A maior parte das ações e símbolos que nós, cristãos usamos para expressar nossa relação com Deus e com a comunidade, são herdados da revelação ou da tradição mais antiga da Igreja, mas não foram nem Cristo nem a Igreja primitiva que inventaram esses sinais, já que foram tomados emprestados da própria vida. São gestos que indicam, visualmente, sobretudo no contexto da liturgia, dos sacramentos, a transmissão de um poder, de uma bênção, de uma reconciliação, etc.
Os gestos, atitudes, posições referentes ao Sacramento da Eucaristia, bem entendidos e bem executados, poupam muitas palavras e ajudam a nós mesmos e a todos os fiéis a entrar em sintonia com a ação de Cristo.
O gesto sacramental mais importante da comunidade cristã é o comer e o beber. Não é o jejum, mas a comida, a chave do cristianismo. Comer o pão e o vinho significa receber alimento pois a comida é fonte de vida e dela necessitamos para sobreviver e Cristo quis expressar sua autodoação através do pão e do vinho – Ele se deu em alimento, o verdadeiro pão da vida e da vida verdadeira.
Durante muitos séculos a comunidade cristã recebia com naturalidade o Pão Eucarístico na mão e a respeito disso existem pinturas e relevos da época, além de inúmeros testemunhos de Igrejas na África, no Oriente, na Espanha, na Itália.
Para citar um deles, temos o mais famoso que é o de São Cirilo de Jerusalém, no século IV que ensina como os cristãos devem se aproximar da comunhão: “Quando te aproximares para receber o Corpo do Senhor, não te aproximes com as palmas das mãos estendidas nem com os dedos separados, mas fazendo de tua mão esquerda como um trono para tua direita, onde o Rei irá sentar-se. Com a cavidade da mão recebe o Corpo de Cristo e responde: Amém...”(José Aldazábal, Gestos e Símbolos, Ed.Loyola, 2005, pg.122).
Pouco a pouco e por diversas razões, mudou-se o modo de comungar, da mão para a boca. Em algumas regiões isso aconteceu por medo de profanação da Eucaristia por parte de hereges, por medo de práticas supersticiosas. Outros pensavam que tal forma de comungar significava um maior respeito e uma maior veneração à Eucaristia e também porque durante o século IX – ocasião em que de forma mais marcante se mudou o rito da comunhão – passou-se a considerar que as únicas mãos que podiam tocar a Eucaristia eram as sacerdotais e assim durante muito tempo vários Concílios passaram a entender e a estabelecer como norma que os leigos não podiam tocar com suas mãos o Corpo do Senhor e então depositar a comunhão na boca tornou-se um costume.
Porém como tudo passa e os costumes mudam, os Concílios da Igreja desejaram uma reforma na liturgia e foi crescendo a vontade de recuperar a prática das antigas comunidades, ou seja, de que os fiéis pudessem voltar a receber a comunhão na mão. Foi feita uma consulta a nível mundial e a mudança foi vista com bons olhos. Em 1969 a Instrução “Memoriale Domini” estabeleceu que a comunhão ministrada na boca continuaria, mas, nas regiões onde o Episcopado julgasse conveniente, poderia ser deixada aos fiéis a liberdade de receber a comunhão na mão ou na boca, desde que a dignidade do Sacramento estivesse preservada. Para esse fato contribuiu muito a permissão para que leigos fossem chamados em determinadas circunstâncias para o ministério da distribuição da Eucaristia dentro e fora da celebração.
Desde que foi assim decidido, o gesto é livre, tanto um como o outro e a escolha é do fiel porque qualquer que seja a escolha, a maneira deve ser sempre respeitosa e expressiva; todavia, cabe explicar porque o novo gesto – receber a comunhão na mão é o mais comum.
Como dizia São Cirilo, o modo mais expressivo é estender a mão esquerda, bem aberta, sobre a direita, fazendo como que “um trono”, para em seguida, com a mão direita, tomar o Pão e comungar ali mesmo, antes de voltar para o seu lugar. Não se “pega” o Pão oferecido com os dedos, como se fossem uma pinça, mas espera-se que o ministro deposite o Pão, dignamente na palma aberta da mão. Não se pega: acolhe-se.
Cabe ressaltar que, evidentemente, quando se recebe a comunhão em duas espécies, ou seja – Pão e Vinho – não é apropriado colocar o pão molhado sobre a mão e assim dá-se na boca.
Seja qual for a forma, o gesto deve ser feito com lentidão, respeito, dignidade porque se está oferecendo o Corpo de Cristo. Existe aí um diálogo em que o ministro da comunhão mostra o Pão ao fiel e diz “Corpo de Cristo” e o fiel deve responder “ Amém” para só então receber a comunhão.
O gesto das mãos tem muita força expressiva. Dirigir-se para a comunhão já com a mão aberta, na posição correta, é uma atitude de humildade, de espera, de disponibilidade, de acolhida, de confiança diante de Deus, é a postura daquele que pede e recebe confiantemente o Corpo de Cristo, dom gratuito que recebemos por intermédio da Igreja. É a nossa fé falando claramente por meio dessa mão estendida, demonstrando a nossa postura interior de desejar sinceramente a comunhão.
“As duas mãos abertas e ativas: a esquerda, recebendo, e a direita, primeiro apoiando a esquerda, e em seguida tomando pessoalmente o Corpo do Senhor: duas mãos que podem ser sinais eloqüentes de um respeito, de uma acolhida, de um “altar pessoal”que formamos, agradecidos ao Senhor que se nos dá como alimento salvador”(ibidem, pg. 125).
Mas, não é a mesma coisa “pegar” a comunhão com a mão e “recebe-la” do ministro, porque esta última forma expressa melhor a mediação da Igreja, ou seja, o Corpo e o Sangue de Cristo não são tomados por iniciativa própria, mas são por nós recibos por intermédio da Igreja. Como salienta José Aldezábal, a comunhão não deve transformar-se em “self-service”, já que a finalidade é que o cristão comungue e entre em sintonia agradecida com o Dom de cristo, com fé e amor a essa doação que nos faz Cristo de seu Corpo e de seu Sangue e que isso fique bem claro não só na liturgia, mas também na postura pessoal do cristão em sua devoção.
Repetimos – a escolha, o gesto é livre, cada um pode decidir a maneira como deseja “receber” a comunhão e não cabe ao ministro impor uma forma ou outra e por isso vemos a importância de uma catequese bem feita, preparando a todos para entenderem a razão do gesto que não é escolhido porque é bonito ou porque está na moda, mas porque deve expressar de forma forte a fé e a reverência necessárias para tão santo momento.

