O avanço das seitas não é uma problema

Muitos homens tem sede de Deus. Infelizmente, nos dias atuais, esta sede tem sido satisfeita de modo emocional, altamente dotada de crendice e misticismo vago.

Milhares de novos movimentos religiosos tem surgido nos últimos tempos. Infelizmente existem até aqueles que cultuam Satanás e espíritos maus, como se fossem amigos dos homens. E mais um dado curioso: este “avanço de seitas” não tem acontecido somente no cristianismo. Todas as grandes correntes religiosas têm passado por isso. No Japão o chintoísmo conta com 130 seitas clandestinas. O Islamismo tem dezenas de grupos dissidentes com contradições doutrinárias profundas. O extremismo tem ceifado centenas, até milhares de vidas. Em 2000, por exemplo, a Organização da Conferência Islâmica condenou os morticínios do Ramadã da Algéria dos seguintes termos: “A fé islâmica rejeita de modo absoluto tais atos malfazejos, que são proibidos por todas as religiões celestes.”

As seitas se caracterizam com a convicção de que o mundo está sob o Maligno e Deus deve agir drasticamente, pondo fim a época atual. Com isso, as seitas condenam os sistemas político, social e econômico vigentes e se julgam privilegiados, decididos a esperar ou acelerar uma nova era.

Afinal, como poderíamos enquadrar aquele ou este movimento religioso como seita? Em grau maior ou menor, segundo D. Estevão Bettencourt, as seitas teriam as seguintes características:

a) ruptura com a sociedade maior;

b) obediência total a um chefe “carismático” (costuma ter “dons sobrenaturais”...);

c) tendência ao segredo (a vida da seita é sigilosa, havendo vigilância interna entre os membros);

d) emoção e afetividade mais do que o raciocínio (o que se sente é o suficiente para dar validade);

e) proselitismo (os membros das seitas tendem a angariar novos adeptos, retirando-os do mundo, que estaria sob o poder do Maligno. Só qeu esta evangelização tende à agressividade, com doutrinas nem sempre muito honestas);

f) culto caloroso (cultos prolongados com cantos, transe, imposição das mãos, discursos inflamados);

g) esperança em uma drástica intervenção divina (Deus irá o mais brevemente possível destruir a era atual e a próxima será melhor, tendo na frente os membros daquela seita).

Conhecendo as características gerais destas seitas, podemos tentar entender as causas de seu surgimento. Em primeiro lugar estaria a angústia mundial atual com as situações econômica, política e social, que afeta principalmente os povos mais pobres. Em segundo lugar seria a falsa noção de que, para aderir a alguma religião, é necessário se desvincular da razão, e se entregar à emoção simplesmente. Acontece que a religião está no plano do intelecto humano. Deus deu razão ao homem para que ele possa utilizá-lo inclusive na busca pelo Transcendental. A fé não é um ato cego, mas fruto de suprema sabedoria. E em último lugar estaria a pobreza dos membros de certas seitas. Não há dinheiro para pagar o médico, o advogado, então recorre-se aos meios gratuitos das instituições religiosas (que na verdade sorrateiramente exploram seus adeptos).

Mas o que pode ser feito?

Antes de mais nada, aumentar a instrução religiosa. No caso do Cristianismo, por exemplo, quem estudar profundamente as Sagradas Escrituras, inclusive utilizando-se de bíblias adulteradas de certas seitas, entenderá os verdadeiros pilares do cristianismo (divindade de Jesus, comunhão dos santos, os sete sacramentos, fundação da Igreja) e não se deixará levar pela sedução das seitas. A acolhida fraterna também ajuda, pois é necessário que se fale também ao coração, dando testemunho de amor. Às vezes, é melhor um ato de caridade do que uma palestra cheia de detalhes. A pessoa que foi bem tratada até se indaga sobre tal bondade, em um mundo tão conturbado. O amor fraterno é inseparável da catequese e, juntamente com esta medida vem a coerente conduta de vida dos fiéis católicos: muitos dos ouvintes também se interessam com a conduta e sinceridade do arauto. Um bom testemunho de vida é um ótimo instrumento de evangelização. E, por fim, a alma religiosa de todo fiel católico não se exprime somente com conduta ética, mas com uma liturgia dignamente celebrada.

Devemos estar atentos e arregaçar às mangas para a formação, cada vez mais sólida, do Reino de Deus.

Paz e Bem!