O Livro de Gênesis narra a historia do primeiro pecado: A tentação de comer o fruto proibido, a conversa de Eva com a serpente sedutora, o CONSENTIMENTO DE Adão, a expulsão do paraíso .

Os santos Padres acreditam que a experiência de cada pessoa confirma e prolonga, na história, aquilo que o livro do Gênesis narra nos primeiros capítulos. Cada um de nós possui um paraíso, isto é, o coração criado por Deus num estado pacífico. Da mesma forma, cada um de nós vive a experiência da serpente a qual penetra em nosso coração para nos seduzir. Segundo Orígenes: A fonte e o começo de todo pecado é o pensamento.








Não se trata de um simples pensamento, mas de um pensamento impuro, mau. Para sermos sinceros, aquilo que muitas vezes chamamos de tentação não são nem mesmo verdadeiros pensamentos, e sim, imagens da fantasia as quais acrescentamos a sugestão de estarmos realizando alguma má ação.

São Maximo, o Confessor, ilustra essa situação com exemplos da vida diária. Ele afirma, por exemplo, que a faculdade de pensar não é um mal e nem mesmo é mal, como também não é um mal pensar numa mulher. Entretanto, na mente de um homem inclinado à sensualidade, a imagem de uma mulher não permanece sempre pura , mas se mistura com um impulso carnal, o qual sugere um ato contra a Lei de Deus. Do mesmo modo o dinheiro e a bebida não são um mal em si. Podem, entretanto, se tornar pedra de tropeço, por causa dos impulsos que a eles se acrescentam.

Dizemos que é puro aquilo que nada se acrescenta assim, fala-se ouro puro, água pura e etc. Da mesma forma, os pensamentos são puros até que não se acrescente impulsos que podem levar a fazer o mal.

Pensamentos “impuros”, “carnais” “diabólicos” não podem ter origem em nosso coração, pois este foi criado por Deus. Então vem ‘de fora’. Não pertencem ao nosso modo natural de pensar. Enquanto permanecem “fora” de nós não são pecados. Tornam-se um mal somente a partir do momento em que os aceitamos consciente e livremente, isto é, quando nos identificamos com ele.

Todavia, no Evangelho está escrito que o mal provem do coração do homem e não das coisas externas (Mt 15,19).Entretanto devemos ficar atentos a maneira de como explicamos este texto.

Do coração do homem provém o pecado, porque o consentimento ao mal se dá dentro dele, por sua livre vontade.

Os pensamentos maus, os desejos passionais nos rodeiam continuamente, muitas vezes ocupam a nossa fantasia e a nossa mente. Constituem a fraqueza humana, após o pecado de nossos primeiros pais. Em si, porém, ainda não são um verdadeiro mal. A Igreja afirma que concupiscência provém do pecado e conduz ao pecado, no entanto, em si, ela não é pecado.

O verdadeiro pecado só acontece quando intervém o livre consentimento que se dá ao pensamento mau, mas como saber com segurança se consentimos livremente ou não?

Há pessoas que na confissão, se acusam de ter “tido pensamentos maus”, no entanto, não sabem responder se consentiram ou não. Os antigos monges sabiam que tal incerteza é muito prejudicial para paz da alma. Por isso , propuseram uma cuidadosa análise do processo mental que se dá durante as tentações interiores. Geralmente se distingüem em cinco estágios de penetração da malícia no coração: A Sugestão, O Colóquio, O Combate, O Consentimento, A Paixão.

A Sugestão

A Sugestão este nível chama-se também “a contato”. É a primeira imagem fornecida pela fantasia, a primeira idéia, o primeiro impulso. Assim , por exemplo, um avarento que vê dinheiro solto e tem a idéia: “Eu poderia escondê-lo”. Do mesmo modo, pode sobrevir-nos o pensamento de que somos melhores que os outros, o impulso de deixar de trabalhar e etc. Nesses casos, ainda não tomamos nenhuma decisão, simplesmente constatamos que se nos oferece a possibilidade de fazer o mal, e este se apresenta de forma agradável. Muitas pessoas se assustam e confessam ter tido “pensamentos maus” até na Igreja e durante a oração.

Conta-se que santo Antão Abade subiu ao telhado com seu discípulo que se queixava amargamente dos seus pensamentos maus. Ali, ordenou-lhe que agarrasse o vento com a mão. Depois de um certo tempo, acrescentou-lhe: “Se não podes agarrar o vento, muito menos conseguirás agarrar os pensamentos maus”. Queria assim, demonstrar que nessas primeiras sugestões ainda não existe culpa alguma e que enquanto vivermos, não poderemos nos livrar delas. Elas se assemelham às moscas que, tanto mais nos importunam, mais impacientes nos tornamos.

