Continuando em nossa caminhada pelas cordilheiras de nossa existĂȘncia, vamos hoje meditar num ponto crucial, assombrosamente difĂ­cil e quase nunca entendido por homem algum. De fato, sĂŁo tĂŁo poucas as pessoas que jĂĄ conseguiram atingir um tal grau de desapego das coisas, dos bens, das pessoas e de tudo aquilo que vem do mundo – atĂ© como prova de verdadeiro amor a Deus – que se a terra necessitasse disso para existir, ela jĂĄ teria desaparecido para sempre.

Tal como os outros pontos sobre os quais jå temos meditado, também este é uma antítese do amor a Deus: quanto mais apegados ao mundo finito e a tudo que vem dele, menos estamos ligados em Deus, ao Eterno e a aquilo que jamais termina. E menos O amamos, é óbvio! Aliås, penso que, pelo desapego de tudo aquilo quem vem do mundo, é que se mede a verdadeira sabedoria de um homem, ou de uma mulher. Quem se liga no mundo que passa, passa junto com o mundo e morre com ele. Quem se liga em Deus Eterno, com Ele ficarå para sempre.

Isto se dĂĄ pela dependĂȘncia exagerada dos nossos cinco sentidos que nos enfeitiçam e enganam, embora tenhamos, todos, recebido de Deus o Dom e a Graça de nos desprendermos deles. Ou seja: os sentidos nos prendem ao mundo miserĂĄvel e nos enganam com suas fantasias e ilusĂ”es. Em verdade nĂłs sempre preferimos o caminho que o olhar observa, que o ouvido escuta, que a mĂŁo toca, que o olfato percebe, que o paladar aprecia – embora levem tantas vezes Ă  morte da alma – que a via do espĂ­rito que conduz ao Eterno e Ă  salvação. Esta a grande sabedoria: desprender-se do mundo, ligar-se em Deus.

Na realidade o apego exagerado Ă s coisas do mundo, tem como mestres e guias dois dos mais nefastos vĂ­cios capitais: orgulho e inveja! O “ser” e o “ter”. O mundo nos apresenta seus atrativos, cada vez mais vistosos, mais convidativos, mais apetitosos, mais aparentemente perfeitos, de sorte que nos enfeitiçam e nos fazem desejar ardentemente. EntĂŁo a pessoa tem um aparelho de televisĂŁo preto e branco, e vendo o vizinho com um colorido, ou assistindo a propaganda na TV, logo alimenta dois desejos maus em seu coração: ter um igual e ter um melhor e de preferĂȘncia maior! E a partir desta fisgada do maldito, faz atĂ© o impossĂ­vel para possuir o objeto de seus desejos, nem que seja se encher de dĂ­vidas atĂ© o pescoço.

E assim acontece com bens maiores, como uma casa, um automĂłvel, uma camionete, um iate, um aviĂŁo e sei mais o quĂȘ. O que alimenta o desejo de posse, nĂŁo Ă© um simples sentido de necessidade, mas primeiro a inveja de possuir um igual, depois o orgulho de ter um melhor, um maior, um mais caro, um mais bonito, nunca se estĂĄ satisfeito. É deste vil artifĂ­cio que a propaganda se utiliza, para enfeitiçar coraçÔes, prender vidas e matar as almas dos tolos. Sim e escravizar a milhĂ”es de consumidores incautos e os distanciar de Deus, o Sumo Bem!

De fato, hoje podemos afirmar com certeza, que mais de metade da humanidade que participa do mercado de consumo, Ă© escrava da moda, Ă© escrava da mĂ­dia, Ă© escrava do mundo e de suas insinuaçÔes malignas. Quando uma mulher nĂŁo mais consegue vestir uma calça que nĂŁo seja apertada e insinuante, ou de corte baixo e provocativo, algo que “valorize” o seu corpo mortal, finito, que a terra haverĂĄ de comer – ela de fato jĂĄ perdeu a luta para a inveja e o orgulho. Ela jĂĄ cuspiu na prĂłpria alma e Ă  busca renegar!

Sim, ela se tornou escrava de satanĂĄs, porque jĂĄ nĂŁo consegue mais ter consciĂȘncia do fato de que estĂĄ conduzindo os homens ao pecado, e sendo causa de condenação para si prĂłpria. Porque ela, invariavelmente, e todas elas que assim se vestem, estĂŁo pecando contra o sexto mandamento, nada justifica. E, pior, sabem disto, mas justificam com a tola e enganosa frase que o “velho” – LĂșcifer Ă© assim chamado pelos demĂŽnios no inferno – maldito lhes ensinou: Todas usam! Sim, todas vĂŁo para a perdição, e eu tambĂ©m vou!

