Rádio Vaticano
"A verdadeira fonte do serviço de amor que a Igreja desenvolve em relação aos mais débeis está na fé de que o Senhor venceu o pecado e a morte e que servindo os outros servimos o próprio Senhor Jesus", afirmou o Papa Bento XVI ao receber, nesta sexta-feira, no Vaticano, os representantes da chamada "Fundação Papal", instituição norte-americana presidida pelo cardeal Theodore Mc Carrick, arcebispo emérito de Washington.

Evocando as manifestações do Ressuscitado, passagens evangélicas proclamadas neste tempo pascal, o Papa sublinhou que o encontro com o Senhor Ressuscitado suscita nos discípulos, até aí tristes e desapontados, alegria e esperança: "O seu testemunho de fé transmite-nos a firme convicção de que Cristo vive no meio de nós, assegurando-nos os dons que nos permitem ser mensageiros de esperança no mundo de hoje (...) A verdadeira nascente do serviço de amor da Igreja, aliviando os sofrimentos dos pobres, pode ser identificada na fé de que o Senhor venceu definitivamente o pecado e a morte, e de que, servindo os seus irmãos e irmãs, ela serve o próprio Senhor, até que Ele venha na glória”.

O Papa concluiu agradecendo a ajuda concreta que esta Fundação fornece a tantas pessoas carecidas, e fazendo votos de que se multipliquem os esforços de solidariedade, para ir ao encontro das necessidades espirituais e materiais de toda a família humana.

A "Fundação Papal" é empenhada em atividade social e caritativa, sobretudo em relação à Europa de Leste e à África, assegurando nomeadamente bolsas de estudo a padres e leigos que estudam nas Universidades pontifícias. A instituição recolheu no último ano contributos no valor de mais de 7,5 milhões de dólares, destinados a Bolsas de estudo e variadas obras de assistência. Desde 1990, a verba disponibilizada pela Fundação ascende a mais de 41 milhões de dólares.


“E cumprindo os dias da purificação dela (Maria), segundo a lei de Moisés, o levaram a Jerusalém para apresentarem ao Senhor... e para darem oferta segundo o disposto na lei do Senhor: um par de rolas ou dois pombinhos” (Lc 2:22-24). Este texto nos informa que Maria, em obediência ao dispositivo da lei de Moisés, ofereceu holocausto pelos seus pecados. (...) É incoerente conceber uma pessoa sem pecado a oferecer oferta pelo pecado”


Posso responder isso com uma comparação: Jesus não tinha pecado e, no entanto, se batizou no “batismo de arrependimento para a remissão dos pecados” (Mc 1,4) de João Batista: “Jesus foi da Galiléia para o rio Jordão, a fim de se encontrar com João, e ser batizado por ele. Mas João procurava impedi-lo, dizendo: ‘Sou eu que devo ser batizado por ti, e tu vens a mim?’ Jesus, porém, lhe respondeu: ‘Por enquanto deixe como está! Porque devemos cumprir toda a justiça’. E João concordou” (Mt 3,13-15). Jesus, enquanto homem, deveria cumprir toda a justiça.



Quando Maria deu à luz, a Lei que vigorava era a Lei Mosaica que ordenava a ida da mulher até o sacerdote para fazer uma oferta para o sacrifício (cf. Lv 12,6). Esta Lei, de maneira nenhuma poderia ser descumprida pelo casal José e Maria que eram bons judeus. Essa passagem também não destrói em momento nenhum o dogma da Imaculada Conceição e nem prova nada contra ele. Tudo que Maria fez por sua purificação também recebe as palavras de Jesus: “Por enquanto deixe como está! Porque devemos cumprir toda a justiça”.


Em síntese: Ouve-se, por vezes, dizer que a Igreja Católica proibiu a leitura da Bíblia. A resposta há de ser deduzida de um percurso da história. Ora, está averiguado que, nos primeiros séculos, muito se recomendava a leitura do texto sagrado. Na Idade Média e em épocas posteriores (especialmente no século XVI) surgiram heresias que traduziam a Bíblia do latim para o vernáculo instilando no livro sagrado idéias contrárias à reta fé. Daí proibições, formuladas por Concílios, de se utilizar a Bíblia em língua vernácula, a não ser que o leitor recebesse especial autorização para fazê-lo. Ainda no século XIX a Igreja via nas traduções vernáculas da Biblia o canal de concepções heréticas. Todavia a partir do Papa S. Pio X (+1903) deu-se uma volta às fontes, que incluiu a recomendação da leitura da Biblia, por parte de todos os fiéis, em língua vernácula. No momento presente, dado que existem boas edições da Escritura nas línguas vivas, a Igreja fomenta o recurso assíduo à Palavra de Deus escrita e lida no concerto da Tradição da Igreja.



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Diz-se por vezes que a Igreja Católica proibiu aos fiéis a leitura da Bíblia. A afirmação, porém, costuma ser vaga ou destituída de documentação de modo que não se sabe até que ponto possa ser verídica. Eis por que se impõe o estudo deste assunto.


1. Até o século XVI

Por toda a Antigüidade o Livro Sagrado era recomendado à leitura dos cristãos. S. Jerônimo (+420) é um dos mestres que melhor representam esta atitude pastoral, escrevendo a Eustóquio, filha de Santa Paula:

"Lê com freqüência e aprende o melhor que possas. Que o sono te encontre com o livro nas mãos e que a página sagrada acolha o teu rosto vencido pelo sono" (PL 22,404).

Na Idade Média apareceram correntes dualistas e heréticas que se valiam da Bíblia para apoiar suas concepções errôneas. Tal foi, por exemplo, o caso dos cátaros, avessos à matéria como se esta fosse, por si mesma, má. Em conseqüência, o Concílio de Tolosa (França) em 1229 proibiu o uso de traduções vernáculas da Bíblia. Esta disposição foi retirada pelo Concílio da Tarragona (Espanha) em 1233. A mesma proibição aparece num decreto do rei Jaime I da Espanha em 1235: "Ninguém possua em vernáculo os livros do Antigo e do Novo Testamento".

No século anterior, os Valdenses (de Pedro Valdo, Pierre de Vaux) apoiavam-se na Bíblia traduzida para o provençal a fim de negar o purgatório, o culto dos Santos, o serviço militar, o juramento...; só admitiam os sacramentos do Batismo, da Penitência e da Eucaristia.

No século XIV, John Wiclef (1320-84) em Oxford estabeleceu como única norma de fé a Escritura traduzida para o inglês; interpretando subjetivamente a Bíblia, negava a autoridade do Papa, a confissão auricular, a transubstanciação eucarística, o culto dos Santos...; provocava assim grande agitação entre os fiéis. Por isso o Sínodo de Oxford (1408) proibiu a publicação e a leitura de textos vernáculos da Bíblia não autorizados. O mesmo se deu no Sínodo dos Bispos alemães em Mogúncia (1485).


2. Do século XVI ao século XIX

As novas idéias que surgiram no decorrer da Idade Média, chegaram ao seu auge na Reforma protestante do século XVI. Esta proclamou a Bíblia como única autoridade decisiva em matéria de fé e de costumes; cada crente é livre para interpretá-la segundo "o livre exame" ou a sua intuição subjetiva. Tais princípios haviam de esfacelar o Cristianismo; logo três reformadores (Lutero, Zvínglio e Calvino) fundaram três novas modalidades de Cristianismo no século XVI; por sua vez, as comunidades reformadas foram reformadas e reformadas sucessivamente, derivando-se deste processo centenas de denominações protestantes independentes umas das outras, porque dependentes da inspiração subjetiva do respectivo fundador.

Ademais os princípios da Reforma protestante fazem violência à própria Escritura, porque a desligam da Tradição oral, que lhe é anterior e sem a qual a Bíblia não pode ser devidamente entendida; cf. 2Ts 2, 5s.15; 3,6...

