“... e para ser alvo de contradição –

et in signum, cui contradicetur” (Lc. II, 34)









Quando Jesus foi levado ao Templo por Maria Santíssima e São José, em cumprimento ao preceito do Senhor, ouviram dos lábios do velho Simeão, que ali se achava conduzido pelo Espírito Santo, a seguinte profecia: “Eis que este (Menino) será posto para ruína e ressurreição de muitos em Israel e para ser alvo de CONTRADIÇÃO”. De lá para cá, passados dois mil anos, vésperas do terceiro milênio, não houve dia em que Jesus não fosse afirmado e contradito. A profecia do santo velho Simeão, distingue-se das demais, por ser uma constante. A todo instante Jesus é asseverado e contestado. A particularidade dessa predição, consiste em que as demais realizaram-se com a vinda do Divino Salvador, essa de Simeão, acompanhará a humanidade até o último dia, tempo de todas as coisas, momento em que o justo e o ímpio serão julgados.



Durante o período de católico nominal, estágio volúvel em que, desembaraçadamente, se freqüenta antros de macumba, acredita-se no poder de “reza forte”, pai de santo, figuinhas, patuás, foguetórios nas praias com flores à Iemanjá e tantas outras tolices, altamente comprometedoras na salvação da alma, fui agraciado com uma polinevrite alcoólica, que me prostrou num leito hospitalar por trinta dias. Restabelecido, fui convidado por uma vizinha de cor negra, para participar das reuniões de um dos movimentos da Igreja, conhecido por “Legião de Maria”. Justifiquei a recusa, explicando ser católico de nascimento, mas pertencer a um movimento da Igreja, não fazia o meu gênero. Dona Judite, era o nome dessa extraordinária negra, após despedir-se, acrescentou: “Vou deixar o Manual da Legião para você ler e depois venho buscá-lo”. Eu li e ingressei na “Legião de Maria”. Isto aconteceu, exatamente, trinta e oito anos atrás. Que Deus te bendiga, que tenha na Sua Santa Glória a querida e saudosa negra, dona Judite!



Foi nessa época que vi pela primeira vez, moço com trinta e um anos de idade, a estampa do Santo Sudário. Existia no verso uma jaculatória: “Senhor, mostrai-nos a vossa face e seremos salvos”, nem me passava pela cabeça, ser uma reprodução do versículo quatro, salmo setenta e nove, pois, até então, nem sequer havia folheado a Bíblia. Ignorava qualquer controvérsia a respeito, aceitando devotamente aquele “bentinho” e pouco se me dando o desprezo dos irmãos protestantes às nossas imagens e estampas. Não fora a “Legião de Maria”, o meu marasmo religioso se estenderia até o final dos meus dias. O meu primeiro trabalho, já legionário de Maria, foi visita aos lares, casa a casa. Levava cada banho de capítulos e versículos dos protestantes visitados, que concluí: Ou leio a Bíblia, ou deixo a Legião. Não deixei a Legião e da leitura passei ao estudo da Bíblia. Passaram-se os anos, desde o meu primeiro contato com a estampa do Santo Sudário. Aprimoraram-se as tecnologias. Então, em 1978, um cientista luterano, chamado Dr. John H. Heller, foi convidado a incorporar uma equipe norte-americana, para proceder o primeiro exame completo e direto do Sudário, a fim de efetuar testes físicos, químicos e biológicos do tecido. O Dr. Heller aceitou o convite, movido pelo prazer de acabar, vez por todas, com àquele “mito”. No seu primoroso trabalho impresso e publicado pela revista “Seleções do Reader’s Digest”, ele se apresenta: “Pela fé sou protestante; por profissão, biofísico, com todo o cepticismo e conservantismo que isso implica. Conseqüentemente, sempre pensei que as relíquias religiosas não passassem de trapaças medievais”. O Dr. John, no desenrolar de sua excelente obra, deixa claro que o seu propósito maior era desmascarar àquela “farsa”, porém, explicita que o tiro saiu-lhe pela culatra. Pois, conclui: “Todavia, quanto ao modo como as imagens apareceram no Sudário, todas as hipóteses foram invalidadas pelos elementos recolhidos durante os testes. O Sudário continua sendo, como sempre, um mistério”.



Passaram-se vinte anos. Tenho em mãos, a revista “SUPER INTERESSANTE”, de junho deste ano, 1998, que traz a Sagrada Face na capa e o artigo “Crer ou não crer”, por Lúcia Helena de Oliveira. Sabemos que o Sudário foi submetido ao teste do carbono 14, para medição de idade, há dez anos, ocasião em que escrevi um artigo no Jornal do Povo, sob o título “FALSIFICAÇÃO”. Se hoje pouco entendo, na época não sabia nada sobre o tal de carbono 14. No seu escrito, porém, Lúcia Helena detalha: “a) Os átomos de carbono 14, que são radioativos, surgem na atmosfera da Terra quando os raios cósmicos reagem com o nitrogênio no ar; b) Essa forma radioativa do carbono que nasce no ar, acaba absorvida por plantas como o linho, que depois será usada para fazer o tecido; c) A cada 5.700 anos a quantidade de carbono 14 no tecido cai pela metade. Sabendo disso, os cientistas determinam a idade do tecido; d) Para isso, comparam a quantidade de carbono 14 encontrada na peça antiga com a quantidade existente num tecido recente.” No ano 2.000 o Sudário será submetido a novos testes e não surpreenderá que também esses concluam: “Continua sendo, como sempre, um mistério”. Para os estudiosos, aqui vai o site na internet: http://sindone.torino.chiesacattolica.it.



O que impressiona no Sudário é ser ele um ato de fé, noutras palavras, é crer ou não. Provar que o Sudário é uma farsa, não há como. Por que? Porque o calor altera a medição da idade do tecido. Ora, é sabido que em 1503 foi fervido em óleo; em 1532 foi atingido pelo fogo e no ano passado, 1997, foi salvo, milagrosamente, do incêndio na catedral de Turim. Então, pelos séculos afora, cumprirá o papel para o qual foi designado: “Alvo de contradição”. Muito próprio para envolver o corpo do Homem Deus, que Menino envolto pelos braços de Simeão, foi-lhe dito:“Eis que este (Menino) está posto para ruína e para ressurreição de muitos em Israel e para ser alvo de contradição”. Em desfecho: “Para quem crê, nenhum milagre é necessário; para quem não crê, nenhum milagre é suficiente”. Para quem não crê, o mais evidente demonstrativo, fica devendo demonstração. É o que Jesus nos ensina na parábola do rico avarento no final do capítulo dezesseis do Evangelista São Lucas: “Se não ouvem Moisés e os profetas, tampouco acreditarão, ainda que ressuscitasse algum dos mortos”.



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