O AMÉM

Em hebraico, a palavra “amém” está ligada à mesma raiz da palavra “crer”, o que vale dizer que significa fidelidade, confiabilidade. Quando dizemos “amém”, estamos dizendo que cremos em algo, que confiamos, que somos fiéis, que participamos, que estamos em comunhão.
Quando o ministro nos oferece o Cristo Eucarístico na hora da comunhão, ele afirma: “Corpo de Cristo” e nós devemos responder : “Amém”, ou seja, sim, é verdade!; ou ainda: eu acredito, eu quero recebê-lo, eu quero estar em comunhão!
O amém que respondemos quando o ministro nos oferece a Eucaristia, é como o sim de Maria, é o nosso “fiat”, ou seja, “que assim seja”, que possamos receber o Cristo e sermos verdadeiros sacrários vivos como Maria, que Ele faça em nossas vidas a quilo que foi por Ele planejado.
Por isso, a grande importância do “Amém” em todas as orações, mas principalmente no momento da comunhão. Por isso não se deve dizer obrigado, ou agradecido, mas somente “AMÉM”.

O JEJUM

O sinal central do nosso principal Sacramento – A Eucaristia – é o ato de comer e beber e por isso, o jejum que precede o recebimento desse Sacramento também é importante e é encontrado também durante a Quaresma desde a antiguidade. Mas esse jejum ainda tem algum sentido hoje em dia? Jejum aqui significa deixar de beber e de comer, por motivos religiosos e voluntariamente.
O jejum antes da comunhão chama-se jejum eucarístico e é também um gesto herdado da antiguidade quando o jejum era absoluto depois da meia-noite. Pio XII há 30 anos moderou o jejum eucarístico que ficou reduzido primeiro a três horas e a seguir a uma hora antes da comunhão, ficando excluídos do jejum os enfermos e os idosos, assim como a água e os medicamentos, o que vale dizer, só é permitida a água e a ingestão de medicamentos para as pessoas que deles necessitam.
O jejum é símbolo tanto na Quaresma como durante o ano antes da celebração Eucarística, do nosso caminho de fé, de nossa conversão e ele expressa essa nossa atitude interior, e aparece claramente como uma preparação quase uma purificação para um grande acontecimento que é receber o Corpo e o Sangue do Senhor!

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ede disse... 24 de novembro de 2012 às 14:48

Ótimo artigo... esta fundamentação me será bastante útil em minhas investigações teológicas...

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