Alguns elementos da Espiritualidade Franciscana
a serem cultivados na Catequese.

A espiritualidade cultivada por São Francisco e Santa Clara de Assis e aprofundada por uma série de santos e santas da grande Família Franciscana apresenta elementos vitais para a vida cristã, a serem cultivados desde a catequese em preparação para os sacramentos da iniciação cristã. Vejamos alguns deles:

1.Pobreza
O grande desejo de São Francisco e de Santa Clara de Assis era seguir o Cristo pobre, humilde e crucificado. Em muitos de seus escritos se fazem presentes estes três adjetivos referentes a Jesus Cristo. A pobreza, no modo de pensar e de viver de São Francisco, era a melhor forma de conformar a própria vida à de Cristo, considerando que ele nasceu, viveu e morreu pobremente, tendo como sua única riqueza o Pai. São Francisco meditava com alegria a pobreza do nascimento do Menino Jesus (daí a sua predileção pelo Natal), a sua vida pobre em Nazaré com José e Maria, a sua paixão e morte como sinais de total pobreza, com confiança apenas no Pai. Jesus esvaziou-se, aniquilou-se, fez servo obediente e humilde, e assim conseguiu a glória (cf. Fil 2,6-11). Francisco queria ser desapegado de tudo e de todos para ser plenamente pobre e livre para Deus.
É importante e vital cultivar nos catequizandos o desapego a tudo que aprisiona e escraviza na vida diária: manias, egoísmo, vaidade, auto-suficiência, prepotência, modismos, individualismo... Ser pobre é condição para participar do céu. A nossa única riqueza é Deus, fonte de todo bem e garantia de nossa paz!

2.Minoridade
São Francisco quis ser menor, deu à Ordem iniciada por ele o nome de Ordem dos Frades Menores. Deus se fez Menor, fez-se nosso Irmão. Na minoridade de Deus, está a fonte e o sentido de toda busca de perfeição.
Num mundo onde a concorrência pelos melhores lugares é a situação de cada dia, o cristão precisa ser menor, acreditando e mostrando que Deus é que nos dá o exemplo máximo de minoridade. Se quisermos seguir-lhe o exemplo, precisamos evitar tudo que alimenta em nós a sede de grandeza e de superioridade.
É preciso evitar, na Catequese, qualquer tipo de atividade que alimente sentimentos de concorrência de uns sobre os outros. Pelo contrário, a mútua ajuda deve ser o exercício diário, cultivando nos catequizandos o serviço recíproco, a humildade em ensinar e em aprender, a simplicidade que nos aproxima de Jesus Cristo e nos faz mais humanos e mais irmãos.

3.Fraternidade
Deus se fez nosso Irmão. A fonte da vida em fraternidade está em Deus mesmo. Ele é nosso Pai, Ele é nosso Irmão em Jesus Cristo. Na vida fraterna está o ambiente e o espaço vital da vivência do mandamento maior, identidade de todo seguidor de Jesus Cristo: o Amor. É vivendo este Amor que continuamos a missão de Jesus Cristo: ser presença do Amor e da Misericórdia do Pai no mundo. Na Fraternidade encontramos, na pobreza e na simplicidade de cada um, a riqueza e a prodigalidade de Deus, que distribui seus dons a cada um para serem colocados a serviço do bem comum. Cultivamos a perfeição que Deus quer de nós quando buscamos tornar presente em nossa vida o bem que vemos e sentimos presente em cada um de nossos irmãos e irmãs. É esta lição que São Francisco nos ensina no capítulo 85 do Espelho da Perfeição.
São Francisco é o Irmão Universal, em sintonia com toda a obra da Criação, zeloso cultivador da Fraternidade Universal.
É de suma importância cultivar nos catequizandos este supra-sumo da vida cristã e franciscana: a fraternidade. O céu é presença da fraternidade perfeita. Quem quiser participar dele precisa cultivar o amor entre irmãos e irmãs. Do contrário, não estará crendo em Deus como Pai.

4.Paz e reconciliação
São Francisco é o Profeta da Paz. No episódio de Gúbio, Francisco se apresenta como o homem da paz e da reconciliação, pacificando a ira e afastando a discórdia do meio da humanidade (cf. I Fioretti, 21). Acreditando em Jesus como Aquele que vem trazer a Paz à terra e reconciliar a humanidade com Deus (cf. Carta a toda a Ordem, 13), São Francisco se faz instrumento desta Paz, cultivando a reconciliação entre todos. Assim agiu entre o prefeito e o bispo de Assis, anunciou a paz ao sultão, pregava a paz por onde passava com seus confrades em suas peregrinações e missões.
A paz é uma causa a ser assumida por todo seguidor de Jesus Cristo. É preciso cultivar na catequese este valor, indispensável na convivência humana. Precisamos todos ser instrumentos de paz e reconciliação na sociedade em que vivemos. Só isto pode garantir a sobrevivência da pessoa humana em sua dignidade e o cuidado da vida nas suas mais diversas manifestações.

