Por que Deus permite as catástrofes mais ou menos freqüêntes, as doenças, a morte, enfim? Como pode um pai deixar sofrer assim os seus filhos? Não tem Ele poder para impedir o mal? E se não Lhe falta poder, onde está a sua bondade, se não o impede?

Ensina São Tomás que Deus não permite o mal físico senão de um modo inteiramente acidental, como ocasião para os justos exercerem a virtude da constância, praticarem a caridade para com os menos favorecidos ou doentes, etc. Por outro lado, ele deseja alguns males físicos como pena devida ao pecado, como forma de restabelecer a justiça ultrajada pelas faltas voluntárias.

Com relação à morte, longe de ser o termo da vida, ela é a passagem para uma nova vida, onde a felicidade é completa, sem mesclar de sofrimento e onde se atinge o Sumo Bem, que é o próprio Deus.

Quanto ao mal moral ou pecado, Deus não pode querê-lo nem mesmo indiretamente; mas ele pode tirar, corno do mal físico, algum bem, como por exemplo, do pecado do perseguidor a manifestação d constância dos mártires.

A possibilidade do mal moral — ensinam os filósofos — é ao mesmo tempo a conseqüência de um grande bem, a liberdade; e a condição de um bem ainda maior, o mérito.

As criaturas racionais (os anjos e os homens), por serem dotados de inteligência, possuem o livre arbítrio, a liberdade de escolher entre bens possíveis. A capacidade de livre escolha decorre da natureza inteligente desses seres, do conhecimento que eles têm de várias ações, de seus fins últimos e dos meios para chegar a eles. A liberdade mesmo imperfeita, é a mais bela prerrogativa do ser racional; é pois digno da bondade divina tê-la concedido.

Deus não podia suprimir no anjo e no homem a possibilidade de fazerem o mal, a não ser recusando-lhes a liberdade ou dando-lhes liberdade incapaz de falhar; na primeira hipótese, eles ficariam rebaixados ao nível dos irracionais, o que seria indigno de criaturas espirituais; na segunda, eles se tornariam iguais a Deus, o que é um absurdo.

Deus quer que a criatura racional observe suas leis, não como o animal desprovido de razão, que age seguindo os meros instintos, mas moralmente e meritoriamente; ora, sem a possibilidade do mal moral, não haveria mérito na prática do bem, pois não há mérito senão se faz o bem podendo não fazê-lo.

Deus quis que os anjos e os homens fossem os agentes de sua própria felicidade ou se tornassem responsáveis pela própria desgraça, escolhendo por si mesmos se colaboravam ou não com a graça divina.

Quando os anjos pecaram e quando os homens pecam, fazem um uso desviado de sua liberdade; Deus, porém, não tolhe a liberdade de suas criaturas racionais em razão do seu uso desviado, porque é próprio a Ele criar e não destruir; seria contrariar-se a si mesmo fazer criaturas livres e depois tolher-lhes a liberdade quando a usam mal. Por outro lado, a existência de seres racionais não-livres é absurda.

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