Entrevista do Pe. Federico Lombardi, S.J.

Após as polêmicas surgidas com o levantamento da excomunhão dos quatro bispos lefebvristas, em particular pela negação de um deles do Holocausto, o porta-voz vaticano reconhece que se dão problemas de comunicação na Santa Sé.

O Pe. Federico Lombardi S.J., diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, concedeu uma entrevista ao jornal francês La Croix, publicada nesta sexta-feira, na qual oferece elementos que ajudam para compreender o ocorrido.

O sacerdote esclarece que o decreto vaticano com o qual Bento XVI levantou as excomunhões dos bispos «foi negociado de última hora» e «alguns pontos não ficaram claros».

«Não significava o final de um processo, mas uma etapa; portanto, não dava um resultado claro. Contudo, o comunicado que acompanhou sua publicação deixava muitos aspectos na dúvida, dando pé a diferentes interpretações.»

«Também, como se trata de uma negociação com outra parte, o documento já se encontrava em alguns sites e jornais. De nós dependia o controle desta comunicação», declara.

De qualquer forma, o porta-voz reconhece que «para a Igreja, o problema da comunicação não é fácil».

«Deve-se dizer tudo o e imediatamente? – pergunta-se. Às vezes é melhor não falar. Uma comunicação muito aberta, sobretudo em um processo de negação tão complexo, pode em certas ocasiões bloquear ou desacreditar», reconhece.

«Mas neste caso preciso, o que causou mais dano é a concomitância entre a questão da excomunhão e a difusão das posições negacionistas – e injustificáveis – de Dom [Richard] Williamson.»

«Honestamente – declara Lombardi –, o ponto delicado está em saber quem conhecia as opiniões deste homem. Quando se propõe ao Papa levantar a excomunhão de quatro bispos, não se trata de um grande número, como se fossem 150.»

«Sem dúvida, as pessoas que administraram esta questão não tinham consciência da gravidade das posições de Dom Williamson. E é verdade que as negociações foram levadas com Dom [Bernard] Fellay», superior geral da Fraternidade de São Pio X.

«Mas as posições de outros bispos não foram levadas suficientemente em conta. O que é seguro é que o Papa o ignorava.»

No que se refere ao trabalho da mídia ao informar sobre este caso, o porta-voz considera «que não foram nem melhores nem piores que em outras ocasiões. Refletem nosso mundo».

«Sejamos lúcidos – exorta: há correntes que se opõem à Igreja, que a consideram como ‘liberticida’, etc. A mensagem da Igreja com frequência vai contra a corrente do pensamento da maioria, da qual a mídia é por natureza porta-voz. Mas as reações também podem ser positivas.»

«Pudemos ver isso com a morte de João Paulo II. Basta recordar as viagens de Bento XVI aos Estados Unidos, Austrália e França, onde, contudo, no início, não se havia conquistado a opinião pública, e que mostraram como a mensagem também podia ser retransmitida através dos meios de comunicação.»

No que se refere à dificuldade que se dá entre os católicos para compreender algumas decisões do Vaticano, o Pe. Lombardi explica que isso se deve à própria natureza de alguns documentos.

«Alguns documentos estão destinados aos especialistas em direito canônico, outros aos teólogos, outros ao conjunto dos católicos, outros a todos os homens – explica. Mas hoje em dia, independentemente de qual seja a natureza do documento, ele se encontra na praça pública. E isso chega a ser algo difícil de administrar.»

No caso da revogação das excomunhões, o Pe. Lombardi reconhece que faltou tempo após as negociações para poder prevenir e explicar aos bispos no mundo, mas declara que isso normalmente não é assim.

«Em certas ocasiões, o documento já se encontra nas mãos dos bispos locais, inclusive antes de que nós o tenhamos», revela.

«Creio que ainda falta criar uma cultura de comunicação no seio da Cúria, na qual cada dicastério comunica de maneira autônoma, não precisa necessariamente passar pela Sala de Imprensa, nem oferecer uma nota explicativa quando a informação é complexa.»

«Se as explicações da nota da Secretaria de Estado de 4 de fevereiro tivessem sido dadas no momento da publicação do decreto, nos teríamos economizado dias de ‘paixão’.»

«Quando se trata de temas ‘quentes’, é melhor preparar bem as explicações. Mas é impossível evitar todas as dificuldades. Devemos estar dispostos também a correr riscos. E não podemos pensar que é possível avançar em um caminho de reconciliação sem esclarecer as ambiguidades», conclui.

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