Dom Orlando Brandes




Concluiu-se em Roma no dia 26 de outubro o Sínodo dos Bispos cujo tema era: “A Palavra de Deus na vida e missão da Igreja”. Houve muita expectativa a respeito deste Sínodo e não podia ser diferente. Graças a Deus, os resultados foram muito positivos.

Os participantes do Sínodo evitaram discussões acadêmicas, exegéticas, teológicas e focalizaram duas dimensões da Palavra de Deus: a dimensão místico-espiritual e a dimensão pastoral. Podemos dizer que foi um encontro sobre espiritualidade bíblica e animação bíblica da pastoral. Exatamente é o que a Igreja mais necessita: amor à Palavra e á prática, a vivência da Palavra no quotidiano e na esfera social. Não foi um Sínodo de biblistas, mas de pastores.

Falou-se de que precisamos ter um “coração bíblico” e que o coração dos fiéis deve ser uma “biblioteca bíblica”. Por isso, a grande maioria das intervenções privilegiaram a “Leitura Orante da Bíblia” (Lectio Divina) como um caminho concreto de encantamento, conhecimento e vivência da Palavra.

A Palavra de Deus não se reduz ao livro da Bíblia. A Palavra se manifesta na beleza da criação, nos acontecimentos da vida, na experiência de fé das comunidades, mas, principalmente a Palavra é uma pessoa: Jesus Cristo. Todas as Escrituras apontam para Cristo. Ele é o Filho muito amado do Pai, a quem devemos escutar e seguir como discípulos. A Palavra é uma declaração de amor de Deus por nós. Ele fala conosco como um amigo. A Igreja deve pois “ouvir piamente, guardar santamente e anunciar fielmente a Palavra”. Nós somos o que ouvimos.

Houve quem propusesse na sala sinodal que é preciso suscitar o “século do amor à Palavra”. Quem vive e testemunha a Palavra, é o melhor exegeta, ou seja, o melhor mestre e doutor das Escrituras, como, diz o apóstolo Paulo: “a Palavra habite em vós” (Col 3,16). É hora da Bíblia, do primado da Palavra. Ela deve correr veloz, como reza o Salmista, e não deve ser acorrentada. Sim, a Palavra é a bússola da Igreja, é o motor que tudo move, é a rocha, o alicerce de toda a realidade.

Diante de todas estas maravilhas, o Sínodo constatou que a maioria do povo ignora as Escrituras, em muitas partes do mundo o preço da Bíblia é muito caro, nas famílias pouco se fala da Palavra, ainda se tem medo de colocar a Bíblia nas mãos do povo, as homilias podem e devem melhorar, os microfones das Igrejas e os leitores não podem emudecer a Palavra e fazê-la cair no chão, os grupos bíblicos precisam aumentar.

É preciso pois, frequentar as Escrituras, ter familiaridade e até apego à Palavra, fazer dela nossa nutrição diária e nela permanecer. Dos quartos, a Palavra deve chegar aos telhados, para iluminar a mente, robustecer a vontade, inflamar o coração. Que possamos consagrar à leitura bíblica, tantas horas quantas pudermos, pediu o Sínodo.

A Palavra tem “voz”. Esta voz está na revelação divina, na comunicação de Deus com os patriarcas, os profetas, os apóstolos. A Palavra tem um “rosto”: é Jesus Cristo. Ele é a Palavra que se fez carne. Jesus é a Palavra de Deus por excelência. A Palavra tem uma “casa”: a Igreja. É na Igreja que encontramos a Palavra. Enquanto casa da Palavra cabe à Igreja, anunciá-la, aprofundá-la pela catequese, ensiná-la na homilia, celebrá-la na Eucaristia, rezá-la na liturgia das horas. A Palavra tem um “caminho”: é a missão. Que ela possa tinir nos ouvidos, transpassar os corações, inflamar os lábios e chegar até os confins da terra.

Dentro da própria Bíblia encontramos muitos símbolos que nos ajudam a compreender a profundidade, a altura, a largura, o cumprimento a inestimável e inexplorável riqueza da Palavra de Deus. Eis alguns símbolos: luz, rocha, pão, tesouro, espada, machado, leite, ouro, martelo, carta, chuva, mel.

Após o Sínodo da Palavra não se pode mais batizar sem evangelizar, catequizar sem fazer discípulos, ler nas celebrações sem ensaio e preparação. Que adianta Igreja bonita, salão grande, mas microfones ruins, som descuidado e leitores sem saber comunicar-se? É hora de mudar. Amemos e respeitemos a Palavra de Deus.

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