E assim vai com toda a moda e todo o modismo, mesmo que passageiro. As pessoas preferem decididamente afogar a consciĂȘncia que as acusa, do que se exporem ao ridĂ­culo de merecer um olhar de desprezo, um comentĂĄrio desairoso sobre sua vestimenta. Todas as mulheres que se vestem com estas modas escandalosas, sabem que estas roupas todas atraem os olhares dos homens, muitas vezes olhares de cobiça que as degradam. Mas com certeza aceitam e preferem correr este risco, acumulando com isso pecados sobre pecados e culpas sobre culpas.

Na verdade as pessoas nĂŁo mais se guiam pelos parĂąmetros da moral, da decĂȘncia e do decoro, conforme a lei natural e a Lei de Deus, porque chegamos a um tal ponto em que uma mulher que se veste normal, castamente, passa a se sentir como se estivesse nua se aparecer diante das outras com roupa decente. Ela se sente mal, porque como atrai olhares de escĂĄrnio e sorrisinhos de mofa. É tida por “cafona” e coisas assim. E acontece atĂ© que seus namorados e maridos, se sentem mal quando suas companheiras nĂŁo estĂŁo “na moda”. Preferem entregĂĄ-las ao mundo, que lhes resguardar a castidade e a santidade tĂŁo queridas e apreciadas por Deus.

E assim, embora estes homens não queiram que suas mulheres sejam objeto de cobiça dos outros, exigem que elas se vistam pecaminosamente, para não parecerem caretas. Ou seja, inverteu-se a ordem e o sentido das coisas e de tal forma distorceram-se as mentes, que finalmente o demÎnio conseguiu fazer sumir a noção de pecado. Com isso chegamos às portas do abismo eterno.

E nĂŁo adianta dizer para o mundo – muito menos para Deus – que elas jĂĄ nĂŁo mais conseguem encontrar nas prateleiras das lojas uma calça ou uma roupa decente; esta desculpa serve apenas para elas prĂłprias e Ă© satanĂĄs quem ensina a dar. Da mesma forma o homem, com os tĂȘnis e sapatos, e atĂ© modismos hediondos e abominĂĄveis a Deus como tatuagens de qualquer tipo e tamanho, pois cada vez menos pessoas podem se dizer livres dos apelos da moda e da escravização dos modismos passageiros.

Ou seja, as pessoas se apegam a coisas mundanas e passageiras como a moda, e sĂŁo capazes dos maiores absurdos para isto. Noutro dia, soube que um par de tĂȘnis custa na loja mais de R$ 700,00. Vejam o absurdo da cobiça: muitos destes tĂȘnis sĂŁo fabricados aqui em Santa Catarina, em fĂĄbricas modernĂ­ssimas, que os fabricam para as grandes “marcas”. Ora, aqui, sem o selo, sem a marca de satanĂĄs – jĂĄ digo assim – eles nĂŁo custam mais de R$ 35,00, ou seja, vinte vezes a menos. Mas veja se as pessoas usam um tĂȘnis que nĂŁo tem o carimbo da marca famosa! Entretanto Ă© exatamente o mesmo calçado. Mundo de escravos, todos apegados a aquilo que morre e apodrece!

Numa das montanhas a seguir, vou contar um exemplo de minha vida, que me foi das coisas mais incrĂ­veis que me aconteceu e me fez mudar radicalmente de vida e aconteceu quando cursava a Universidade. E isso nĂŁo levou mais que dez minutos, mas a histĂłria fica para depois. Sabem, quando a gente passa por um choque destes, se percebe o quanto Ă© idiota prender-se Ă  coisas miserĂĄveis, mesquinhas e sem sentido!

Com aquele choque, eu de imediato me desprendi dos apelos da moda, tomei nojo dos estudos, me enchi dos professores, e passei a ser livre, solto, leve, desligado de qualquer modismo e de coisas sem sentido. SĂł a partir dali comecei a ser feliz. Eis porque digo: desapeguem-se das coisas do mundo e de seus modismos tolos e passageiros! Vivamos para o Alto! SĂł assim se consegue ser feliz!

Enfim, todos nĂłs deverĂ­amos ter um tal desprendimento do mundo, do dinheiro, do ser e do ter, que mesmo que fĂŽssemos a pessoa mais importante da terra, e tivĂ©ssemos uma conta bancĂĄria de um bilhĂŁo de dĂłlares “cash”, isso nĂŁo nos deveria fazer tremer nem um dedo da mĂŁo, quanto mais o corpo inteiro. Isso nĂŁo nos deveria tornar diferentes em nada de pessoa alguma, sendo simples e humildes em meio aos mais humildes. Isso nos deveria mais do que nunca fazer lavar os pĂ©s uns dos outros, como prova de desapego, eis que a caridade com esta dinheirama toda, nos deveria fazer buscar imensos tesouros no CĂ©u.

