Nós já sabemos o que são os apócrifos. Aqui vamos resumir o apócrifo de onze capítulos conhecido como "Descida de Cristo aos Infernos". Trata-se da 2ª parte do Evangelho de Nicodemos, assim como o Atos dos Apóstolos é do Evangelho de Lucas.

Este apócrifo aprofunda o "desceu à mansão dos mortos" do Credo, esboçado em I Pe 3,18s. Data aproximadamente do século V.

O que é a mansão dos mortos, antes primitivamente chamada de "infernos" ? Na verdade, é o limbo dos patriarcas, o seio de Abraão bíblico, o lugar onde os justos ficavam enquanto Deus não recebia ninguém no "Céu", uma vez que o mesmo estava fechado, devido à mancha do pecado original. Este "céu" só "reabriria" com o sacrifício de Jesus na cruz. Antes, aqueles merecedores do "Céu" ficavam na chamada "mansão dos mortos".

Este apócrifo dramatiza a chegada de Cristo a este lugar, a vitória sobre Satanás, a libertação dos justos e a entrada no Paraíso reaberto.

Vejamos o resumo com alguns comentários:

- Abraão, Isaías e João Batista estão na morada dos mortos, pregando sobre Jesus Cristo, citando suas missões, e equivalendo-se fielmente as Escrituras Canônicas Sagradas.

- Surgem duas figuras simbólicas : o Inferno e Satanás. O autor aqui faz uma metáfora interessante. Apesar de ser a "mansão dos santos", ela não está dentro do Céu e, afinal, é conseqüência do pecado original, do erro humano, do domínio do mal. Por isso, a "morada" estaria sob o jugo dos anjos caídos, representados aqui por "Inferno" e "Satanás", que são quase expressões quase sinônimas. Eles discutem e "Inferno" reclama, dizendo:

"Há pouco, devorei um defunto chamado Lázaro. Pouco depois, um dos vivos, com uma só palavra, o arrancou, à viva força, de minhas entranhas. Penso que é este a quem te referes".

- Ou seja, Inferno notou o poder de ressuscitar os mortos de Jesus Cristo, chamado por ele de "um dos vivos".

- No capítulo 5 os patriarcas exclamam a chegada do Rei da Glória, que domina Satanás.

- No capítulo 8 Jesus manda Adão, os patriarcas, profetas, mártires e todos os justos para o paraíso, declarando: " Vinde comigo todos os que fostes feridos de morte pelo madeiro tocado por Adão. Eis que eu vos ressuscito a todos pelo madeiro da cruz".

- No capítulo 9, Henoc e Elias, que em Gn 5,24 e 2 Rs 2,11 foram arrebatados ao céu sem morrer, recebem os justos no paraíso. Este capítulo é bem discordante, pois ninguém teria direito ao céu antes do sacrifício na cruz. Entretanto, aqui Henoc e Elias dizem que serão enviados por Deus para enfrentar o Anticristo e ser mortos por ele. Só assim poderiam encontrar o Senhor. Ou seja, "encontrar o Senhor" é ter o direito ao Céu. Esse pensamento também está no apócrifo "História de José o Carpinteiro".(31,9)

- No capítulo 10 o Bom ladrão é encontrado, e no capítulo 11 os dois filhos de Simeão (Lc 2,25-35) afirmam que estas linhas são deles, de acontecimentos vistos e ouvidos por eles com a ajuda do arcanjo Miguel.

Trata-se de um apócrifo muito bonito, que nos mostra as maravilhas espirituais que podem ter acontecido nesta forma após o sacrifício do Filho de Deus na cruz.

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