Por Frei Pilato Pereira OFM.cap

O recente e triste episódio das chuvas catastróficas em Santa Catarina é um fato que antes de tudo deve despertar o sentimento de solidariedade. Como realmente vem ocorrendo em todo o Brasil. E, além disso, devemos ler estes sinais e nos despertarmos para ver e compreender o que os tempos chuvosos nos indicam. Quando encontramos uma pessoa chorando, primeiro nos solidarizamos e depois, tão logo, nos perguntamos sobre o motivo de suas lágrimas. O que a levou a chorar? Qual é o sofrimento e a dor que sua alma procura lavar com tais lágrimas? Enfim, os fatos e acontecimentos que, antes de mais nada nos despertam para a solidariedade, também nos levam a pensar, refletir e, quem sabe, aprender um pouco mais sobre a vida para poder ajudar a impedir um próximo sofrimento oriundo da mesma causa. Assim, queremos também entender a fúria da natureza que, sendo ela tão cheia de bondade e a fonte da vida, de repente se torna destruidora.

Não podemos negar que a pouca presença de mata também seja responsável pelos desmoronamentos. Mas, ao afirmar que foram excessos de chuvas nunca visto igual, também devemos nos perguntar sobre o porquê de tantas chuvas agora. Ouvimos o que foi dito por alguns cientistas que a alta quantidade de chuvas no litoral catarinense pode ter sido causada pela combinação de alguns fenômenos meteorológicos. Ocorreu uma maior intensidade dos ventos, aumentou a quantidade de vapor de água no continente e as nuvens ficaram mais carregadas. E como esses fenômenos são naturais e já ocorreram antes, não necessariamente tenham sido provocados pelo aquecimento global. Mas há quem vê o fenômeno das excessivas chuvas como uma real conseqüência já do aquecimento global.

Quanto ao desmatamento, não precisamos nem ser cientistas para entender facilmente que num declive sem floresta, a água da chuva corre muito mais rápido do que num local com floresta. E os cientistas dizem que a velocidade das águas num declive desmatado pode ser até quatro vezes maior. E quando a chuva cai numa área com mata, parte da água é absorvida pelo solo ou corre lentamente para o rio, sem causar maiores problemas para a vida humana. Quando era criança, vivendo no campo, percebia que numa terra sem vegetação e pronta para plantio, a chuva corria rapidamente e arrastava consigo muita lama, inclusive causando danos ao solo, diminuindo sua fertilidade.

Podemos concluir que se a Mata Atlântica não tivesse sido tão devastada em Santa Catarina, a região onde ocorreram as fortes chuvas não teria sido tão prejudicada pelas águas. De acordo com a SOS Mata Atlântica e o Inpe, Santa Catarina foi o Estado campeão de desmatamento da Mata Atlântica entre 2000 e 2005. E com a imensa devastação, principalmente na região das cabeceiras dos rios, a capacidade de absorção de água pelo solo ficou bastante reduzida. A equivocada intervenção humana faz com que a natureza não se agüente, não se suporte nas suas próprias intempéries.

Agora é preciso ser solidários com as pessoas que sofrem por causa das enchentes. E a forma de solidariedade com as vítimas de hoje é a assistência social imediata e a reconstrução do que perderam. Mas, também é preciso antecipar nossa solidariedade e sermos solidários com as possíveis futuras vítimas das catástrofes ambientais. Ser solidários com as futuras gerações e, quem sabe, impedir que sejam vítimas dos descontroles da natureza, significa ter atitudes ecológicas aqui e agora. A mobilização para socorrer as vítimas de hoje, também deve ser promovida, mesmo que de uma forma menos intensa, no sentido de impedir futuras catástrofes.

Depois de ver que em algumas partes "nada ficou no lugar", é preciso voltar para buscar nossa humanidade e nos sentirmos mais irmãos e mais próximos dos que hoje sofrem e de quem poderá sofrer se a natureza não for preservada. Vamos fazer uma aplicação de solidariedade para o futuro. Cuidar e preservar a natureza hoje, é impedir que amanhã haja vítimas de catástrofes ambientais, como esta que muito nos chocou e nos entristeceu por ver tantas vidas vitimadas.

(*) Frei Pilato Pereira, de Bagé, é membro da CPT e do Serviço de Justiça, Paz e Ecologia dos Freis Capuchinhos do Rio Grande do Sul

Fonte: www.olharecologico.blogspot.com

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