O Colóquio

Este estágio recorda o relato de Gênesis 3, quando Eva começa a conversar com a serpente. Se não dermos atenção a primeira sugestão, ela vai como veio. Mas geralmente a pessoa não faz isso, pelo contrário, deixa-se provocar e começar a refletir. Desta forma diz o avarento: ”Se eu pegar esse dinheiro, poderei depositá-lo no banco”. Depois lhe vem a mente que tal ação não é honesta e, pior ainda, perigosa, uma vez que alguém poderia ficar sabendo disso. Não é capaz de decidir nada, mas a questão do dinheiro fica na cabeça o dia inteiro. O mesmo acontece com quem esta com raiva de alguém, por um bom tempo, fica pensando em que lhe causa tanta ira: imagina-se batendo nele, e depois, perdoando-o generosamente. Em seguida, reflete de novo sobre o que poderia lhe fazer... vai esquecê-lo depois de muito tempo.

Qual é a culpa presente nesses colóquios interiores? Pois , quem nada decidiu não pode ter cometido pecado. Mas quanto tempo e quanta energia vital se perdem nestas “conversas” interiores insensatas ?

O Combate

Estamos no terceiro estágio. Um pensamento que, após longo colóquio, se instalou no coração e não se deixa expulsar facilmente. A pessoa sensual tem uma fantasia tão poluída por imagens impuras que não consegue libertar-se delas. Contudo, ainda é livre para não consentir. Pode e deve sair vitoriosa dessa sua luta, mas isso implica muita fadiga: deve lutar. Sua vontade precisa permanecer firme, repetindo a si mesma: “Sinto uma forte atração pelo pecado. No entanto, não quero consentir. Decido livremente o contrário. E me sinto capaz de resistir”.

O Consentimento

É o quarto estágio, que perdeu a batalha decide executar, na primeira ocasião que tiver, aquilo que o pensamento mau lhe sugere, dando seu livre consentimento a sugestão da malícia. Nesse estágio comete-se o pecado, no sentido verdadeiro, e mesmo que não se concretize exteriormente, o pecado permanece interiormente.Trata-se daquilo que moral chama de “pecado da mente”. Infelizmente, as pessoa pouco instruídas e inexperientes confundem os conceitos. Acreditam que só pensar no pecado já seja ato pecaminoso, essas pessoas se tornam escrupulosas e confessam que não conseguem se libertar dos pecados da mente.

É preciso refletir para sair desta confusão, “O que estou sentindo é atração pelo pecado”, “gosto disso”,”Sinto-me sensivelmente muito atraído para realiza-lo”,”vou cometê-lo”.Não, decido não cometê-lo”, esta última decisão nos deve consolar. No momento em que a tomarmos, teremos descoberto a nossa liberdade.

A pessoa é essencialmente aquilo que decide, e não aquilo para qual a atração dos sentidos a leva. No momento que damos livre consentimento ao mal, estaremos fazendo a experiência do pecado.

A Paixão

É o ultimo estágio, e o mais trágico. Quem sucumbe aos pensamentos maus, muitas vezes se enfraquece, progressivamente, o seu próprio caráter. Nasce então, uma constante inclinação para o mal que pode tornar-se forte a ponto de ser muito difícil resistir-lhe. É precisamente a paixão que torna a pessoa escrava da bebida, do abuso do sexo, da ira incontrolada e etc.

Pode-se dizer que a liberdade já tenha se destruído neste indivíduo!

São diferentes opiniões a esse respeito. Hoje, alguns psicólogos, e também juristas, consideram anormais pessoas caracterizadas por fortes paixões. Consequentemente, não as acusam a não ser de fraqueza exagerada.

Ao contrário, os antigos Padres, como, por exemplo, são João Crisóstomo, repetem também a esses tipos de pessoas: “Basta querer!”. Portanto, na ótica dos santos Padres, a pessoa passional e fraca continua sendo um ser humano. Por isso, possui uma vontade, só que adormecida, é preciso acordá-la.

Nesse sentido, um problema particularmente atual é o daqueles que se drogam. A experiência demonstra que é necessário um cuidado especial, para reforçar-lhes e despertar-lhes a vontade. É igualmente necessária uma extraordinária ajuda da graça de Deus.



É bom repetir:

O verdadeiro pecado depende do livre consentimento. Isso deve consolar os escrupulosos que se espantam com os pensamentos maus que, não raramente confessam ter. Também se entristecem quando tudo isso volta mesmo depois da confissão. O que fazer quando sentirmos tais tentações? Devemos para e dizer a nós mesmos: O que quero fazer? O que decido? Diante de Deus a pessoa é aquilo que livremente quer e não aquilo que sente contra sua vontade. A descoberta da liberdade é muito importante para o progresso na vida espiritual.

No entanto, continua sendo verdade que os pensamentos maus que atraem nossa atenção são desagradáveis. Quais os meios para evitar isso? A esse respeito, as pessoas que vivem segundo o espírito a pratica que se chama “atenção”, ou “vigilância do coração”, ou ainda “sobriedade mental”.

No próximo artigo veremos meios de como combater um bom combate.

Fonte de Pesquisa: “A arte de purificar o coração”, Tomaz Spidlík, Ed. Paulinas, Sp, 2005.

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