O dom do repouso no Espírito
O dom do repouso no Espírito é o carisma pelo qual Deus cede que nosso espírito repouse no Espírito Santo.

Como vimos, o homem é constituído de corpo, alma e espírito. Nosso corpo repousa quando nos sentamos, quando nos deitamos, quando dormimos etc. Diz o salmista: "Apenas me deito logo adormeço em paz, porque a segurança do meu repouso vem de vós, Senhor" (SI 4,9). O salmista está se referindo ao nosso repouso físico. O apóstolo João apoiou-se no peito de Jesus. "Um dos discípulos, a quem Jesus amava, estava à mesa reclinado ao peito de Jesus" (Jo 13,23). Verificamos que o corpo de João descansou sobre o corpo de Jesus.

Nossa alma também repousa, nos momentos de silêncio interior. Jesus nos diz: "Tomai meu jogo sobre vós e recebei minha doutrina, porque eu sou manso e humilde de coração, e achareis repouso para vossas almas" (Mt 11,29). Jesus nos dá repouso para nossas almas.

No livro do Gênese lemos que após a criação, no sétimo dia, Deus repousou. "Assim foram terminados o céu e a terra com todo o seu exército. No sétimo dia terminou Deus toda a obra que fizera e descansou" (Gn 2,1-2a). Ora, Deus é Espírito. Se Deus, que é Espírito, descansou, é porque o espírito pode repousar. Nosso espírito pode, pois, repousar. E assim como João repousou no peito de Jesus, todo nosso ser pode repousar no Espírito Santo.

Lemos nos Salmos: "O Senhor é meu pastor; não me falta coisa alguma! Em campinas verdejantes me coloca a repousar" (SI 22,1-2). Não sou eu que, por minha vontade, repouso no Espírito; é o Senhor que me faz n'Ele repousar.

Repousar no Espírito
São João da Cruz escreveu: "A alma dorme no peito do Amado, possui e goza todo o sossego, descanso e quietude de uma noite tranqüila. Recebe, ao mesmo tempo, em Deus, uma abissal e obscura compreensão divina. Por isso diz que seu Amado é, para ele, a noite sossegada" (Cântico Espiritual).

Diz-nos o salmista: "No dia de angústia procuro o Senhor, de noite minhas mãos se levantam para Ele sem descanso; e, contudo, minha alma recusa toda consolação. Faz-me gemer a lembrança de Deus, na minha meditação sinto o espírito desfalecer. Vós me conservais os olhos abertos, estou perturbado, falta-me a palavra" (SI 76,3-5).

O repouso no Espírito espontâneo acontece na vida das pessoas de profunda vida de oração, como Santa Teresa D'Ávila, Santa Gema Galgani, irmã Faustina e outras. Deus age diretamente sobre essas pessoas para que o seu espírito repouse no Espírito.

Nosso espírito pode repousar no Espírito como resposta de Deus a oração de um irmão. Lemos na segunda carta aos Coríntios: "Ele (Jesus) é quem nos tomou capazes de sermos ministros de uma nova aliança, não a da letra, mas a do Espírito" (2Cor 3,6a). Jesus, pois, nos constituiu para sermos ministros do Espírito. O ministro tem poder sobre os que estão às suas ordens. Se ele diz a outrem: "Trabalhe"', este deve trabalhar. Se diz: 'Repouse no Espírito", este irá repousar n'Ele.

O repouso no Espírito não pode ser confundido com sugestão, hipnose, transe etc. Sugestão e hipnose são influências de uma mente humana sobre outra. Quando efetuada por médicos bem orientados, podem ter boas conseqüências, mas são ações humanas. O transe ocorre por influência do maligno. Seus resultados são sempre dano­sos. É preciso usar-se o dom do discernimento dos espíritos, como vimos, para distinguir o que vem de Deus, o que vem de nós mesmos e o que vem do maligno.

O repouso no Espírito
O repouso pode durar apenas alguns minutos ou estender-se durante horas. É preciso uma entrega que permita ao Espírito continuar agindo em nós. Se o desejarmos, podemos interromper o repouso quando quisermos. Durante o repouso permanecemos conscientes, percebendo e sentindo tudo o que ocorre ao nosso redor.

