Todas as aparições de Jesus ressuscitado terminam com uma missão apostólica. À Madalena, diz o Senhor: "Não me retenhas... mas vai ter com meus irmãos e dize-lhes que vou para meu Pai e vosso Pai" (Jo 20,17); às outras mulheres: "Ide dizer aos meus irmãos que vão à Galiléia, e lá me verão" (Mt 28,10). Os discípulos de Emaús, embora não tenham recebido ordens deste gênero, apenas Jesus desaparece, sentem-se impelidos a retomar o caminho de Jerusalém para referir aos onze "o acontecido" (Lc 24,35). Segundo Marcos, que refere em síntese estas aparições, tais mensagens foram acolhidas com desconfiança: os discípulos "não queriam crer" (16,11.13). Também Lucas, acerca das informações das mulheres, diz que "suas palavras pareceram-lhes desvario e não lhes deram crédito" (ibidem,11).

É justamente a esta resistência em crer que Marcos se refere no seu pequeno relato da aparição de Jesus aos onze: "e repreendeu-os por sua incredulidade e dureza de coração, por não terem dado crédito aos que o viram ressuscitado" (16,14). É a mesma repreensão dirigida aos discípulos de Emaús: "Ó estultos e lentos de coração em crer!" (Lc 24,25). A repreensão do Senhor, justificada pelo fato de que Ele mesmo predissera várias vezes aos seus o que iria acontecer, é ulterior confirmação de que a fé na Ressurreição, professada pelos Apóstolos, não nasceu em momento de exaltação religiosa, mas se baseia em experiências pessoais, porquanto cada um deles pode dizer-se testemunha ocular.

Só depois de ter assegurado a firmeza de sua fé, Jesus dá aos discípulos a grande missão: "Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura" (Mc 16,15). Agora que receberam do Ressuscitado todas as provas da realidade de sua ressurreição, devem ir anunciar o Evangelho a todos os homens. Com a ressurreição, de fato, "a boa nova" da salvação universal de Deus, por meio de Cristo, está enfim consumada e deve ser divulgada em todo o mundo, para que se torne história de cada homem.

"Ide e pregai". A missão implantada no coração dos Apóstolos pelo Senhor ressuscitado e fecundada pelo poder vivificador do Espírito Santo no dia de Pentecostes tornou-se decisão irrevogável de sacrificar a vida na pregação do Evangelho.

"Vendo a fraqueza de Pedro e de João" ao testemunharem a ressurreição de Jesus e ao atribuírem ao poder do ressuscitado a cura milagrosa do coxo, os chefes do povo e os sumo sacerdotes os proíbem "de falar ou ensinar em nome de Jesus". Mas os dois, com santa audácia, replicam: "não podemos calar o que vimos e ouvimos" (At 4,13-20). Como calar a verdade de que tinham sido testemunhas? Tinham-na ouvido dos lábios de Jesus, Filho de Deus, nos anos de convivência com Ele, viram-na confirmada por numerosos milagres e pela suprema prova: a ressurreição. Impossível negar pelo silêncio o que viram e suas mãos tocaram. Como Pedro e João, assim os outros Apóstolos iniciam a pregação que, em pouco tempo, se expandirá para além da Palestina, alcançando a Ásia Menor, a Grécia, a Itália e conquistando para Cristo homens de todas as culturas, classes, raças.

Do mistério pascal de Jesus nasce a Igreja, e nasce com força apostólica destinada a transformar o mundo. É o fermento de vida nova, vida divina que emana do Senhor ressuscitado e quer penetrar toda a massa da sociedade humana para transformá-la em sociedade cristã, viva da própria vida de Cristo. Cada fiel está empenhado nesta empresa, é dever proveniente do batismo, do dom da fé recebido gratuitamente de Deus e que não pode reduzir-se a privilégio pessoal, mas ser compartilhado com os irmãos. O fiel cristão propagará a fé e pregará o Evangelho na medida em que levar em si, em todos os momentos da vida, os sinais de Cristo ressuscitado! Todos os que o encontram e tratam com ele deveriam poder dizer: "Vi o Senhor!" (Jo 20,18).

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