Jornais e revistas por toda a América vêm espelhando um aumento palpável no interesse e na experiência em assuntos espirituais e religiosos. Há séries de TV tratando de intervenções angelicais, revistas semanais discutindo a crença em milagres, anjos e o sobrenatural; e uma série numa TV a cabo muito popular trata dos Mistérios da Bíblia. Torna-se óbvio que na sociedade mais bem sucedida, do ponto-de-vista material, na História do mundo, remanesce uma imensa fome espiritual que necessita ser satisfeita.

Desde os anos 60, vem-se notando um crescimento notável no número de aparições presumíveis da Bem-aventurada Virgem Maria, no mundo inteiro. Esse aumento precedeu em cerca de duas décadas o aumento recente do interesse público no sobrenatural e, nalguns casos, tem sido acompanhado por fenômenos extraordinários. Sob o ângulo privilegiado da distância no tempo, olhando retrospectivamente para muitas dessas aparições presumíveis, podemos hoje discernir um tema distinto, que parece emergir de todos esses eventos, o qual comunica ao mundo contemporâneo uma mensagem alta e clara: - a mensagem das aparições presumíveis de Nossa Senhora, em Fátima, em 1917.

Para situarmos esses eventos numa perspectiva correta, é necessário tomarmos distância da devoção ávida que algumas dessas aparições presumíveis geram, e dispormo-nos a examiná-las com a mesma cautela e do mesmo modo desapaixonado com que a religião organizada - particularmente a Igreja Católica - as avalia. Uma anedota a esse respeito ilustra esse processo.

São João da Cruz) foi um místico e santo homem que viveu no séc. XVI; tornou-se conhecido entre seus contemporâneos como homem sábio e confiável. Ele era, vez por outra, enviado por seu bispo para verificar ocorrências presumíveis de visões religiosas. E assim foi com uma mulher que afirmava ter visões do Espírito Santo. Nessas visões, ela presumidamente recebia todo tipo de revelações a respeito do futuro, de novas práticas religiosas e sobre o estado de alma de pessoas da região. Naturalmente, ela atraiu muita atenção. João foi enviado a ela, para averiguar os fatos. Chegando à cidade, João encontrou a mulher diante da casa dela. Ele perguntou-lhe: "É você a mulher a quem o Espírito Santo aparece?". Ela respondeu: "Sim, sou eu". Ele retrucou: "Deus a abençoe!" e retornou então ao seu mosteiro e concluiu para o bispo que a mulher encarnava ou uma fraude ou uma ilusão. O processo pelo qual a Igreja Católica avalia uma aparição presumível não é usualmente rápido - tipicamente, leva mais de 10 anos após o fim das aparições para chegar a uma conclusão final - e é indicativo de uma mentalidade generalizada na Igreja Católica, que é muito circunspeta quanto à aceitação de presumíveis visões sobrenaturais. De fato, o máximo a que chega a Igreja Católica é a uma "aprovação negativa" - certificando que nada relacionado a uma determinada aparição é contrário à fé ou à moral - e que, dessa forma, a aparição pode merecer crédito (a nível não de fé católica, mas de devoção privada).

Das muitas aparições de Maria que foram aceitas como autênticas, apreende-se uma série de características que lhes são comuns:

? O videntes usualmente não gostam das atenções focadas neles e sobre os fenômenos associados às aparições.
? Normalmente, os videntes são jovens, normais e sem nada que os distinga particularmente: nem especial formação, nem santidade ou espiritualidade prévia às aparições.
? Os videntes jamais esperavam que lhes ocorressem visões; estas se iniciaram completamente de surpresa.
? Os videntes são avisados por Nossa Senhora de que não serão felizes nesta vida.
? Os videntes relatam o conteúdo das suas visões de forma explícita e consistente. Eles jamais se contradizem, a despeito de quão mais tarde em suas vidas sejam interrogados a respeito de suas visões.
? As mensagens implicadas nas visões demandam oração, contrição e penitência.
? As aparições são acompanhadas ou imediatamente seguidas de fenômenos totalmente inexplicáveis.
? Curas espontâneas de doenças terminais são um exemplo típico dos fenômenos acima referidos.

Aparições que não se situam nesse padrão são ainda mais difíceis para as autoridades religiosas e científicas avaliarem e destarte seu processo leva ainda mais tempo. Mais ainda, na civilização ocidental pós-moderna a crença em eventos como aparições Marianas são encaradas como um retorno supersticioso a épocas menos iluminadas. Muito do que antigamente era considerado inexplicável pode agora ser explicado pela ciência, tornando-se assim o que é verdadeiramente miraculoso mais difícil de discernir e mais trabalhoso para documentar.

