhecimento gradual do que é o Oceano Pacífico não é modificado em um sentido significativo ao conceito do Oceano Pacífico que tínhamos desde o começo. Porém, nosso conhecimento subjetivo do Oceano Pacífico sofre algum tipo de crescimento. Nossa percepção do Oceano Pacífico não crescerá de um modo em que um dia que nós recusaremos chamá-lo de "Oceano Pacífico” e ao invés, o chamaremos de "um coelho".



Se nós ligarmos esta analogia com o conceito católico de desenvolvimento dogmático, podemos ver como a revelação objetivamente é o que é: foi dada “de uma vez por todas" e é inalterável. Apesar disto, meditando na Palavra de Deus, que compreendemos conscientemente, vimos perceber certas facetas deste diamante da revelação que antes nós não notamos explicitamente. Este crescimento em conhecimento não adiciona a revelação no sentido objetivo, mas demonstra que nossa compreensão desta revelação desenvolve subjetivamente.



O apologista protestante James White concorda com os católicos neste ponto:



"Concordamos com Roma que a doutrina se desenvolveu" (Roman Catholic Controversy, página 83).



Apesar deste acordo, ele tem algumas reservas: “Mas discordamos fortemente de como ela se desenvolveu” (ibid., ênfase dele). Suponho que White concorda que a revelação que ele recebeu é a mesma revelação exata que os apóstolos nos deixaram no sentido objetivo. Mesmo assim, ele aceitaria que “há um entendimento crescente da Palavra de Deus” (ibid.).



Se aqueles que se opõem ao catolicismo podem concordar com White e a Igreja católica que ocorre o desenvolvimento doutrinário, então a controvérsia pode ser também localizada no método, conteúdo e limites do desenvolvimento.


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Por nós e nossa salvação,

Jesus Cristo sofreu, morreu, e ressuscitou
Para que crêssemos, nos arrependêssemos e sejamos perdoados de nossos pecados.

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