a Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, do Vaticano, publicou esta importante Nota Doutrinal chamando a atenção para os desvios na evangelização, muitas vezes em discordância com o que ensina o Magistério da Igreja, por causa do forte relativismo religioso e moral que hoje atinge a Igreja. Negar o Evangelho e o Batismo aos povos não cristãos seria a maior traição do missionário a Cristo. Hoje, como mostra a Nota, há um perigo enorme de se querer deixar os nativos viverem sua própria vida religiosa, eivada de erros, maus costumes e superstições; ao invés de pregar-lhes a conversão a Jesus Cristo. Esquece-se que “debaixo do sol não nos foi dado outro Nome onde exista salvação” (At 4, 12). Apresentamos aqui um resumo das principais preocupações da Igreja. A Nota pode ser lida na íntegra no site do Vaticano: www.vatican.va


“1. Enviado pelo Pai a anunciar o Evangelho (cf. Mc 1, 14), Jesus Cristo convida todos os homens à conversão e à fé (cf. Mc 1, 14-15), confiando aos Apóstolos, depois da sua ressurreição, a continuação da sua missão evangelizadora (cf. Mt 28, 19-20; Mc 16, 15; Lc 24, 4-7; At 1, 3): «como o Pai me enviou também Eu vos envio» (Jo 20, 21; cf. 17, 18). Na verdade, através da Igreja, Ele quer atingir cada época da história, cada lugar da terra e cada âmbito da sociedade, chegar a cada pessoa, para que haja um só rebanho e um só pastor (cf. Jo 10, 16): «Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda a criatura. Quem acreditar e for batizado será salvo, mas quem não acreditar será condenado» (Mc 16, 15-16). Com efeito, os Apóstolos, «movidos pelo Espírito, convidavam todos a mudar de vida, a converter-se e a receber o Batismo»[1], porque a «Igreja peregrinante é necessária à salvação»[2]”.



“2. «Toda a pessoa tem o direito de ouvir a ‘boa nova’ de Deus que se revela e se dá em Cristo, para realizar plenamente a sua própria vocação»[5]”.



“3. Todavia, hoje verifica-se uma crescente confusão que induz muitos a deixar inaudível e inoperante o mandato missionário do Senhor (cf. Mt 28, 19). Muitas vezes pensa-se que toda a tentativa de convencer os outros em questões religiosas seja um limite posto à liberdade. Seria lícito somente expor as próprias idéias e convidar as pessoas a agir segundo a consciência, sem favorecer uma conversão a Cristo e à fé católica. Diz-se que basta ajudar os homens a serem mais homens ou mais fiéis à própria religião, que basta construir comunidades capazes de trabalhar pela justiça, a liberdade, a paz, a solidariedade. Além disso, alguns defendem que não se deveria anunciar Cristo a quem O não conhece, nem favorecer a adesão à Igreja, pois seria possível ser salvos mesmo sem um conhecimento explícito de Cristo e sem uma incorporação formal à Igreja.”



“4. Nada como a procura do bem e da verdade põe em jogo a liberdade humana, solicitando-a a uma adesão tal que compromete os aspectos fundamentais da vida. De modo particular é o caso da verdade salvífica, que não é só objeto do pensamento, mas algo que afeta toda a pessoa – inteligência, vontade, sentimentos, atividades e projetos – quando essa adere a Cristo.

Todavia, hoje formulam-se, com maior frequência, interrogações sobre a legitimidade de propor aos outros aquilo que é verdadeiro para si. Muitas vezes, tal proposta é vista como um atentado à liberdade dos outros. Esta visão da liberdade humana, desvinculada da sua referência inseparável da verdade, é uma das expressões «daquele relativismo que, nada reconhecendo como definitivo, deixa sozinho, como última medida, o próprio eu com as suas decisões, e sob a aparência da liberdade torna-se para cada um uma prisão» [9]. Nas diversas formas de agnosticismo e relativismo presentes no pensamento contemporâneo, «a legítima pluralidade de posições cedeu o lugar a um pluralismo indefinido, fundado no pressuposto de que todas as posições são equivalentes: trata-se de um dos sintomas mais difusos, no contexto atual, de desconfiança na verdade. E esta ressalva vale também para certas concepções de vida originárias do Oriente: é que negam à verdade o seu caráter exclusivo, ao partirem do pressuposto de que ela se manifesta de modo igual em doutrinas diversas ou mesmo contraditórias entre si» [10]”.



“O acolhimento da Revelação, que se realiza na fé, apesar de acontecer a um nível mais profundo, entra na dinâmica da busca da verdade: «a Deus que revela é devida a «obediência da fé» (Rom 16,26; cfr. Rom 1,5; 2 Cor 10, 5-6); pela fé, o homem entrega-se total e livremente a Deus oferecendo “a Deus revelador o obséquio pleno da inteligência e da vontade” e prestando voluntário assentimento à sua revelação»[14]… Por isso, solicitar honestamente a inteligência e a liberdade de uma pessoa, no encontro com Cristo e o seu Evangelho, não é uma indevida intromissão nos seus confrontos, mas uma legítima oferta e um serviço que pode tornar mais fecundo as relações entre os homens”.