Um padre amigo, nos contava sempre uma atitude que o impressionava demais. Numa das cidades onde ele fora o påroco, havia o homem mais rico, industrial e mesmo assim era bom católico e ativo participante nas promoçÔes da Igreja. Pois em todas as festas da paróquia, ao invés de ele assumir o papel de caixa geral e estar próximo do dinheiro, a função que ele escolhia era a de limpar os banheiros e catar o lixo. E ele era visto a festa inteira, de avental, munido de um espeto e um saco, a catar plåsticos e latinhas, também a limpar os bacios. Ora, quantos homens ricos existem assim no mundo?

Bem-aventurados os que tĂȘm um coração pobre, porque deles Ă© o Reino dos CĂ©us. De fato, os que tĂȘm um coração pobre, mesmo sendo ricos financeiramente – ou nĂŁo sendo, nĂŁo importa – fatalmente se ligam em Deus, atĂ© porque compreendem o quanto Ă© fugaz a riqueza, o quanto a vida Ă© passageira. Uma enorme fortuna pode dissipar-se num minuto! Uma grande inteligĂȘncia e grande sabedoria podem sucumbir, podem desaparecer num estalar de dedos. Uma doença grave, um simples acidente, uma batidinha na cabeça... e lĂĄ se fomos nĂłs...

Na verdade, para os ricos em maior conta e tambĂ©m para os pobres em menor, grande prova de sabedoria Ă© usar dos bens que Deus nos colocou Ă  disposição, nĂŁo somente para crescer mais, mas sim para juntar tesouros no CĂ©u, onde o ladrĂŁo nĂŁo rouba nem a traça corrĂłi. Na verdade, os bens deste mundo visĂ­vel – embora pertencendo todos a Deus – sĂŁo administrados por satanĂĄs, que deles faz uso para seduzir aos incautos. E assim, no fato de vencer o mundo e suas seduçÔes Ă© que estĂĄ a grande prova de fortaleza que conduz Ă  sabedoria, que leva cada vez mais para Deus.

Enfim, se tudo pertence a Deus e tudo vem Dele, o Criador Único de todas as coisas. Se Deus Ă© Tudo e nĂłs nĂŁo somos nada, por que motivo o orgulho? Que adianta a inveja? Que adiantam orgulho do ser e do ter? Grande sabedoria entĂŁo, Ă© ser em Deus! Grande riqueza entĂŁo, Ă© pertencer a Ele que em troca nos darĂĄ TUDO! Quem Ă©, em Deus, jamais serĂĄ confundido! Quem pertence a Deus, jamais terĂĄ falta de algo! Quem Ă© para o mundo, morre! Quem se liga no mundo, liga-se em satanĂĄs, o eterno perdedor e pode perder facilmente a alma. Basta se apegar avaramente aos mĂ­seros bocados que o mundo oferece.

Que fazer entĂŁo? Deixar tudo nas mĂŁos de Deus, sendo apenas administradores Dele. Usar estes bens para preparar a nossa feliz eternidade. Mandar com eles, bom material de construção para o CĂ©u, porque isso nos garantirĂĄ uma bela morada eterna. E isso se faz partilhando tudo! “Quem tem duas camisas, dĂȘ uma ao seu irmĂŁo que precisa”! Quem tem bastante comida, que reparta com largueza com aqueles que nada tĂȘm. Reparta nĂŁo somente a sobra, mas aquilo de bom uso. Reparta tambĂ©m bons livros, ajude as obras de caridade que realmente vĂȘm de Deus, tambĂ©m a Igreja e suas obras. Doe, alĂ©m do que Ă© normal, e doe atĂ© daquilo que lhe pode fazer falta.

Por Ășltimo: Faça esta experiĂȘncia: ao encontrar, num dia de inverno, a alguĂ©m tremendo de frio, vocĂȘ, que estĂĄ usando duas blusas, experimente tirar uma, ali, no meio da rua e dar a ele. Faça isso e verĂĄ o incrĂ­vel resultado. Ou esta: VocĂȘ estĂĄ num restaurante fartando-se e vĂȘ uma famĂ­lia pobre, ou apenas um sĂł indivĂ­duo rondando a casa; experimente pagar para ele um almoço, uma janta, um cafĂ©. Se vocĂȘ fizer isso de coração, jamais terĂĄ falta de algo. Se lhe faltar algo: debite na conta de Deus!

Sim, no mundo existe misĂ©ria, porque Ă© grande a mesquinharia. No mundo existe fome, porque existe o apego exagerado de quem nĂŁo partilha. No mundo existem pobres, porque se apegaram ao mundo e nĂŁo a Deus. Se todos se ligassem de fato em Deus, nada faltaria para ninguĂ©m: casa, comida, roupa, trabalho! Mas, atenção! Jesus falou claramente: Assim, pois, qualquer um de vĂłs, que nĂŁo renuncia a tudo o que possui, nĂŁo pode ser meu discĂ­pulo (Lc 14,33). É preciso atĂ© renunciar-se a si mesmo por Ele!

E vocĂȘ? Se pode dizer um verdadeiro discĂ­pulo de Jesus?

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