Durante o tempo do repouso as faculdades mentais ficam desativadas e levam um certo tempo para retornar a si. Santa Teresa diz: "Dir-se-ia que a alma está não em si, mas elevada acima de si mesma, acima de todo o criado e até da parte superior de seu espírito, como que sobre o teto ou telhado de seu ser".

Às vezes correm lágrimas de felicidade, significando libertação. Deus diz a Santa Catarina de Sena: "Ao experimentar minha divindade, os olhos derramam lágrimas de suavidade. Como é feliz, filha querida, o homem que ultrapassou o mar proceloso do pecado e chegou ao oceano da paz, o homem que encheu seu coração com a minha divindade. Qual aqueduto, os olhos satisfarão o coração derramando lágrimas. Este é o último estado no qual o homem é ao mesmo tempo feliz e sofredor. Feliz por achar-se unido a mim, gozando do amor divino; sofredor ao ver que me ofende".

No repouso sente-se a necessidade de louvar a Deus. Diz Santa Teresa: "Quem receber do Senhor esta graça não se desconsole quando vir o corpo atado por muitas horas e, às vezes, o intelecto e a memória distraídos. Verdade é que o comum é estarem inebriados em louvores a Deus, ou procurando perceber e entender o que se passa". Diz ainda: "A alma percebe com clareza o grande proveito que traz cada um desses arrebatamentos".

Após o repouso sente-se a necessidade de ficar mais recolhido, devido ao toque divino. Esse "torpor" pode durar minutos, horas, dias, dependendo do estado de profunda oração que se experimentou.

“...assemelham-se a alguém que dormiu muito, sonhou e ainda não despertou inteiramente" (Santa Teresa).

Escreve-nos Santa Gema Galgani no seu livro A flor da paixão:
"Fiquei refletindo sobre o que isso poderia significar; sinto e percebo que deve ser alguma graça excepcional. Quando reflito sobre ela, desfaleço por Deus, mas nesse desfalecimento a mente está clara e repassada de luz. Quando estou unida a Ele, desfaleço de excesso de felicidade, mas a minha mente permanece clara e pura, sem nada que a perturbe. Rebaixada a Vossa Majestade para conviver com uma pobre criatura. Agradeço-vos, Senhor, por essa grande graça, que me torna capaz de conviver convosco. Jesus, vosso Nome é minha delícia, sinto de longe o meu amado, e a minha alma saudosa descansa no seu amplexo". Escreve ainda: "Muitas vezes, nos meus transportes de amor, faltavam-me as forças e exclamava: Ah, não posso resistir mais ao lembrar-me que Jesus se faz assim sentir a última de suas criaturas e lhe manifesta, em prodigiosa expansão de amor paternal, todos os esplendores do seu amabilíssimo coração"'. E, dizendo isso, caía desfalecida nos braços de sua companheira que, prevendo estes casos, sabia dispor as coisas de tal modo que ninguém na Igreja notava nada.

Irmã Faustina, cujo processo de beatificação se encontra em anda­mento, escreveu no seu diário: "Fiquei numa cela em longa ação de graças, deitada de bruços e derramando lágrimas de gratidão. Não podia levantar-me do chão, porque a cada vez que queria levantar-me, a luz divina dava-me um novo conhecimento de graça divina; somente na terceira vez pude levantar-me do chão. Ele mesmo me levantou até o seu coração".

Como abrir-se ao dom do repouso no Espírito
Pedir ao Senhor que nos faça repousar no seu Espírito. Ter vontade e disposição para receber o dom. Estar relaxado. Ser ministrado por pessoas que possuam o dom. Ter quem o ampare na "queda".

São Paulo nos diz: "De fato, se ficamos arrebatados fora dos sentidos é por Deus" (2Cor 5a).

Não pôr obstáculos à graça de Deus como incredulidade, intelectualismo, reservas, conservadorismo.

Benefícios causados pelo repouso no Espírito
Durante o repouso no Espírito ocorrem curas físicas, curas interiores e curas espirituais. Ocorrem libertações. Há grande crescimento espiritual por nossa maior intimidade com o Senhor. Todo nosso ser repousa no Espírito Santo e é iluminado por sua luz e transformado pelo fogo do seu amor.

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