Eis por que o Concílio de Trento (1543-65) tomou medidas que preservassem os fiéis católicos dos males acarretados pelas proposições dos reformadores; assim:

a) declarou autêntica (isenta de erros teológicos) a Vulgata latina, tradução devida a S. Jerônimo (+420) e muito difundida entre os cristãos. Assim se dissiparia a confusão existente entre clérigos e leigos, que, em meio a múltiplas traduções, já não sabiam encontrar a pura mensagem bíblica. - O Concilio não quis afirmar que a tradução da Vulgata é lingüisticamente perfeita, mas tomou uma providência necessária no século XVI;

b) rejeitou o princípio do livre exame da Bíblia. Esta só pode ser entendida se iluminada por instâncias objetivas, especialmente pela Tradição, que o magistério da Igreja formula com a assistência do Espírito Santo;

c) proibiu edições da Bíblia sem o nome do autor responsável pela edição. Proibiu também a difusão do texto bíblico sem a autorização do Bispo diocesano;

d) estimulou o reflorescimento dos estudos bíblicos nos colégios, conventos e mosteiros.

O Concilio de Trento definiu mais uma vez o Cânon Bíblico incluindo os deuterocanônicos (Tb, Jt, Sab, Br, Eclo, 1/2 Mc), como já o tinham feito os Concílios do século IV. A prova de que o Concílio nada inovou é que o próprio Lutero traduziu os deuterocanônicos para o alemão; com efeito, na sua edição da Bíblia datada de 1534 encontra-se o texto dos sete deuterocanônicos, assim como os fragmentos de Ester 10,4-16,24, de Daniel 3,24-90; 13,1-14,42 e ainda a "Oração de Manassés" (Oração que a Tradição cristã não inclui no seu cânon). A persistência desses livros nas edições protestantes bem mostra que não foi o Concílio de Trento que os introduziu no catálogo bíblico, mas Lutero e a Tradição protestante os receberam da Tradição cristã medieval e antiga ou mesmo dos judeus de Alexandria. Foi somente no século XIX que as Sociedades Bíblicas protestantes deixaram de incluir nos seus exemplares da Bíblia os livros deuterocanônicos[1].

No tocante às traduções da Bíblia, o Papa Paulo V em 1564 aprovou as seguintes normas:

Regra III: "...(o uso) das traduções dos livros do Antigo Testamento poderá ser concedido, a juízo do Bispo, unicamente a homens doutos e piedosos sob a condição de que tais traduções sejam usadas apenas para esclarecer a Vulgata e melhor entender a S. Escritura... O uso das traduções do Novo Testamento realizadas por autores da primeira classe[2] a ninguém seja concedido, porque sua leitura costuma acarretar para os leitores pouca utilidade e grande perigo".

Regra IV: "Tendo-se evidenciado pela experiência que, se se permite a leitura da Sagrada Escritura em língua vernácula de maneira ordinária e indiscriminada, costuma originar-se, em virtude da temeridade dos homens, mais detrimento do que utilidade; é necessário neste particular seguir o juízo do Bispo ou do Inquisidor, a fim de que, ouvido o pároco ou confessor, se conceda a leitura da Bíblia em língua vernácula àqueles que se possa prever retirarão de tal leitura aumento de fé e de piedade sem prejuízo algum espiritual" (D.S., Enquirídio 1853s).

Estas disposições hão de ser entendidas dentro das circunstâncias históricas em que foram promulgadas; visavam à preservação da fé ameaçada pelo uso capcioso da Bíblia no século XVI. Tiveram por conseqüência a pouca difusão do texto sagrado entre os católicos e a falta de contato da piedade posterior com as suas fontes bíblicas; tornaram-se, por isto, ponto nevrálgico na disciplina da Igreja, de tal modo que os jansenistas dos séculos XVII/XVIII as impugnaram.

No século XIX multiplicaram-se as Sociedades Bíblicas protestantes, cuja finalidade era difundir a Bíblia em traduções vernáculas. Compreende-se que, na base dos princípios adotados no século XVI, a Igreja se opusesse a tais iniciativas, consideradas como perigosas para a reta fé.

A primeira advertência deu-se em 1816. Ao arcebispo católico que recomendava aos seus fiéis a Sociedade Bíblica fundada em São Petersburgo na Rússia, escrevia o Papa Pio VII:

"A Igreja Romana, segundo as prescrições do Concílio de Trento reconhece a edição Vulgata da Biblia e rejeita traduções feitas para outros idiomas, se não estiverem acompanhadas de notas provenientes dos escritos dos Padres e dos doutores católicos, a fim de que tão grande tesouro não seja exposto às corruptelas das novidades...

Se não poucas vezes lamentamos que tenham falhado na interpretação das Escrituras homens piedosos e sábios, como não deveremos recear grandes riscos se se entregarem as Escrituras traduzidas em vernáculo ao povo ignorante, que, na maioria dos casos, carece de discernimento e julga com temeridade?" (D.S., Enquirídio nº 2710s).

Em 1844 o Papa Gregório XVI escrevia:

"Não ignorais quanta diligência e sabedoria são necessárias para se traduzir fielmente a Palavra de Deus; em conseqüência, nada há de mais fácil do que nas traduções vernáculas, multiplicadas pelas Sociedades Bíblicas, se introduzirem erros gravíssimos, seja por imprudência, seja por fraude de tantos tradutores; tais erros, aliás, permanecem ocultos, para a perdição de muitos, dada a multidão e a variedade de tais Sociedades. Às Sociedades Bíblicas pouco ou nada interessa o fato de que os homens que lêem a Biblia em vernáculo, caiam em um ou outro erro; mais lhes importa que acostumem aos poucos a exercer o livre exame a respeito do sentido das Escrituras e a menosprezar as tradições divinas contidas na doutrina dos Padres e guardadas na Igreja Católica, repudiando assim o próprio magistério da Igreja" (D. S. Enquirídio nº 2771).

Declaração semelhante foi proferida pelo Papa Pio IX em 1846.

Tal posição da Igreja manteve-se até o começo do século XX. Era motivada por circunstâncias contingentes e se revestia de caráter disciplinar, não dogmático. Era, pois, reformável desde que desaparecessem as razões que inspiraram as apreensões decorrentes da difusão do texto sagrado em língua vernácula. Ora, realmente no século XX foi-se alterando o contexto histórico. O Papa S. Pio X (1903-14) deu início a uma renovação da piedade da Igreja, que fora profundamente marcada pela réplica ao protestantismo, ao jansenismo e às heresias dos últimos séculos; a atitude defensiva ou preservadora não podia deixar de empobrecer a piedade católica; fora necessária, mas não se podia manter por mais tempo; nem havia no século XX razões para mantê-la. A volta às fontes, que deve sua inspiração remota a São Pio X, compreenderia a restauração do espírito litúrgico, o recurso freqüente à S. Escritura e a renovação da catequese. Conscientes disto, entramos na história do século XX.


3. No século XX

Em 1920, o Papa Bento XV quis comemorar o 15º centenário da morte de S. Jerônimo publicando a encíclica Spiritus Paraclitus, na qual escreveu:

"Pelo que Nos toca, Veneráveis Irmãos, à imitação de São Jerônimo jamais deixaremos de exortar todos os fiéis cristãos a que leiam todos os dias principalmente os Santos Evangelhos de Nosso Senhor, os Atos e as epístolas dos Apóstolos, tratando de convertê-los em seiva do seu espírito e em sangue de suas veias" (Enquirídio Bíblico nº 477).

Quanto às disposições para bem aproveitar a leitura bíblica, o Pontífice as resumia nestes termos:

"Todo aquele que se aproxima da Biblia com espírito piedoso, fé firme, ânimo humilde e sincero desejo de aproveitar, nela encontrará e poderá degustar o pão que desce dos céus" (E. B. nº 489).

A atitude de Bento XV representava algo de novo na Igreja posterior ao Concílio de Trento, mas estava na linha de conduta pastoral do Papa anterior, São Pio X.

Pouco mais de dois decênios decorridos, o Papa Pio XII, na sua encíclica Divino Afflante Spiritu, recomendava por sua vez a difusão da Biblia entre os fiéis:

"Os prelados favoreçam e prestem ajuda às piedosas associações cuja finalidade é difundir entre os fiéis os exemplares das Sagradas Letras, principalmente dos Evangelhos, e procurem que nas famílias cristãs se faça ordenada e santamente a leitura diária das mesmas; recomendem eficazmente a S. Escritura traduzida para as línguas vernáculas com a aprovação da Igreja" (E. B. nº 566).

