Os bispos iraquianos iniciaram hoje, 22, no Vaticano, a sua visita 'ad Limina'. Alguns prelados foram recebidos em audiência, esta manhã, pelo Papa Bento XVI. Trazem ao Santo Padre as esperanças e os sofrimentos de uma pequena comunidade eclesial duramente provada pelas consequências da guerra.

Antes de 2003, ano da invasão anglo-americana, os cristãos eram 800 mil numa população total de 27 milhões de habitantes; 95% dos quais muçulmanos. A emigração, consequência das difíceis condições de vida e das violências anticristãs – com assassinatos, sequestros, intimidações e ataque a Igrejas, reduziu pela metade a presença dos cristãos no País do Golfo.

O drama dos cristãos no Iraque é 'um drama no drama'. Além dos atentados e das violências que atingem diariamente toda a população, há a triste realidade de uma comunidade expulsa de suas casas com a força e a intimidação, quando não até mesmo com casos de morte, é obrigada a abandonar tudo e a fugir, sobretudo para a Síria e Jordânia, vivendo na indigência e somente graças às ajudas das organizações humanitárias, com a perspectiva sempre mais distante de retornar um dia à pátria ou de iniciar uma nova vida nos EUA, na Austrália ou na Europa.

Cristãos no Iraque

Uma situação dramática, num país que de há muito vive na tragédia: primeiro a ditadura, depois as guerras e a ocupação, o terrorismo e as disputas entre as várias facções pelo controle dos recursos e do território de um Estado que parece ainda ter que recomeçar do zero.

O medo dos cristãos é que o mundo esqueça o Iraque, como enfatizou, em entrevista a Rádio Vaticano, o Arcebispo caldeu de Kirkuk (norte do Iraque), Dom Luis Sako:

"Infelizmente, nos sentimos um pouco isolados, esquecidos. Os cristãos que deixaram o país e os outros, que ficaram, esperam, sem muita esperança no futuro. Vivem na preocupação por suas crianças, pelo futuro delas, preocupados com a casa deles, com o trabalho. Creio que caiba também ao Ocidente, às Igrejas, ajudar-nos. Somos uma pequena Igreja, estamos ali há dois mil anos e já tivemos problemas mais graves do que esse. Portanto, agora não se pode ir embora deixando o Iraque. A metade dos cristãos deixou o país e agora, talvez, seja preciso ajudar esses cristãos para que retornem", apontou.

Barack Obama

Segundo Dom Luis Sako, não se sabe ainda se Barack Obama é uma esperança para a paz na região. "A política não depende de uma só pessoa. Se ele decidir retirar os soldados será um problema. Talvez tenhamos uma guerra civil. Não temos soldados e policiais o suficiente para controlar um país de 25 milhões de habitantes", disse.

Ele recordou que a Igreja iraquiana carrega consigo "as feridas de tantos leigos e sacerdotes mártires assassinados pelo fanatismo e pela violência de grupos fundamentalistas locais", mas que "a esperança de quem foi obrigado a deixar o país e de quem permaneceu, ainda não acabou, apesar das enormes dificuldades".

Violência aos cristãos

Sobre esta violência aos cristãos, o bispo auxiliar caldeu de Bagdá, Dom Shlemon Warduni, disse os fiéis se sentem desmoralizados quando um sacerdote ou um bispo é assassinado.

"Queremos que haja paz e segurança, porque sem isso, os cristãos e os iraquianos de modo geral que deixaram o país, não terão nenhuma garantia. Nós esperamos que a paz e a segurança sejam um motivo para fazê-los retornar, porque onde se encontram, não estão bem", destacou.

Dom Warduni disse ainda que "a democracia não pode ser imposta no Iraque, mas deve ser ensinada: é necessária, portanto, uma educação à democracia." Trata-se de uma tarefa que cabe a quem hoje controla o país.

Paz no Iraque

Os dois prelados participaram ontem, quarta-feira, junto com o arcebispo sírio-caldeu de Bagdá, Dom Matti Matoka; e o arcebispo sírio-católico de Mossul, Dom Georges Casmoussa, da apresentação, na sede da Rádio Vaticano, do documentário "Iraque – SOS refugiados", realizado por Elisabetta Valgiusti: imagens e testemunhos emblemáticos de uma situação, por ora, sem saída.

No debate, na presença de uma platéia atenta, Dom Matoka exortou a comunidade internacional a contribuir a fim de que haja "uma população iraquiana que viva em paz". "Peguem o nosso petróleo, mas deixem o nosso país" – reiterou, por sua vez, Dom Warduni.

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