É necessária paciência na avaliação de revelações privadas, como as de Maria, pois existe grande possibilidade delas não passarem de projeções do próprio desejo do místico, ou pior. Um exemplo dessa abordagem demorada e cautelosa pode ser observado no comportamento posterior às aparições de Nossa Senhora a Santa Bernadete Soubirous, em Lourdes, em 1858. Apenas na Europa, contaram-se mais de 150 aparições Marianas presumíveis em seguida às aparições de Lourdes; NENHUMA destas foi jamais autenticada após a devida investigação e análise. A Igreja Católica, para proteger a si mesma e aos seus membros, avalia aparições privadas de forma muito cautelosa. As aparições privadas situam-se geralmente em quatro grupos:

? Questionáveis - toda aparição presumível é situada numa primeira instância nesta categoria. Nada se supõe estar ocorrendo antes que uma avaliação profunda e abrangente tenha sido levada a cabo.
? Falsas - após a avaliação competente, quase todas as aparições questionáveis são qualificadas como "alarmes falsos", ainda quando os videntes tenham sido considerados mentalmente saudáveis e sinceros quanto às suas afirmações e crenças.
? Fraudulentas - algumas aparições presumíveis provaram ser fraudes elaboradas por razões monetárias ou por indivíduos em busca de atenção e publicidade. Noutros casos foi detectado envolvimento satânico. O caso mais notório desta última classe foi o de Madalena da Cruz: ela podia levitar enquanto "orava", podia predizer o futuro e produzir curas. A despeito disso, ela confessou em seu leito de morte que havia se consagrado a Satanás desde a infância.
? Autênticas - umas poucas revelações selecionadas são consideradas autênticas, no sentido de implicarem intervenção sobrenatural e atuarem no fortalecimento e aprofundamento da fé dos que as seguem.

Aparições e locuções autênticas normalmente evoluem em quatro fases distintas:

? Após uma acurada avaliação por uma comissão constituída pela diocese local, o bispo emite um parecer de apoio ao evento, certificando que ele não envolve coisa alguma contrária à fé ou à moral, que parece ser inspirado sobrenaturalmente e que é passível de crença por parte dos fiéis.
? Após a aprovação do bispo, um extenso período é concedido à devoção privada dos fiéis, e observa-se se daí resulta um sensível aprofundamento da fé, um retorno à vida de auto-desprendimento e oração. Se a devoção se aprofunda e espalha, é possível acessar-se um novo estágio.
? Reconhecimento papal - o Papa atesta publicamente que está favoravelmente disposto em relação aos eventos e conteúdos da aparição. O último estágio é o reconhecimento litúrgico, pelo qual a celebração é inserida no calendário litúrgico oficial da Igreja (N.T. - sempre como memória facultativa, jamais como objeto de fé católica, no sentido de universal e obrigatória em ordem à salvação).

É para aqueles que não acreditam em aparições e milagres que o presente foi escrito. Pretende dar tão-somente uma visão geral - uma breve incursão pela miríade de relatórios, panfletos, livros e narrativas disponíveis a respeito dos fenômenos das aparições Marianas. Há no Menu uma relação de fontes onde se podem obter informações para um exame mais aprofundado das aparições Marianas, para os interessados. Há também uma discussão de fundamentos modernos para a crença, particularmente para o crédito científico, que tem por escopo abrir horizontes para uma realidade mais ampla que a tipicamente percebida pela maioria das pessoas "modernas". Fizemos o possível para evitar os jargões e a "latinidade" que normalmente permeiam as discussões de aparições Marianas. Ainda assim, alguns termos que são importantes ao entendimento da natureza desses eventos merecem explicação:

? Aparição - a manifestação mística de uma pessoa sobrenatural, que não pode ser vista senão pelos videntes (N.T. - por essa razão, esta categoria de manifestações místicas é preferencialmente chamada "visões"). Os videntes descrevem o sujeito da visão como um corpo real, tridimensional.
? Locução - palavras de origem sobrenatural, percebidas na mente do vidente como mensagens claras e distintas.
? Êxtase - um estado espiritual que causa no vidente a perda total de contato com a realidade circundante, tempo e local. Neste estado, o vidente não responde normalmente a qualquer estímulo físico, externo.
? Estigmas - manifestação visível, no corpo do vidente, dos ferimentos infligidos a Jesus em sua Paixão. Esses ferimentos sangram verdadeiramente, quase sempre às sextas-feiras, e causa dor considerável em quem os experiência.

Esses termos são empregados em muitos relatórios sobre aparições presumíveis. A comprovação médica do estado extático dos videntes pode contribuir para a determinação da realidade duma aparição. Os que não têm dificuldade em aceitar a realidade das aparições podem pular a seção intitulada "Serão as Aparições Realmente Possíveis?". O ponto crucial que emerge da avaliação das aparições de Maria é o conteúdo da mensagem. Estamos sendo conclamados a revisitar Fátima - tanto os eventos inexplicáveis que ali ocorreram como os portentos implicados na comunicação de Maria com três crianças dessa remota região de Portugal, cerca de oitenta anos atrás.

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