A orientação dos Pontífices foi assumida pelo Concílio do Vaticano II (1962-65), especialmente em sua Constituição Dei Verbum, c. 6, que trata da S. Escritura na vida da Igreja: um forte estímulo aí é dado à freqüentação cotidiana da Escritura por parte dos fiéis, como também à difusão do texto sagrado em línguas vernáculas:

"Este Sagrado Concílio exorta com ardor e insistência todos os fiéis, mormente os Religiosos, a que aprendam a eminente ciência de Jesus Cristo (Fl 3, 8) mediante a leitura freqüente das Divinas Escrituras, porque a ignorância das Escrituras é ignorância de Cristo. Debrucem-se, pois, gostosamente sobre o texto sagrado, quer através da Sagrada Liturgia, rica de palavras divinas, quer pela leitura espiritual, quer por outros meios que se vão espalhando..., com a aprovação e o estímulo dos pastores da Igreja. Lembrem-se, porém, de que a leitura da S. Escritura deve ser acompanhada da oração, para que seja possível o colóquio entre Deus e o homem; com Ele falamos quando rezamos; a Ele ouvimos quando lemos os divinos oráculos.

Compete aos sagrados pastores, depositários da doutrina apostólica, instruir oportunamente os fiéis que lhes foram confiados, no reto uso dos livros divinos, de modo particular do Novo Testamento, e sobretudo nos Evangelhos. E isto por meio de traduções dos textos sagrados, que devem ser acompanhados de notas necessárias e verdadeiramente suficientes para que os filhos da Igreja se familiarizem de modo seguro e útil com a Sagrada Escritura e se embebam do seu Espírito" (nº 25).

Como se vê, não poderia ser mais favorável ao uso da S. Escritura a atitude da Igreja contemporânea. As palavras de S. Jerônimo (t 420) tornaram-se norma da autoridade eclesiástica. As restrições foram impostas não ao texto latino, mas às traduções vernáculas, em virtude de fatores contingentes; a Igreja, como Mãe e Mestra, sente o dever de zelar pela conservação incólume da fé a Ela entregue por Cristo e ameaçada pelas interpretações pessoais de inovadores da pregação; eis por que lhe pareceu oportuno reservar o uso da Bíblia a pessoas de sólida formação cristã nos séculos em que as heresias pretendiam apoiar no texto sagrado as suas proposições perturbadoras. É, pois, para desejar que os estudiosos entendam os porquês da atitude da Igreja dos século XVI-XIX e hoje se sintam convidados a difundir a S. Escritura em comunhão com a Igreja e a sua Tradição.

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Notas:

[1] A Sociedade Bíblica de Londres, combatida na Inglaterra por estar publicando os livros deuterocanônicos, insistiu em seu procedimento e, para assegurá-lo, fundou a "Sociedade Bíblica Francesa e Estrangeira", que continuou a editar os sete livros impugnados pelos protestantes, mas que finalmente cedeu às pressões contrárias.

[2] Trata-se de autores mencionados nominalmente em outro documento.


O conceito de inspiração implica na inerrância bíblica, em sua infalibilidade. No entanto, devemos compreender a extensão dessa infalibilidade...

Todas as coisas possuem limites: não é diferente para a Bíblia!

Não poucas vezes, nos defrontamos com pessoas que querem "provar" a todo custo que a Bíblia está cheia de erros científicos, não possui harmonia entre seus vários livros, cai diversas vezes em contradição e tem diversas passagens lendárias. E chegam a exemplificar:

Ao abandonar seus pais, com quem Caim se casou, já que não havia mulheres filhas de Adão e Eva? (Gn 4,17);
Quantos soldados havia em Israel e em Judá? 800 mil e 500 mil, respectivamente, segundo 2Sm 24 ou 1100 e 470 mil, respectivamente, segundo 1Cr 21?;
Mateus atribui ao profeta Jeremias uma profecia de Zacarias (Mt 27,9);
Judas se suicidou por enforcamento (Mt 27,5) ou por pular em um precipício (At 1,18)?
e os exemplos se multiplicam...
Tais argumentos fazem aparecer pessoas "iluminadas" que, crendo na total infalibilidade da Bíblia, encontram respostas inúteis, tais como defender que Judas se enforcou numa árvore próxima de um abismo, tendo caído neste assim que a corda se rompeu!!! Da mesma forma, Galileu Galilei quase foi queimado pela Inquisição por defender que a terra girava em torno do sol e não o contrário, como todos até então acreditavam; isso porque parecia contradizer a passagem de Js 10,12-13, que afirma que o sol parou por ordem de Josué.

Vemos, assim, que tais discussões são inúteis e extremadas! Tudo por causa do conceito de inerrância ou infalibilidade da Bíblia que não é visto de acordo com a verdade. E qual é a verdade? É que a Bíblia é um livro de fé e não um livro de ciências! É infalível para doutrinas da religião, mas não o é para a ciência.

Deus, quando inspirou os homens que escreveram a Bíblia, esmerou-se por se fazer entender pela humanidade e, para isso, comunicou as verdades da fé usando a linguagem simples da época, que ainda era muito pobre em conhecimentos científicos. Mas não poderia ser diferente! Se Jesus falasse de computadores, aviões e televisão em suas parábolas seria entendido por aquele povo? Haveria o Cristianismo hoje se seus apóstolos pregassem algo que não conhecessem???

Para nós que cremos em Deus, não interessa saber se a ordem da Criação está certa ou errada, se a princípio foi criado somente um casal de cada espécie ou não... para nós, o que nos interessa mesmo é saber - e ter a certeza - de que Deus criou tudo no universo: os astros, as estrelas, a terra, os animais e o gênero humano; interessa-nos saber que Deus nos ama, apesar de termos pecado contra Ele (pouco importando se foi porque comemos o fruto de uma árvore, mas porque de alguma forma o desobedecemos). Devemos saber que, por Seu Amor, Deus nos mandou seu Filho único, verdadeiro Deus feito homem, que nos libertou de uma vez por todas do pecado e nos alcançou a salvação... e por aí vai.

Concluímos afirmando que a Bíblia é, portanto, infalível nos assuntos de fé, como sempre foi e sempre será, não devendo invadir o campo da ciência, da mesma forma como esta também não deve se intrometer nos assuntos de fé, para os quais permanece incompetente.


O Apocalipse, com seus símbolos e suas cenas aterradoras, presta-se à tentativa de se calcular a data do fim do mundo e das calamidades que, como se crê, o devem preceder. Visto que a interpretação do livro não é fácil, pois requer critérios precisos deduzidos do próprio gênero literário apocalíptico, vamos, a seguir, apresentar o problema suscitado pelo livro e a solução mais plausível para o mesmo.

Dividiremos a nossa exposição em cinco partes:


Que é um Apocalipse?
O contexto histórico do Apocalipse de São João
A interpretação do Apocalipse
Questões especiais
Conclusão

QUE É UM APOCALIPSE?
A palavra grega apokálypsis quer dizer revelação. O gênero literário das revelações (ou apocalíptico) teve grande voga entre os judeus nos dois séculos imediatamente anteriores e posteriores a Cristo. A sua origem se deve principalmente ao fato de que os autênticos profetas foram escasseando em Israel após o exílio babilônico (587-538 a.C.); os últimos profetas bíblicos - Ageu, Malaquias e Zacarias - exerceram o seu ministério nos séculos VI e V a.C. Ora após o séc. V o povo de Israel continuou sujeito ao jugo estrangeiro: retornando do exílio babilônico em 538 a.C., ficou sob o domínio persa até Alexandre Magno (336-323 a.C.) da Macedônia, que conquistou a terra de Israel, anexando-a ao Império Macedônico. Após a morte do Imperador, a Palestina ficou sob os egípcios (dinastia dos Ptolomeus) até o ano de 200 a.C. Nesta data, os sírios ocuparam e dominaram a terra de Israel, constituindo aí o período dos Antíocos ou Selêucidas. Finalmente, os Romanos em 63 a.C. invadiram o território palestinense e impuseram seu jugo aos judeus, jugo que perdurou até que o povo de Israel foi expulso da sua terra em 70 d.C. (queda e ruína de Jerusalém revoltada). Ora nessas duras circunstâncias de vida o povo de Israel, não tendo profeta, sentia necessidade de ser consolado e alentado para não desfalecer. Foi então que os autores judeus se puseram a cultivar mais assiduamente o gênero literário apocalíptico ou da revelação, que tem afinidade com a profecia, mas, na verdade, não se identifica com esta.

