A semente na terra úmida germina e produz frutos pela sua força intrínseca. A luz e a força do pequeno salgam e iluminam o mundo. Reconhecer isso implica viver a vida a partir do outro/pequeno. Isso é ser solidário. Eis um caso eloqüente. Dona Rita vive na periferia. A pobreza é grande. Muitas vezes, os filhos não têm o que comer. Cada manhã sai de casa para trabalhar. É empregada em um bairro rico da cidade. Há dias que também passa fome. Mesmo assim, trabalha com afinco. Certa feita, ao meio-dia, lhe trazem um prato feito e abundante. Dona Rita não come. Apenas chora. Momentos depois, lhe trazem um copo de suco. Perguntam: " - Dona Rita, por que a senhora não come? Por que deixou o prato de lado?" Dona Rita diz: " - Meus filhos em casa estão passando fome. Como posso comer se eles não comem?" " - Que é isso, Dona Rita?" atalha outra pessoa. "A senhora não está com fome?" "- Sim, estou", respondeu ela. " - Então, coma!. O que tem a ver isso com os seus filhos? Mate a fome, para poder ainda ajudar em casa e ter força para trabalhar." " - Não, hoje não como", respondeu determinada Dona Rita. "Se eu comer, esta comida me fará mal. Prefiro sentir o que meus filhos sentem, a fome, em vez de comer esta comida. Se não que mãe sou eu? Não quero deixar de ser mãe, por causa de um prato de comida." Dona Rita certamente não sabia definir o que é solidariedade, mas a viveu plenamente. No seu sentido mais profundo e radical. Lá, naquele nível em que as pessoas se identificam com o destino das outras, no sofrimento e na alegria, na dor, na fome, na prostração, aí está a solidariedade. Ser solidário é viver a vida a partir do outro/pequeno e não a partir de si mesmo/a.

Ouvir o inaudível é imprescindível para quem quer guiar o povo. Apenas quando se aprende a ouvir o coração (e estômago, pés, mãos e.. ) das pessoas, seus sentimentos mudos, os medos não confessados e as queixas silenciosas, um líder pode inspirar confiança em um povo, entender o que está errado e atender às reais necessidades dos cidadãos. A morte de um país começa quando os líderes ouvem apenas as palavras pronunciadas pela boca, sem mergulhar a fundo na lama das pessoas para ouvir seus sentimentos, desejos e opiniões reais.

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