Já foi comentado em artigos passados, que o homem é formado de corpo e alma. O corpo seria material, e a alma, espiritual.

Existe, entretanto, diferença entre alma e espírito?

Espírito é um ser dotado de inteligência e vontade, mas não tem corpo, nem forma, enfim, não pode ser medido materialmente, pois é transcendental, está além do mundo físico.

Existe o Espírito não criado, que é o próprio Deus. E os criados: uns para existirem sem corpos (anjos, bons ou maus) e outros, criados por Deus para se aperfeiçoarem com corpos (almas humanas).

Tais conceitos são importantes, pois se a alma humana é espiritual, transcende a matéria e, com isso, é imortal. Em um outro artigo, comentamos que o próprio Deus pode destruir uma alma, mas não o faz, pois seria um ato contraditório, implicando em erro e Deus é perfeito, não erra.

O ser humano é um todo psicossomático, onde corpo material e alma espiritual se complementam. Somente com o corpo a alma pode desenvolver suas potencialidades. Com isto, a doutrina cristã abomina as teorias do dualismo e do monismo. A primeira dita que os dois princípios -alma e corpo- são opostos entre si por sua própria natureza e a segunda defende uma só realidade com várias facetas.

A Bíblia, através de Mt 10,28, aprova a idéia da dualidade – a de que alma e corpo são dois princípios diferentes, mas não opostos entre si, como no dualismo e sim, complementares.

“Não temais aqueles que matam o corpo, mas não podem matar a alma; temei antes aquele que pode precipitar a alma e o corpo na geena.” (Mt 10,28)

Em 1 Ts 5,23, São Paulo parece se opor a Mt 10,28, quando diz que o ser humano é composto de alma, espírito e corpo. Sabemos, contudo, que São Paulo não tinha intenção de ensinar antropologia teológica, mas usou uma das maneiras de falar de seu tempo. A palavra “espírito” (pneuma) nos escritos paulinos tem vários sentidos, podendo designar o próprio Espírito Santo ou a vida da graça no cristão. Veja Rm 5,5 e 1 Cor 2,14s:

“23. O Deus da paz vos conceda santidade perfeita. Que todo o vosso ser, espírito, alma e corpo, seja conservado irrepreensível para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo! “(1 Ts 5,23)

“5. E a esperança não engana. Porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado.” (Rm 5,5)

“14. Mas o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, pois para ele são loucuras. Nem as pode compreender, porque é pelo Espírito que se devem ponderar.
15. O homem espiritual, ao contrário, julga todas as coisas e não é julgado por ninguém.
16. Por que quem conheceu o pensamento do Senhor, se abalançará a instruí-lo (Is 40,13)? Nós, porém, temos o pensamento de Cristo.” (1 Cor 2,14s)

Após a morte, o ser humano estará fora do tempo “material”. Ele não irá assistir imediatamente o fim do mundo. O regime de eternidade (ausência de passado e futuro) só a Deus pertence. A medida do tempo espiritual – se é que podemos dizer assim – é medida pelo EVO ou por uma sucessão de atos psicológicos.

Reproduziremos, a título de complemento, uma Declaração da Congregação da Doutrina da Fé sobre o tema abordado, de 17/5/1979:

“Esta Sagrada Congregação, que tem a responsabilidade de promover e de defender a doutrina da fé, propõe-se hoje recordar aquilo que a Igreja ensina, em nome de Cristo, especialmente quanto ao que sobrevém entre a morte do cristão e a ressurreição universal:

1) A Igreja crê numa ressurreição dos mortos (cf. Símbolo dos Apóstolos).

2) A Igreja entende esta ressurreição referida ao homem todo; esta, para os eleitos, não é outra coisa senão a extensão, aos homens, da própria Ressurreição de Cristo.

3)A Igreja afirma a sobrevivência e a subsistência, depois da morte, de um elemento espiritual, dotado de consciência e de vontade, de tal modo que o “eu humano” subsista, embora entrementes careça do complemento do seu corpo. Para designar esse elemento, a Igreja emprega a palavra “alma”, consagrada pelo uso que dela fazem a Sagrada Escritura e a Tradição. Sem ignorar que este termo é tomado na Bíblia em diversos significados, Ela julga, não obstante, que não existe qualquer razão séria para a rejeitar e considera mesmo ser absolutamente indispensável um instrumento verbal para sustentar a fé dos cristãos.

4) A Igreja exclui todas as formas de pensamento e de expressão que, se adotados, tornariam absurdos ou ininteligíveis a sua oração, os seus ritos fúnebres e o seu culto dos mortos, realidades que, na sua substância, constituem lugares teológicos.

5) A Igreja, em conformidade com a Sagrada Escritura, espera “a gloriosa manifestação de nosso Senhor Jesus Cristo” (cf. Constituição “Dei Verbum” l, 4), que Ela considera como distinta e diferida em relação àquela própria do homem imediatamente depois da morte.

6) A Igreja, ao expor a sua doutrina sobre a sorte do homem após a morte, exclui qualquer explicação que tirasse o sentido à Assunção de Nossa Senhora naquilo que ela tem de único; ou seja, o fato de ser a glorificação corporal da Virgem Santíssima uma antecipação da glorificação que está destinada a todos os outros eleitos.

7) A Igreja, em adesão fiel ao Novo Testamento e à Tradição acredita na felicidade dos justos que “estarão um dia com Cristo”. Ao mesmo tempo Ela crê numa pena que há de castigar para sempre o pecador que for privado da visão de Deus, e ainda na repercussão desta pena em todo o ser do mesmo pecador. E, por fim, Ela crê existir para os eleitos uma eventual purificação prévia à visão de Deus, a qual no entanto é absolutamente diversa da pena dos condenados. É isto que a Igreja entende quando Ela fala de inferno e de purgatório”.

Paz e Bem!

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