O apocalipse (revelação) tende a incutir aos leitores uma confiança inabalável na Providência Diviria. Todavia, em vez de o fazer de maneira escolar ou meramente teórica, exortando à fé, o autor recorre a um artifício: atribui a um famoso personagem bíblico do passado (Enoque, Moisés, Elias, Daniel) ou a um anjo do Senhor revelações proféticas a respeito da época que ele e seus correligionários estão vivendo. Esse personagem famoso antigo descreve os tempos atribulados que os leitores experimentam e assegura que a tormenta passará, devendo a causa de Deus triunfar da facção dos ímpios; estes serão prostrados, pois ocorrerão em breve o juízo final da história e a consumação dos tempos. É isto que dá ao apocalipse a aparência de profecia; todavia note-se que o autor, ao descrever os fatos de sua época (como se tivessem sido preditos por Enoque ou Moisés...), os descreve na base de suas observações e experiências pessoais. O recurso a personagem famoso da Antigüidade como revelador da mensagem é artifício próprio do gênero apocalíptico: tende a incutir mais ânimo e esperança nos leitores; com efeito, se o próprio autor sagrado, contemporâneo dos leitores imediatos, predissesse dias melhores, não teria a mesma autoridade que era inegavelmente reconhecida a Enoque, Moisés, Elias, Daniel... Por sua vez, o escritor sagrado tinha fundamentos para consolar seus companheiros perseguidos e predizer a vitória final do bem sobre o mal, porque esta é anunciada por todas as profecias e promessas feitas a Israel. O autor de um apocalipse nada acrescenta de novo a essas promessas; apenas as torna atuais, repetindo-as de maneira solene e enfática em momento penoso da história do seu povo e anunciando para breve o cumprimento das mesmas. De resto, a Salvação, já oferecida por Deus em fases anteriores de tribulações de Israel, era penhor de que, também dessa vez, o Senhor não abandonaria seu povo.

As páginas mais tipicamente apocalípticas do Antigo Testamento são os capítulos 7 a 12 do livro de Daniel. Estas secções foram escritas no séc. II a.C. sob o domínio dos sírios ou Antíocos na Palestina; atribuem a Daniel, famoso varão do séc. VI a.C., a descrição simbolista dos acontecimentos que se desenrolaram desde o domínio persa (séc. VI a.C.) até o domínio sírio (séc. II a.C.); em estilo de sonhos e visões, são apresentados os reis persas, macedônios, egípcios, sírios que imperaram sobre Israel até Antíoco IV Epifânio (175-164); para os tempos deste, o autor apocalíptico anuncia a intervenção final de Deus e salvação a ser trazida pelo Messias. Não é fácil entender um apocalipse, visto que utiliza exuberante simbolismo e coloca o leitor diante de um cenário cósmico, que conjuga o céu e a terra.

Mais precisamente, podem-se assim caracterizar os elementos formais do gênero apocalíptico:


A pseudonímia do autor. Este é um contemporâneo dos seus primeiros leitores, mas fala-lhes como se fosse um personagem antigo e venerável. É o que se vê claramente, por exemplo, no livro de Daniel. No Apocalipse de São João é um anjo quem revela.

O caráter esotérico (ou reservado) das revelações. Estas terão sido comunicadas outrora ao venerável personagem da Antigüidade; deviam, porém, ficar em segredo até os dias do autor do apocalipse. Veja-se, por exemplo, Dn 8,26; 12,9.

Freqüentes intervenções de anjos. Estes aparecem, nos apocalipses, ora como ministros de Deus que colaboram com a Providência Divina na dispensação da salvação aos homens, ora como intérpretes das visões ou revelações que o autor do livro descreve. Cf. Ez 40,3; Zc 2,1s; 2,5-9; 5,1-4; 6,1-8; Ap 7, 1-3; 8, 1-13.

Simbolismo rico e, por vezes, singular. Animais podem significar homens e povos; feras e aves representam geralmente as nações pagãs; os anjos bons são descritos como se fossem homens, e os maus como estrelas caídas. O recurso aos números é freqüente, explorando-se então o simbolismo dos mesmos (3, 7, 10, 12, 1000 como símbolos de bonança; 3 1/2 (como símbolo de penúria e tribulação). É a exuberância do simbolismo dos apocalipses que torna difícil a compreensão dos mesmos; o leitor ou intérprete deve procurar entender esse simbolismo a partir de passagens bíblicas e extra-bíblicas paralelas (na verdade, há símbolos que se repetem com a mesma significação: gafanhotos, águias, cedro, três anos e meio, mil anos...). Os autores de apocalipses são assaz livres ao conceber seus símbolos, suas visões e personificações; propõem cenas estranhas sem se preocupar com a sua verossimilhança; cf., por exemplo, a Jerusalém nova em Ap 21,127; Ez 47,1-12.

Forte nota escatológica. Os apocalipses se voltam todos para os tempos finais da história e os descrevem com grandiosidade, apresentando a intervenção solene de Deus em meio a um cenário cósmico, o julgamento dos povos, o abalo da natureza, a punição dos maus e a exaltação dos bons (estando reservado para Israel nesse contexto um papel de relevo e recompensa). Este traço diferencia bem da profecia o apocalipse. A profecia é sempre uma palavra dita em nome de Deus (propheemi = dizer em lugar de); todavia nem sempre visa ao futuro; refere-se muitas vezes a situações do presente, procurando sacudir os homens de sua indiferença religiosa ou da hipocrisia de vida, levando-os a conduta moral mais digna e correta; a profecia tem, sim, um caráter fortemente moralizante, válido para os contemporâneos, mas nem sempre voltado para o futuro ou a escatologia. Ao contrário, nos apocalipses a índole moralizante desaparece quase por completo; o que preocupa o autor sagrado são os acontecimentos finais da história, que redundarão em derrota definitiva dos maus e prêmio para os bons; as visões, os sonhos e os símbolos fantasistas (que já os profetas cultivavam, mas com sobriedade) tornam-se o elemento dominante na forma literária dos apocalipses.

O gênero literário apocalíptico foi-se formando, com suas diversas características, através dos séculos ou paulatinamente. Já se encontram alguns de seus elementos nos escritos dos profetas, antes do séc. II a.C. Há mesmo passagens de profetas que têm estilo apocalíptico, como pode haver nos escritos apocalípticos trechos de índole profética. Assim no livro de Daniel são tidas como proféticas as passagens de Dn 2,34.44s; 7,9-14; 12,1-3.

CIRCUNSTÂNCIAS DE ORIGEM DO APOCALIPSE DE SÃO JOÃO
1. No fim do séc. I d.C. tornava-se cada vez mais penosa a situação dos cristãos disseminados no Império Romano. Em verdade, o Senhor Jesus deixou este mundo, intimando aos discípulos para que aguardassem a sua volta gloriosa; não lhes quis indicar, porém, nem o dia nem a hora de sua vinda, pois esta deveria ser tida como a de um ladrão que aparece imprevistamente à meia-noite (cf. Mt 24,43; 1 Ts 5,2s); vigiassem, pois, e orassem em santa expectativa. Todavia, apesar da sobriedade das palavras de Jesus, os discípulos esperavam que a sua vinda se desse em breve, enquanto ainda vivesse a geração dos Apóstolos mesmos. À medida, porém, que se passavam os decênios, essa esperança se dissipava; a não poucos parecia que Cristo havia esquecido a sua Igreja e que vão era crer no Evangelho.

A situação se tornara ainda mais angustiosa desde que Nero, em 64, desencadeara a primeira perseguição violenta contra os cristãos. "Ser discípulo de Cristo" equivalia, daquela ocasião em diante, a ser tido como "inimigo do gênero humano": manifestava-se cada vez mais a oposição entre mentalidade cristã e mentalidade pagã, de modo que, vivendo em plena sociedade pagã, os cristãos tinham não raro que se abster das festas de família, das celebrações cívicas, dos jogos públicos, até mesmo de certas profissões e ramos de negócio (pois através de todos esses meios se exprimia a mentalidade politeísta e supersticiosa reinante).