“7. Embora os não cristãos se possam salvar mediante a graça que Deus dá por “caminhos que só Ele sabe”[ 21], a Igreja não pode não ter conta do fato que a esses falta um grandíssimo bem neste mundo: conhecer o verdadeiro rosto de Deus e a amizade com Jesus Cristo, o Deus conosco. De fato, «não há nada mais belo do que ser alcançados, surpreendidos pelo Evangelho, por Cristo. Não há nada de mais belo do que conhecê-Lo e comunicar com os outros a Sua amizade»[22]. Para qualquer homem a revelação das verdades fundamentais[23] sobre Deus, sobre si mesmo e sobre o mundo são um grande bem; enquanto viver na obscuridade, sem a verdade acerca das questões últimas, é um mal, muitas vezes na origem de sofrimentos e de escravaturas dramáticas. Eis porque S. Paulo não hesita a descrever a conversão à fé cristã com uma libertação «do reino das trevas» e uma entrada «no reino do Filho predileto, no qual temos a redenção e remissão dos pecados» (Col 1, 13-14)… A Igreja quer tornar participantes destes bens todas as pessoas, para que tenham assim a plenitude da verdade e dos meios de salvação, «para entrar na liberdade dos filhos de Deus» (Rom 8, 21). O impulso originário da evangelização é o amor de Cristo pela salvação eterna dos homens. O espírito cristão foi sempre animado pela paixão de conduzir toda a humanidade a Cristo na Igreja. De fato, a incorporação de novos membros à Igreja não é a extensão de um grupo de poder, mas o ingresso na rede de amizade com Cristo, que liga o céu e a terra, continentes e épocas diversas. É a entrada no dom da comunhão com Cristo, que é «vida nova» animada pela caridade e pelo empenho pela justiça. A Igreja é instrumento - «gérmen e início»[27]- do Reino de Deus; não é uma utopia política. É já presença de Deus na história e traz em si também o verdadeiro futuro, aquele definitivo no qual Ele será «tudo em todos» (1 Cor 15, 28); uma presença necessária, pois só Deus pode trazer ao mundo verdadeira paz e justiça”.



“8. O Reino de Deus não é – como alguns hoje sustentam – uma realidade genérica que domina todas as experiências ou as tradições religiosas, e às quais deveriam tender como que a uma universal e indistinta comunhão todos aqueles que procuram Deus, mas é acima de tudo uma pessoa, que tem o rosto e o nome de Jesus de Nazaré, imagem do Deus invisível [28]. Por isso, qualquer apelo do coração humano para Deus e o seu Reino só pode conduzir, pela sua natureza, a Cristo e ser orientado à entrada na sua Igreja, que daquele Reino é sinal eficaz. A Igreja é, então, veículo da presença de Deus e instrumento de uma verdadeira humanização do homem e do mundo. O dilatar-se da Igreja na história, que constitui a finalidade da missão, é um serviço à presença de Deus mediante o seu Reino: de fato não se pode «desligar o Reino da Igreja» [29]”.



“10. Hoje, todavia, o anúncio missionário da Igreja é «posto em causa por teorias de índole relativista, que pretendem justificar o pluralismo religioso, não apenas de fato, mas também de iure (ou de princípio)»[30]. Há muito que se criou uma situação na qual, para muitos fiéis, não é clara a mesma razão de ser da evangelização [31]. Afirma-se mesmo que a pretensão de ter recebido em dom a plenitude da Revelação de Deus esconde uma atitude de intolerância e um perigo para a paz”.



“Compreende-se, então, a urgência do convite de Cristo para evangelizar e como a missão, confiada pelo Senhor aos apóstolos, se dirige a todos os batizados. As palavras de Jesus – «ide e ensinai todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-lhes a observar tudo o que vos mandei» (Mt 28, 19-20) – interpelam a todos na Igreja, cada um segundo a sua vocação”.



13. Os relativismos e irenismos de hoje em âmbito religioso não são um motivo válido para descurar este trabalhoso mas fascinante compromisso, que pertence à própria natureza da Igreja e é «sua tarefa primária» [54].



O Sumo Pontífice Bento XVI, na Audiência concedida ao Cardeal Prefeito, no dia 6 de Outubro de 2007, aprovou a presente Nota doutrinal, decidida na Sessão Ordinária desta Congregação, e ordenou a sua publicação.



Dado em Roma, na sede da Congregação para a Doutrina da Fé, a 3 de Dezembro de 2007, memória litúrgica de S. Francisco Xavier, Padroeiro das Missões.

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