Conscientes da importância que a Páscoa tinha para a sua vida, os cristãos desde os tempos apostólicos começaram a celebrá-la e bem cedo começaram também a reservar um tempo de preparação para a celebração do Mistério Pascal. Esse período de preparação, através de sucessivas ampliações, acabou por se fixar, no século IV, em quarenta dias, número muito rico de simbolismo.
Na verdade, na História da Salvação, os grandes acontecimentos e os encontros decisivos do homem com Deus estão ligados a esse número, que na Bíblia exprime também a totalidade da nossa vida. A Quaresma é, portanto, um período de quarenta dias de preparação para a Páscoa, «a maior das solenidades»(SC,12), pois atualiza o Acontecimento culminante da História da Salvação.

Era durante esse «tempo aceitável, tempo de salvação» que os adultos, que haviam encontrado Cristo e se vinham iniciando, ao longo de três ou quatro anos, no Mistério cristão, terminavam o seu catecumenato. Amparados por toda a comunidade, no início da Quaresma, começavam a sua «prova» e empreendiam uma preparação mais intensa em ordem à sua incorporação em Cristo, pelo Baptismo recebido na noite da Páscoa.


Por seu lado os cristãos, que haviam já ressuscitado, com Cristo, da morte do pecado para a vida do Espírito, esforçavam-se por fazer uma séria revisão da sua vida cristã, morrendo mais profundamente para o mal, consolidando a sua perfeição de baptizados, crescendo na vida divina, de modo a participarem, mais intensa e vivamente, no Mistério Pascal da Morte e Ressurreição do Senhor.


Deste modo, como diz a Constituição conciliar sobre a reforma da Liturgia nº 109, a Quaresma tem uma dimensão penitencial e uma dimensão baptismal. Na sua dimensão penitencial, a Quaresma é, para catecúmenos e baptizados, tempo de tomada de consciência dos seus pecados, tempo de busca de Deus, tempo de conversão, o que implica, necessariamente, participação na luta e sacrifício de Cristo, pois a guerra contra o mal e a renovação interior no pensar, no amar e no agir, não se realizam sem esforço.


Na sua dimensão baptismal, a Quaresma leva todos os baptizados a reviverem e a aprofundarem, acompanhando o dinamismo dos catecúmenos, todas as etapas do caminho da fé, a fim de, consciente e generosamente, renovarem a sua aliança com Deus, juntamente com aqueles que a recebem o Baptismo, na noite da Páscoa.


Nesta caminhada espiritual, que é a Quaresma :


* - Somos alimentados pela Palavra de Deus, a qual nos faz reviver as grandes etapas da História da Salvação e as figuras que as encarnam :


- Adão e Noé – criação, pecado e graça (1º Domingo ).
- Abraão – vocação e promessa (2º Domingo).
- Moisés – aliança e lei (3º Domingo).
- David – o reino messiânico (4º Domingo).
- Ezequiel e Jeremias – a esperança dos profetas (5º Domingo).
- Isaías – poema do Messias (Domingo de Ramos na Paixão).


* - Somos fortalecidos com os Sacramentos da Penitência e da Eucaristia, que nos ajudam :


- A viver a nossa opção, resistindo às tentações (1º Domingo).
- A realizar o trabalho da nossa transformação espiritual, com base na Transfiguração de Cristo (2º Domingo).
- A pôr-nos em contacto vital com Cristo, fonte de água via com a Samaritana e a expulsão dos Vendilhões (3º Domingo).
- A tornarmo-nos a luz do mundo com a cura do cego, o renascimento com Nicodemos e a recuperação do Filho Pródigo (4º Domingo).
- A possuir uma nova vida com Lázaro ressuscitado e a mulher adúltera (5º Domingo).


Nesta travessia, feita de dificuldades e trabalhos, em que o novo Povo de Deus está empenhado, temos um guia.
É o mesmo Cristo, «Senhor que age na observância quaresmal da Igreja, para levar os homens à paz, à liberdade, à vida divina e à perfeita comunhão com os irmãos.


Celebrar a Eucaristia no Tempo da Quaresma significa :
- Percorrer com Cristo o itinerário da promoção que cabe à Igreja e a todos os homens.
- Assumir mais decididamente a obediência filial ao Pai, e o dom de si mesmo aos irmãos, que constituem o sacrifício espiritual.
- Renovar os compromissos do nosso Baptismo na noite de Páscoa, passando da morte à vida nova com Jesus Ressuscitado, para a glória do Pai na unidade do Espírito Santo.


No tempo presente, vai-se perdendo o sentido do Tempo Quaresmal, sobretudo porque se vai também perdendo a consciência de pecado. Na verdade, para quem não há pecado não há necessidade de renovação espiritual, de arrependimento e de Reconciliação. Ora como tudo isto está errado, a Igreja luta com sérios problemas por falta de clero, falta de vocações sacerdotais e, consequentemente, por falta de evangelização.
Uma boa reflexão para todos nós neste Tempo Quaresmal que começou na Quarta-Feira de Cinzas.

Colaboração de: John Nascimento



- Reflexão

É necessário estar atento - todos os dias - ao chamado que Deus faz em nossas vidas. O Tempo Quaresmal é um período propício para se repensar a caminhada, para se ajustar o caminho a ser perseguido. O homem consciente não constrói sobre a area. O Católico se vale da Quaresma para descobrir quais areias têm demolido suas casas e quais ações precisa tomar para reedificar-se junto à Glória de Deus.

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