Em particular, na Ásia Menor o ambiente era carregado de maus presságios: lá ia tomando proporções cada vez mais avultadas o culto dos Imperadores, a ponto de se tornar a pedra de toque da fidelidade de um cidadão romano à pátria. Desde 195 a.C. a cidade de Esmirna possuía um templo consagrado à deusa Roma; em 26 d.C. os esmimenses ergueram outro santuário em honra de Tibério, Lívio e do Senado. Em Pérgamo, desde 29 a.C., fora instituído o culto do Imperador. A cidade de Éfeso, nos inícios do reinado de Augusto, construíra um altar dedicado a este soberano no recinto do "Artemision" ou templo de Diana. Os habitantes da Ásia Menor eram especialmente inclinados a tal forma de culto, pois se sentiam altamente beneficiados pelos governantes de Roma, que haviam posto termo às guerras civis na região, assegurando à população prosperidade na indústria, no comércio e na cultura em geral.

Ademais outro perigo para o Cristianismo se fazia notar na Ásia Menor em fins do séc. I. A gente dessa região era dotada de exuberante alma religiosa, de sorte que dava acolhida não somente às religiões tradicionais do Império e ao Cristianismo, mas também a formas de culto ditas "dos mistérios" (de Mitra, Cibele, Apolo...), recém-trazidas do Oriente. Tais mistérios fascinavam pela sua índole secreta e por sua promessa de divinização.

Esse estado de coisas permite tirar a seguinte conclusão: na Ásia Menor uma religião que, como o Cristianismo, professasse rigorosamente um Deus único e transcendente manifestado por um só Salvador, Jesus, devia necessariamente defrontar-se em breve com formidável aliança de todas as forças do paganismo: sistemas religiosos, interesses políticos, planos econômicos deviam armar-se num combate unânime e cerrado contra o monoteísmo cristão; ser discípulo de Cristo, em tais circunstâncias, significaria sofrer o ódio e o boicote geral de parentes, amigos e concidadãos não cristãos, de tal modo que até mesmo na vida cotidiana do lar o cristão se sentiria sufocado por causa de sua fé. A situação sugeria a não poucos discípulos de Jesus ou a apostasia em relação ao Divino Mestre ou uma espécie de pacto com as idéias do paganismo, de sorte a dar origem ao sincretismo religioso (caracterizado principalmente pelo dualismo ou o repúdio à matéria que a mística oriental muito propalava). Foi em tais circunstâncias sombrias que São João quis escrever o Apocalipse.

2. A finalidade do livro torna-se assim evidente. O autor sagrado visava, acima de tudo, a alentar nos seus fiéis a coragem depauperada; o Apocalipse, em conseqüência, é essencialmente o livro da esperança cristã ou da confiança inabalável no Senhor Jesus e nas suas promessas de vitória. Pergunta-se então: como terá São João procurado levantar o ânimo e corroborar a esperança dos leitores? Haverá, em nome de Deus, prometido dias melhores aqui na terra em recompensa da fidelidade a Cristo, de maneira que quem fosse hostilizado por causa do Senhor Jesus viria a ser estimado pelos concidadãos e acariciado por prósperas condições de vida temporal (economia feliz, saúde, sucesso nos empreendimentos...)?


A INTERPRETAÇÃO DO APOCALIPSE
Como se compreende, grande é o número de sistemas que tentam interpretar o Apocalipse. Todos concordam sobre o sentido geral do livro, que quer anunciar a vitória do Bem sobre o mal, do reino de Cristo sobre as maquinações dos pecadores. Divergem, porém, quando tentam indicar a época precisa em que o Apocalipse situa essa vitória. As diversas teorias se agrupam sob os títulos seguintes:


Sistema dito "escatológico" ou do fim dos tempos: São João estaria descrevendo os embates finais da história. Esta interpretação esteve em voga na antigüidade; foi posta de lado na Idade Média; do século XVI aos nossos dias é mais e mais prestigiada principalmente por parte de correntes que profetizam o fim do mundo para breve;

Sistema da história antiga (do século I aos séculos IV/V): o Apocalipse descreveria a luta do judaísmo e do paganismo contra os discípulos de Cristo, luta que terminou com a queda da Roma pagã (476) e o triunfo do Cristianismo;

Sistema da história universal: o Apocalipse apresentaria, sob a forma de símbolos, uma visão completa de toda a história do Cristianismo; descreveria sucessivamente os principais episódios de cada época e do fim do mundo.
Todas estas interpretações são, de algum modo, falhas, pois não levam em conta suficiente o estilo próprio do livro e querem deduzir do Apocalipse notícias que satisfaçam aos anseios de concreto ou mesmo à curiosidade do leitor. Por isto, deixando-as de lado, proporemos a teoria da recapitulação, que tem seu grande mestre no Pe. E. B. Alio O.P., professor da Universidade de Friburgo (Suíça) e autor do livro: Saint Jean. L'Apocalypse. Paris, 1933 (4á edição)'. Examinemos essa teoria:

A Recapitulação

Antes do mais, é necessário observar que nem todo o livro do Apocalipse está redigido em estilo apocalíptico. Compreende duas partes anunciadas em Ap 1,19:


1,4-3,22: as coisas que são (revisão da vida das sete comunidades da Ásia Menor às quais São João escreve); o estilo é sapiencial e pastoral;

4,1-22,15: as coisas que devem acontecer depois. Esta é a parte apocalíptica propriamente dita, para a qual se volta a nossa atenção. Observemos a estrutura dessa parte:

4,1-5,14: a corte celeste, com sua liturgia. O Cordeiro "de pé, como que imolado" (5,6), recebe em suas mãos o livro da história da humanidade. Tudo o que acontece no mundo está sob o domínio desse Senhor, que é o Rei dos séculos. Notemos assim que a parte apocalíptica do livro se abre com uma grandiosa cena de paz e segurança; qualquer quadro de desgraça posterior está subordinado a essa intuição inicial.

O corpo do livro, que se segue, compreende três septenários: 6,1-8,1: os sete selos 8,2-11,18: as sete trombetas 15,5-16,21: as sete taças. Reflitamos sobre este núcleo central (de sentido decisivo) do Apocalipse.
Pergunta-se: uma estrutura tão artificiosamente construída poderá ainda ser o reflexo imediato da história tal como ela é vivida pelos homens? Não seria, antes, o fruto de um arranjo lógico ou do trabalho de um espírito que reflete sobre os acontecimentos e procura discernir alguns fios condutores por debaixo das diversas ocorrências da vida cotidiana? Sabemos que o estilo de São João é comparado ao vôo de uma águia que gira em torno do objeto contemplado até finalmente dar o bote ou dizer claramente o que quer. Levando em conta esta peculiaridade de estilo, podemos dizer que o autor sagrado não expõe os sucessivos acontecimentos concretos da história do Cristianismo, mas apresenta a realidade invisível que se vai afirmando constantemente por detrás dos episódios visíveis da história. Em outros termos: o Apocalipse apresenta (sob forma de símbolos) a luta entre Cristo e Satanás, luta que é o fundo e a coluna dorsal de toda a história. Cada septenário (o dos selos, o das trombetas e o das taças) é conseqüentemente uma peça literária completa em si mesma; o número 7, aliás, significa plenitude ou totalidade, segundo a mística dos antigos.


A seguir, de 17,1 a 22,15, ou seja, após os três septenários, ocorre a queda dos agentes do mal:

17,1-19,10: a queda de Babilônia (símbolo da Roma pagã);
19,11-21: a queda das duas Bestas que regem Babilônia (o poder imperial pagão e a religião oficial do Império);
20,1-15: a queda do Dragão, supremo instigador do mal.

