Vamos à guia do Espírito no caminho espiritual de cada crente. Situa-se sob o nome de discernimento de espíritos. O primeiro e fundamental discernimento de espíritos é o que permite distinguir «o Espírito de Deus» do «espírito do mundo» (cf. 1 Co 2, 12). São Paulo dá um critério objetivo de discernimento, o mesmo que havia dado Jesus: o dos frutos. As «obras da carne» revelam que certo desejo vem do homem velho, pecaminoso; «os frutos do Espírito» revelam que vem do Espírito (cf. Gál 5, 19-22). «A carne, de fato, tem desejos contrários ao Espírito e o Espírito tem desejos contrários à carne» (Gál 5, 17).

Contudo, às vezes este critério objetivo não basta, porque a eleição não é entre o bem e o mal, mas entre um bem e outro bem, e se trata de ver o que é que Deus quer em uma circunstância precisa. Sobretudo para responder a esta exigência, Santo Inácio de Loyola desenvolveu sua doutrina sobre o discernimento. Convida a olhar sobretudo uma coisa: as próprias disposições interiores, as intenções (o «espírito») que estão detrás de uma escolha.

Santo Inácio sugeriu os meios práticos para aplicar estes critérios. Um é o seguinte. Quando se está diante de duas possíveis opções, é útil deter-se primeiro em uma, como se tivesse que segui-la sem dúvida; permanecer em tal estado durante um ou mais dias; então avaliar as reações do coração frente a tal eleição: se dá paz, se harmoniza com o resto das próprias eleições, se algo em você o alenta nessa direção, ou, ao contrário, se o tema deixa um pouco de inquietude... Repetir o processo com a segunda hipótese. Tudo em um clima de oração, de abandono à vontade de Deus, de abertura ao Espírito Santo.

Uma disposição habitual de fundo a realizar, em qualquer caso, a vontade de Deus, é a condição mais favorável para um bom discernimento. Jesus dizia: «meu julgamento é justo, porque não busco a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou» (Jo 5, 30).

O perigo, em algumas formas modernas de entender e praticar o discernimento, é acentuar até tal ponto os aspectos psicológicos, que se esquece que o agente primário de todo discernimento é o Espírito Santo. Há uma profunda razão teológica nisso. O Espírito Santo é, Ele mesmo, a vontade substancial de Deus, e quando entra em uma alma «se manifesta como a própria vontade de Deus para aquele em quem se encontra».

O fruto concreto desta meditação poderia ser uma renovada decisão de confiar-se em tudo e para tudo à guia interior do Espírito Santo, como em uma espécie de «direção espiritual». Está escrito que «quando a nuvem se elevava de cima da morada, os israelitas levantavam o acampamento. Mas se a nuvem não se elevava, eles não levantavam o acampamento» (Ex 40, 36-37). Tampouco nós devemos empreender nada se não é o Espírito Santo – de quem a nuvem, segundo a tradição, era figura – quem nos move e sem tê-lo consultado antes de cada ação.

Temos o exemplo mais luminoso disso na própria vida de Jesus. Jamais empreendeu nada sem o Espírito Santo. Com o Espírito Santo foi ao deserto; com o poder do Espírito Santo regressou e iniciou sua pregação; «no Espírito Santo» escolheu seus apóstolos (cf. Atos 1, 2); no Espírito orou e se entregou a si mesmo ao Pai (cf. Hb 9, 14).

São Tomás fala desta condução interior do Espírito como de uma espécie de «instinto próprio dos justos»: «Como que na vida corporal o corpo não é movido mais que pela alma que o vivifica, assim na vida espiritual cada movimento nosso deveria provir do Espírito Santo». É assim como atua a «lei do Espírito»; é o que o Apóstolo chama de «deixar-se guiar pelo Espírito» (Gál 5, 18).

Devemos abandonar-nos ao Espírito Santo como as cordas da harpa aos dedos de quem as toca. Como bons atores, ter o ouvido atento à voz do apontador escondido, para recitar fielmente nossa parte no cenário da vida. É mais fácil do que se pensa, porque nosso apontador nos fala dentro, ensina-nos todas as coisas e nos instrui em tudo. Basta às vezes um simples olhar interior, um movimento do coração, uma oração. De um santo bispo do século II, Meliton de Sardes, lê-se este belo elogio que desejo que pudesse se repetir sobre cada um de nós depois de morrer: «Em sua vida fez tudo movido pelo Espírito Santo».

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