5.Justiça
A justiça se apresenta como elemento básico na construção da paz. A Família Franciscana, no mundo inteiro, tem assumido a causa da justiça como elemento inerente à espiritualidade cultivada por São Francisco e Santa Clara. Suas vidas são um grito profético pedindo que a humanidade cultive valores que são indispensáveis para a convivência humana na construção da paz: a fraternidade, a minoridade, o respeito pela Criação, a prática da justiça nos relacionamentos humanos. É triste constatar que pessoas humanas se matam, se desrespeitam, se desconsideram, se odeiam... A falta de justiça desumaniza, arranca a dignidade da pessoa, fere a divindade de Deus presente em cada ser humano...
O cultivo da justiça na catequese deve passar por atividades que incentivem os catequizandos a observar mais e melhor a realidade ao seu redor e contribuir na busca de soluções para os grandes problemas que afetam a dignidade da pessoa humana (fome, desemprego, discriminações racial, social, política, religiosa e cultural, etc.). A prática da justiça deve ser exercitada nas mais simples situações do dia a dia, a começar dentro de nossas casas.

6.Integridade da Criação (Ecologia)
São Francisco é o Irmão Universal, que cultivou a Fraternidade Universal com fundamento em Deus mesmo, Criador e Pai de todos. Ferir a dignidade de qualquer uma das criaturas ou do menor dos seus filhos é ferir a Deus mesmo. O cuidado pela integridade da Criação não é uma questão baseada em interesses econômicos. É preciso cuidar da Criação porque Deus nos colocou como administradores dela, não donos, e somos interdependentes, estamos todos relacionados uns com os outros numa grande teia. É impossível ferir uma parte da Criação sem estar ferindo toda ela.
A catequese é espaço privilegiado de cultivo do amor pela Criação, através de aprendizagem de lições que a natureza nos dá para a nossa vida e convivência humanas.

7.Eucaristia
A primeira das Admoestações ou Exortações de São Francisco é dedicada à Eucaristia. Ao entrar numa igreja, São Francisco rezava: “Nós vos adoramos, Santíssimo Senhor Jesus Cristo, aqui e em todas as vossas igrejas que estão no mundo inteiro e vos bendizemos porque pela vossa santa cruz remistes o mundo”. Em São Francisco, a Eucaristia é o Natal acontecendo de novo, na simplicidade de Deus, em sua divina forma de cuidar da vida de seus filhos e filhas. Neste sacramento, Francisco e Clara encontraram sempre forças para vencer toda dificuldade.
É extremamente necessário cultivar nos catequizandos um amor entranhado à Eucaristia. É preciso cultivar esta comunhão com Deus e com os irmãos e irmãs. A Missa é prenúncio do céu, celebração da fraternidade, encontro sagrado com a Igreja-Comunidade, alimento indispensável do cristão peregrino neste mundo. O cristão/catequizando que não gosta de ir à Missa está, infelizmente, no lugar errado. Não se pode cultivar a comunhão se não se quer entrar em comunhão, e vice-versa. A fé que não é alimentada na Comunhão com Cristo e com a Comunidade de fé esmorece, desanima, fenece, morre. É na Eucaristia que podemos encontrar o alimento da Palavra e do Pão divinos, que nos fazem corajosos e audaciosos nas lutas do dia a dia de nossas vidas.

8.Devoção a Nossa Senhora
Maria ocupou lugar de destaque na vida e na obra de São Francisco e de Santa Clara de Assis. Francisco a constituiu Rainha e Advogada da Ordem dos Frades Menores; foi sempre filial admirador de sua simplicidade e pobreza e de sua dignidade como Mãe do Filho de Deus, mistério que contemplava extasiado diante do presépio. Francisco compôs belíssimas orações dirigidas a Nossa Senhora e mostrou-se sempre zeloso devoto de sua santidade e filho confiante em sua intercessão.
Considerando que a catequese é a educação da fé cristã em vista de um amadurecimento e da construção da autonomia na gestão do testemunho da fé, é indispensável cultivar nos catequizandos uma filial devoção a Nossa Senhora e Mãe Maria, como elemento constitutivo da vida cristã. Não será necessário dizer que o catequista e os pais devem dar testemunho desta devoção, no sagrado convívio do lar, na vida cotidiana e nos encontros semanais de catequese.

São estes alguns dos muitos elementos da espiritualidade franciscana que podem e precisam ser cultivados na catequese, nos seus diversos níveis, adaptando-os às realidades próprias de cada etapa. Todo cristão tem consigo um coração franciscano. Apenas é necessário alimentá-lo e incentivá-lo na prática do bem que está nele e da paz que ele pode ajudar a construir.

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