Em contra-parte, a secção final (21,1-22,15) mostra a Jerusalém celeste, Esposa do Cordeiro e antítese da Babilônia pervertida. Os vv. 22,16-21 constituem o epílogo do livro. Aprofundemos um pouco mais o sentido do tríplice septenário central do Apocalipse.
O primeiro, o dos selos (6,1-8,1), nos dá a ver a paulatina abertura do livro que está nas mãos do Cordeiro. É o septenário mais sóbrio e nítido, que, podese dizer, resume o livro inteiro; examinemo-lo de perto:


o primeiro selo corresponde a "um cavalo branco, cujo montador tinha um arco. Deram-lhe uma coroa e ele partiu vencedor e para vencer ainda" (5,2). O cavalo branco reaparece em 19,11-16; seu montador é o Senhor dos Senhores e o Rei dos Reis (19,16). - Conseqüentemente dizemos que o primeiro septenário se abre com uma figura alvissareira: a do Verbo de Deus ou Evangelho que, vencedor (porque já propagado no mundo), se dispõe a mais ainda se difundir. Sobre este pano de fundo vêm os três flagelos clássicos da história:

o segundo selo corresponde ao cavalo vermelho, símbolo da guerra (6,3s);

o terceiro selo é o do cavalo negro, símbolo da fome negra e da carestia que a guerra acarreta (6,5s);

o quarto selo é o do cavalo esverdeado, símbolo da peste e da morte decorrentes da guerra e da fome (6,7s).
Aí estão os três flagelos que afligem os homens em todos os tempos e que a Bíblia freqüentemente menciona; cf. Lv 26,23-29; Dt 32,24s; Ez 5,17; 6,11-12; 7,15; 12,16.


Depois disto, o quinto selo apresenta os mártires no céu pedindo a Deus justiça para a terra ou o fim da desordem que campeia no mundo. Reproduzem o clamor dos justos de todos os tempos ansiosos de que termine a inversão dos valores na história da humanidade. Em resposta, é-lhes dito que tenham paciência e aguardem que se complete o número dos habitantes da Jerusalém celeste; cf. 6,9-11.

o sexto selo já nos põe em presença do desfecho da história: chegou o Grande Dia do juízo final (6,17). Aparecem então os justos na bem-aventurança celeste: os judeus representados por 144.000 assinalados, e os provenientes do paganismo, a constituir "uma multidão inumerável de todas as nações, tribos, povos e línguas" (7,9); celebram a liturgia celeste. Aqui se encerra propriamente o primeiro septenário; compreende em suas grandes linhas os aspectos aflitivos da história da humanidade e o anseio dos justos para que a ordem se restabeleça; a consumação da história é, para os fiéis, vitória e felicidade. A consolação que São João quer transmitir aos seus leitores, consiste precisamente em mostrar que as calamidades sob as quais os homens gemem, estão envolvidas num plano sábio de Deus, onde todos os males estão dimensionados para que sirvam à salvação das criaturas e à glória do Criador. Eis aí a síntese do Apocalipse apresentada com clareza no primeiro septenário.

E o sétimo selo (8,1)? Corresponde a um silêncio de meia-hora. Sim, o livro se abriu por completo. O vidente espera a execução dos desígnios de Deus contidos no livro aberto. Este silêncio de meia-hora é o "gancho" do qual pende o segundo septenário. O segundo e o terceiro septenários (8,2-11,18 e 15,5-16,21) retomam o conteúdo do primeiro com algumas variantes. Observemos, para começar, que terminam cada qual com a consumação da história (sétima trombeta em 11,1418 e sétima taça em 16,17-21). O segundo septenário tem em vista principalmente os flagelos que afligem o mundo profano: a terra, a vegetação, as águas, os astros... Ao contrário, o terceiro septenário tem em mira as sortes da Igreja perseguida pelo Dragão (Satanás) e seus dois agentes (o poder imperial pagão, que manipula a religião oficial do Estado pagão). Observemos dentro do segundo septenário o "gancho" do qual pende o terceiro septenário: em Ap 10,8-11 é entregue a João um livrinho, doce na boca e amargo no estômago. Como entender isto? - O segundo septenário apresenta a execução do plano de Deus contido no livro cujos selos se abriram. Portanto, se deve haver outra série de revelações, deve haver também outro livro que as traga; é precisamente este que João recebe em 10,811 (amargo no estômago, porque portador de notícias pesadas para os cristãos fiéis).

Merece atenção especial o intervalo ocorrente entre o segundo e o terceiro septenários, ou seja, a secção de 11,19 a 15,4. Ele prepara a série das taças, apresentando os grandes protagonistas da história da Igreja: a Mulher e o Dragão no capítulo 12; as duas Bestas, manipuladas pelo Dragão, sendo que a primeira sobe do mar (quem olha da ilha de Patmos para o grande mar, se volta para Roma) e representa o poder imperial perseguidor, ao passo que a segunda Besta sobe da terra (quem de Patmos olha para o continente próximo, volta-se para a Ásia Menor, onde campeia o culto religioso do Imperador); ver respectivamente Ap 13,1 e 11. A sede capital destes dois agentes é Babilônia (= a Roma pagã). O cap. 12, ao apresentar a Mulher e o Dragão, é também uma síntese da mensagem da Apocalipse e da história da Igreja, que será comentada na quarta parte deste estudo. - Como dito, os agentes do mal estão fadados a perecer, como se lê em 17,1-20,15, dando lugar à Jerusalém celeste e à bem-aventurança dos justos.
Por conseguinte as calamidades que o Apocalipse apresenta a se desencadear sobre o mundo, não hão de ser interpretadas ao pé da letra; antes, depreender-se-á o seu sentido à luz das cenas de paz e triunfo que o autor sagrado intercala entre as narrativas de flagelos (enquanto os justos padecem na terra, há plena segurança no céu, conforme o Apocalipse). Justapondo aflições (na terra) e alegria (no céu), São João queria precisamente dizer aos seus leitores que as tribulações desta vida estão em relação estrita com a Sabedoria de Deus; foram cuidadosamente previstas pelo Senhor, que as quis incluir dentro de um plano muito harmonioso, plano ao qual nada escapa. Em conseqüência, ao padecer as aflições da vida cotidiana, os cristãos se deviam lembrar de que tais adversidades não esgotam toda a realidade, mas são apenas as facetas externas e visíveis de uma realidade que tem seu aspecto celeste e grandioso; as calamidades, portanto, sob as quais os cristãos do primeiro século se sentiam prestes a desfalecer, não os deveriam impressionar; constituíam como que o lado avesso e inferior de um tapete que, visto no seu aspecto autêntico e superior, é um verdadeiro tapete oriental, cheio de ricas cores e belos desenhos.

Eis a forma de consolo que o autor sagrado queria incutir aos seus leitores (não só do séc. I, mas de todos os tempos da história): os acontecimentos que nos acometem aqui na terra são algo de ambíguo ou algo que tem duas faces: uma exterior, visível, a qual é muitas vezes aflitiva e tende a nos abater; outra, porém, interior, invisível aos olhos da carne (mas perceptível aos olhos da fé), a qual é grandiosa e bela, pois faz parte da luta vitoriosa do Bem sobre o mal; é mesmo a prolongação da obra do Cordeiro que foi imolado, mas atualmente reina sobre o mundo com as suas chagas glorificadas (cf. c. 5). Por isto, enquanto os cristãos na terra gemem (Ai, ai, ai!), os bem-aventurados na glória cantam (Aleluia, aleluia, aleluia!).

No céu os justos não se acabrunham com o que acontece de calamitoso na terra; antes continuam a cantar jubilosamente a Deus porque percebem o sentido verdadeiro das nossas tribulações. Pois bem, quer dizer São João, essa mesma paz e tranqüilidade deve tornar-se a partilha também dos cristãos na terra, pois, embora vivam no tempo e no mundo presentes, já possuem em suas almas a eternidade e o céu sob forma de gérmen (o gérmen da graça santificante, que é a semente da glória celeste).

Assim o Apocalipse oferece uma imagem do que é a vida do cristão ou, mais amplamente, a vida da Igreja: é uma realidade simultaneamente da terra e do céu, do tempo e da eternidade. Na medida em que é da terra e do tempo, apresenta-se aflitiva; este aspecto, porém, está longe de ser essencial; no seu âmago, a vida do cristão é celeste e, como tal, é tranqüila, à semelhança da vida dos justos que no céu possuem em plenitude aquilo mesmo que os cristãos possuem na terra em gérmen.


DOIS TEXTOS EM PARTICULAR
Examinaremos mais precisamente Ap 12,1-17 e 20,1-10.


