Sempre que ouvimos a palavra evangelho pensamos em Bíblia. Para nós hoje é muito comum associar a palavra Evangelho aos quatro evangelhos, que narram os ensinamentos de Jesus: Mateus, Marcos, Lucas e João. Porém, o significado etimológico dessa palavra vai muito além desses quatro livros.

Segundo o Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa de Antônio Geraldo da Cunha (Lexikon, 2007) a palavra evangelho vem do latim evangelium, que é derivado do grego euaggélion. Significa literalmente “bom (eu) anúncio (aggelô) ou boa notícia”.

Já no Antigo Testamento a palavra evangelho foi utilizada. Na tradução grega da LXX (Setenta ou Septuaginta é o nome da versão da Bíblia que foi traduzida do hebraico para o grego, no século II a.C., em Alexandria) o verbo evangelizar foi empregado: Como são belos sobre as montanhas os pés do mensageiro que anuncia (euaggelitsomenos) a felicidade, que traz as boas novas (euaggelitsomenos) e anuncia a libertação, que diz a Sião: Teu Deus reina! (Isaías 50,7).

No sentido empregado por Isaías, evangelho é uma notícia boa, plena de alegria e esperança. É uma boa notícia que traz a salvação por um caminho inesperado, por meio da ação do rei pagão Ciro, que foi um importante instrumento do plano de Deus. A boa notícia anunciada por Isaías é também libertadora, pois tem poder de mudar a situação histórica do povo sofredor.

A palavra evangelho também foi utilizada no mundo pagão. A ascensão do imperador ao trono ou a vitória numa batalha também era chamada de evangelho, de boa notícia. Por exemplo, num monumento do ano 9 a.C., o nascimento do imperador Augusto foi anunciado como “o começo da boa notícia (euaggelion) que foi trazido ao mundo”.

No Novo Testamento a palavra evangelho foi muito utilizada: cerca de 76 vezes. Destas, 60 vezes apenas nas cartas de Paulo. Nos evangelhos de Marcos e Mateus também podemos encontrar o verbo evangelizar: os cegos veem, os coxos andam, os leprosos são limpos, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam, o Evangelho é anunciado aos pobres... (Mt 11,5; Cf. Mc 8,35; 10,19; 13,10).

Foi no século II d.C. que evangelho passou a ser sinônimo de livro. São Justino (100-165 d.C.) foi o primeiro autor que chamou os quatro primeiros livros do Novo Testamento de evangelhos. Com o passar do tempo começou a ser utilizada a expressão “evangelho segundo...” para diferenciar cada um dos quatro livros.

Para nós hoje é importante saber que o evangelho não é uma biografia que conta fatos importantes da vida de Jesus. No sentido cristão da palavra, evangelho pode ser definido como a exposição da narrativa histórica da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus, prefaciada por um grande relato de seu ministério. A pessoa de Jesus é o próprio evangelho, pois ele é o centro da história da salvação. O evangelho é, portanto, a boa notícia da salvação.
Para saber mais:
• Aguirre Monasterio, Rafael. Evangelhos Sinóticos e Atos dos Apóstolos - Ave-Maria, 1994.
• Rivas, Luis Heriberto. O que é um evangelho? Introdução geral aos evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João - Ave-Maria, 2009.

Pe. Maciel M. Claro é sacerdote,

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