O afastamento do primeiro casal de seu centro gravitacional trouxe, diretamente e até mesmo sem nenhuma intervenção, as conseqüências anteriormente descritas. Além delas, trouxe outras advindas de modificações ocorridas no equilíbrio da natureza do próprio Homem. Tratando-se de conseqüências de conseqüências podem ser denominadas de mediatas. No momento em que as descrevermos procuraremos demonstrar essa ocorrência, pois só são dedutíveis a partir das condições peculiares de cada narrativa, repletas dos fatos culturais do tempo em que foram escritas, reproduzin-do as mais das vezes costumes por demais desconhecidos de nossa época.

Após a expulsão do Paraíso, o narrador narra como que o início da propagação da espécie destacando no episódio de Caim e Abel os baixos instintos agora dominantes na natureza humana, usando para tal o mesmo gabarito cultural, o modo de narrar e a linguagem de seu tempo:

“Quando Deus criou o homem, fê-lo à imagem de Deus. ...Adão... gerou um filho à sua imagem e semelhança...” (Gn 5,1-3).


O hagiógrafo está dizendo na sua maneira culturalmente condicionada que o Filho de Adão não poderia mais totalmente “refletir” Deus, por estar contaminado em sua natureza, agora desfigurada pelo advindo desequilíbrio causado pelo desligamento de Deus. Ele não mais partilhava a presença de Deus, tal como no Éden e não mais trazia aquele equilíbrio original que o tornava “imagem e semelhança de Deus”. Era agora nada mais que “imagem e semelhança de Adão”, fruto do pecado, não mais aquela imagem perfeita que era anteriormente. Era a “imagem do homem decaído” que se transmitiria de ora em diante portadora de todos os efeitos do rompimento sobrenatural com Deus. Várias situações e acontecimentos vão se manifestar de então em diante. Não se trata de uma ordem cronológica de acontecimentos ocorridos, mas de uma ordem lógica, fruto da cultura religiosa de então.

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