Ap 12,1-17
Este capítulo sintetiza toda a história da Igreja sob a forma de luta entre a Mulher e o Dragão, figuras paralelas às da Mulher e da serpente em Gn 3,15. Em poucas palavras, este trecho apresenta uma Mulher gloriosa e dolorida ao mesmo tempo. Está para dar à luz um filho que um monstruoso Dragão espreita para abocanhá-lo. A Mulher gera seu Filho, que tem os traços do Messias; Ele escapa ao Dragão e é arrebatado aos céus. Dá-se então uma batalha entre Miguel com seus anjos e o Dragão; este acaba sendo projetado do céu sobre a terra, onde procura abater a Mulher-Mãe, perseguindo-a de diversos modos. Todavia o próprio Deus se encarrega de defender a Mulher no deserto durante os três anos e meio ou os 42 meses ou os 1260 dias de sua existência.

Vendo que nada pode contra essa figura grandiosa, a Serpente antiga atira-se contra os demais filhos da Mulher, tentando perdê-los. Que significa este capítulo? Está claro que o Dragão representa Satanás, aquele que é "mentiroso e homicida desde o início" (cf. Jo 8,44).

Quanto à Mulher, não pode ser identificada com algum personagem individual, mas é a Mulher que perpassa toda a história da salvação. Com efeito; já à primeira Eva (= Mãe dos vivos ou da vida) Deus prometeu um nobre papel na obra da Redenção. A primeira Eva (= Mãe da Vida) se prolongou na Filha de Sion (o povo de Israel, do qual nasceu o Messias); a filha de Sion culminou na segunda Eva, Maria SS., que teve a graça de ser pessoalmente a Mãe de Redentor; por isto em Ap 12,1s a Mulher é gloriosa como Maria, mas dolorida como o povo de Israel. A maternidade de Maria continua na da Santa Mãe Igreja; esta tem a garantia da incolumidade (cf. Mt 16,18) que Cristo lhe prometeu, mas os filhos que ela gera nas águas do Batismo estão sujeitos a ser atingidos pela sanha do Dragão, que age neste mundo como um Adversário já vencido, mas cioso de arrebanham os incautos que lhe dêem ouvidos (S. Agostinho diz que o demônio é um cão acorrentado; pode ladrar, fazendo muito barulho, mas só morde a quem se lhe chegue perto). Por último, a Mulher-Mãe, que exerce sua maternidade por toda a história da salvação, se consumará na Jerusalém celeste, a Esposa do Cordeiro (Ap 21 s).

A batalha entre Miguel e o Dragão não corresponde à queda original dos anjos, mas significa plasticamente a derrota de Satanás, vencido quando Cristo venceu a morte por sua Ressurreição e Ascensão. Deus lhe permite tentar os homens nestes séculos da história da Igreja, com um fim providencial, ou seja, a fim de provar e consolidar a fidelidade dos mesmos. Satanás só age por permissão de Deus. A duração de 1260 dias ou 3 e 1/2 anos que a Mulher passa no deserto, não designa cronologia, mas tem valor simbólico. Com efeito, 3 e 1/2 anos, 42 meses e 1260 dias são termos equivalentes entre si; correspondem à metade de 7 anos. Ora, sendo 7 o símbolo da totalidade, da perfeição e, por conseguinte, da bonança, a metade de 7 vem a ser o símbolo do inacabamento e da dor. Portanto, 3"z anos (e as expressões equivalentes em meses e dias) no Apocalipse designam toda a história da Igreja na medida em que é algo de ainda não rematado ou na medida em que é luta penosa entre a primeira e a segunda vinda de Cristo, no deserto deste mundo.


Ap 20,1-10
É este o trecho que fala de aparente reino milenar de Cristo sobre a terra, estando Satanás acorrentado. O milênio seria inaugurado pela ressurreição primeira, reservada aos justos apenas, aos quais seria dado viver em paz e bonança com Cristo. Terminado o milênio, Satanás seria solto para realizar a sua invectiva final, que terminaria com a sua perda definitiva. Dar-se-iam então a ressurreição segunda, para os demais homens, e o juízo final. A teoria milenarista, entendida ao pé da letra, foi professada por antigos escritores da Igreja (S. Justino +165, S. Ireneu +202, Tertuliano + após 220, Lactâncio + após 317...) Todavia S. Agostinho (+430) propôs novo modo de entender o texto - o que excluiu definitivamente a interpretação literal; o S. Doutor baseou-se em Jo 5,25-29, onde se lê: `Em verdade, em verdade vos digo, aquele que ouve a minha palavra... passou da morte para a vida. Em verdade, em verdade vos digo, que vem a hora, e já veio, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus e os que a ouvirem viverão.

Não vos admireis disto, pois vem a hora em que ouvirão sua voz todos os que estão nos sepulcros. Os que praticaram o bem sairão para a ressurreição da vida, os que, porém, praticaram o mal, sairão para a ressurreição do juízo". Nesse trecho, o Senhor distingue duas ressurreições: uma, que se dá "agora" ("e já veio"), no tempo presente, quando ressoa a pregação da Boa Nova; é espiritual, devida ao Batismo; equivale à passagem do pecado original para a vida da graça santificante. A outra é simplesmente futura e se dará no fim dos tempos, quando os corpos forem beneficiados pela vida nova agora latente nas almas.

Por conseguinte, no Apocalipse a ressurreição primeira é a passagem da morte para a vida que se dá no Batismo de cada cristão, quando este começa a viver a vida sobrenatural ou a vida do céu em meio às lutas da terra. A ressurreição segunda é, sim, a ressurreição dos corpos, que se dará quando Cristo vier em sua glória para julgar todos os homens e pôr termo definitivo à história.

Mil anos, em Ap 20,1-10, designam a história da Igreja na medida em que é luta vitoriosa ("mil" é um símbolo de plenitude, de perfeição; "mil felicidades", na linguagem popular, são "todas as felicidades"). Pela Redenção na Cruz, Cristo venceu o Príncipe deste mundo (cf. Jo 12,31), tornando-o semelhante a um cão acorrentado, que muito pode ladrar, mas que só pode morder a quem voluntariamente se lhe chegue perto (S. Agostinho). É justamente esta a situação do Maligno na época que vai da primeira à segunda vinda de Cristo ou no decurso da história do Cristianismo; por isto os três anos e meio que simbolizam o aspecto doloroso desses séculos (já estamos no vigésimo século), são equivalentes a mil anos, caso queiramos deter nossa atenção sobre o aspecto feliz, transcendente ou celeste da vida do cristão que peregrina sobre a terra; a graça santificante é a semente da glória do céu.

Assim se vê quanto seria contrário à mentalidade do autor sagrado tomar ao pé da letra os mil anos do c. 20 e admitir um reino milenário de Cristo visível na terra após o currículo da história atual.


CONCLUSÃO
O sistema da recapitulação assim proposto merece francamente ser preferido aos demais, pois é o que mais leva em conta a mentalidade e o estilo do autor sagrado São João; este, também no seu Evangelho, recorre às repetições ou ao estilo de recapitulação em espiral.

Contudo ninguém negará as alusões do Apocalipse a personagens da história antiga (Nero, a invasão dos bárbaros, Roma, Babilônia...). Mediante essas referências, São João não tinha em vista deter a atenção do seu leitor sobre episódios da Antigüidade, mas apenas mencionar tipos característicos de mentalidades humanas ou de situações de vida que acompanham toda a história da Igreja: assim Nero vem a ser o tipo dos soberanos políticos que persigam a Igreja em qualquer época (há muitas reproduções de Nero através da história). Por isto também o número 666 da Besta do Apocalipse, adversária dos cristãos, equivale (segundo a interpretação mais provável) à expressão Kaisar Neron (Imperador Nero).

Roma e Babilônia, por sua vez, designam de maneira típica o poderio deste mundo que, com seus mil atrativos de esplendor e prazer, procura seduzir os discípulos de Cristo para o pecado - A luta a que São João assistiu, entre Roma pagã e a Igreja, é evocada no Apocalipse não por causa dessa luta mesma, mas dentro de uma perspectiva mais ampla, isto é, a fim de simbolizar e predizer o combate perene que se vai travando entre o poder diabólico e Cristo através dos séculos, até terminar com a plena vitória do Senhor Jesus.

Estas considerações concorrem para evidenciar quanto é vã a tentativa de descobrir a predição de fenômenos estranhos da hora presente (bombas atômicas, explosões, enchentes e secas, discos voadores) nos quadros do Apocalipse. Estes são quadros típicos e perenes, quadros que se reproduzem por todo o decorrer da história, variando apenas de facetas.

A sua mensagem abrange todas as situações análogas: querem, sim, dizer que as desgraças da vida presente, por mais aterradoras que pareçam, estão sujeitas ao sábio plano da Providência Divina, a qual tudo faz concorrer para o bem daqueles que 0 amam (cf. Rm 8,28).


Nos EUA foi publicada a obra The Five Gospels. The Search for the Authentic Words of Jesus, de Roberto W.Funk, Roy W. Hoover e THE JESUS SEMINAR (um conjunto de 74 peritos). Tal obra conclui que somente 18% dos dizeres de Cristo nos Evangelhos são autênticos.

Tal equipe, durante seis anos, comparou frase por frase com paralelos bíblicos e extra-bíblicos. Chegou a conclusão de que existem dizeres autenticamente proferidos por Cristo, outros provavelmente ditos por Ele, alguns não proferidos, mas próximos do pensamento do Salvador e poucos de forma nenhuma ditos pelo Messias, oriundos de uma tradição posterior.

O dado interessante é que nenhuma das passagens típicas da doutrina de Cristo ensinada pela Igreja Católica é proveniente dos lábios de Jesus, como Mt 16,17-19; Lc 22,31s; Jo 21,15-17; as passagens sobre a Eucaristia, o poder de perdoar os pecados, a proibição do divórcio e as palavras finais sobre a missão de evangelizar mundo afora. Estas últimas palavras, segundo o grupo, PROVAVELMENTE não foram ditas por Cristo.

O que é impressionante são as explicações infundadas, estapafúrdias e irracionais para determinar que Cristo não disse isto ou aquilo.

Vejamos alguns exemplos:

A passagem de Mc 1,17 “Eu vos farei pescadores de homens” não seriam palavras de Jesus. Segundo o grupo, Jesus não angariava discípulos. Era um mestre itinerante. Apenas a metáfora de pescadores de homens pode ser considerada (ué?!?). Na verdade, as explicações são meras afirmações sem qualquer base, de um grupo de protestantes que relativizam o valor da Igreja, considerando-a apenas obra humana. Rejeitam Mt 16,17-19 – que traz a fundação da Igreja Católica – por puro preconceito filosófico-religioso.

Jesus não teria dito, também, “completou-se o tempo. O reino de Deus se aproxima, Convertei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1,15). Sabe qual a explicação do grupo de “peritos”? Que estas palavras seriam mais apropriadas para João Batista(!?!)... Mas João não preparou o caminho de Jesus? Jesus não poderia ter repetido a mesma idéia, com mais ênfase?

Tais conclusões do grupo JESUS SEMINAR são muito pobres e preconceituosas.

Jesus era judeu e, como tal, estava mergulhado na tradição de Israel. Para H. Riesenfeld, estudioso sueco sobre o assunto, os dizeres de Cristo nos Evangelhos não simbolizam o pensamento das primeiras comunidades cristãs, mas o próprio pensamento de Jesus. Jesus, como já falamos, era judeu e estes eram especialistas em transmitir as palavras recebidas dos mais velhos. A missão dos apóstolos era tida como um serviço da palavra (At 6,4; Lc 1,2), de testemunhas oculares que conviveram com Jesus (At 1,22).

Os processos de transmissão da Lei Judaica foram utilizados no Novo Testamento. Haviam escribas profissionais, crianças que aprendiam a decorar e recitar a Lei e as sinagogas, que ajudavam na fixação oral dos textos. Haviam também oficiais tannaim (repetidores) dos dizeres (debarim) e feitos dos grandes comentadores da Lei. Os judeus também aprendiam técnicas de memorização, usando palavras-chave, fórmulas concisas (simanin), etc. Observe as passagens Mt 5,44; 7,17; 10,40; Mt 6,2-6: todos exemplos de métodos de transmissão de mensagens.

O método de transmissão oral dos ensinamentos dos mestres – entre os judeus – é repetido quando Lucas começa seu Evangelho (Lc 1,1s). São Paulo também, basta analisar Gl 1,13s; Fl 3,5s; 1 Cor 15,2; Gl 2,9; Gl1,1

Mais um dado que rechaça o estudo do grupo JESUS SEMINAR: na tradução do evangelho grego para o aramaico, nota-se a rima dos vocábulos nas traduções feitas para o aramaico, que era a língua falada por Jesus e pelos apóstolos. Ou seja, a própria raiz hebraica da árvore cristã oferece sólidas garantias de qualidade e fidelidade histórica nas palavras de Jesus e nas lembranças sobre Jesus.

Pe. Jean Carmignac, que dedicou-se especialmente aos manuscritos de Qumran desde 1954, teve grande surpresa em 1963, quando notou que, ao traduzir o Evangelho de Marcos para o hebraico de Qumran, encontrou extrema facilidade, concluindo que o texto de Marcos não foi redigido em grego, mas em hebraico, para depois ser traduzido para o grego, possibilitando a rápida e fácil transcrição para o mesmo hebraico. Para ele, o corpo visível de Marcos e de Mateus era grego, mas a alma invisível era hebraica, sem nenhuma sombra de dúvida. Isto reforça bastante a continuidade do Antigo para o Novo Testamento.

E por fim, mais um exemplo de contradição e parcialidade dos peritos do SEMINAR: o vocábulo parákletos (advogado, intercessor) só ocorre nos escritos joaneus (1Jo e Jo). Como estes foram escritos no fim do século I e no início do II os peritos concluíram que esta palavra não foi proferida por Jesus, sendo gerada pelas primeiras comunidades cristãs. Acontece que esta mesma palavra é proferida pelo judaísmo tardio, falando de muitos intercessores a Deus, como os profetas, patriarcas e os anjos. Seria perfeitamente cabível tal expressão ter sido usada por Cristo. Ou seja, as conclusões deste grupo são PRECIPITADAS, DESCABIDAS DE ARGUMENTOS, PRECONCEITUOSAS e RAREFEITAS.

Poderíamos aqui nos alongar imensamente, mostrando que os apóstolos estavam extremamente preocupados em transmitir fielmente as palavras de Jesus, mas basta se ater a estes argumentos explanados aqui e à matéria sobre “O JESUS HISTÓRICO E O JESUS REAL”, que confirma a autenticidade dos dizeres e feitos de Cristo.

http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u391130.shtml

11/04/2008 - 10h16
Juízes condenam fiéis da Universal por má-fé


da Folha de S.Paulo

Mais três seguidores da Igreja Universal do Reino de Deus foram condenados por litigância de má-fé --ou seja, uso da Justiça para fins ilícitos-- em ações de indenização por dano moral movidas contra a Folha e a repórter Elvira Lobato.

Até ontem, foram ajuizadas 85 ações e proferidas 28 sentenças, todas favoráveis ao jornal. Elas foram propostas em nome de pessoas que se dizem ofendidas com a reportagem "Universal chega aos 30 anos com império empresarial", publicada em dezembro último.

O juiz Valériano Cezário Bolzan, da comarca de Venda Nova do Imigrante, no Espírito Santo, condenou Wagner Panisset Turques ao pagamento de multa, honorários de advogados e custas do processo.

O magistrado entendeu que o fiel da Igreja, "orientado por seus líderes espirituais, utilizou-se do processo para conseguir objetivo ilegal, qual seja, promover a intimidação e retaliação da imprensa".

"A matéria jornalística não ofende a liberdade religiosa ou sequer critica o ato de fé daqueles que entregam o dízimo. Limita-se a matéria a levantar suspeitas quanto à utilização dos dízimos pela Iurd, que seriam repassados, através de paraísos fiscais, para empresas comerciais", afirmou Bolzan.

Segundo o magistrado, "a expressão "esquentamento" do dízimo não significa, no contexto, que a origem do dinheiro (dízimo) seja ilícita, não havendo que se falar em difamação".

O juiz Livingstone dos Santos Silva Filho, de Conceição de Macabu (RJ), também condenou o pastor Rodrigo de Lima do Nascimento por mover uma ação "com o fim ilícito e antidemocrático", ou seja, "o de tolher a atividade jornalística".

Ao constatar que o réu não provou ter havido ofensa, o juiz registrou na sentença que a cidade não tem distribuição da Folha e que a população não tem acesso ao jornal pela internet.

"Esta ação faz parte de movimento orquestrado pela denominação da qual faz parte o autor com fins de desacreditar e tolher a atividade jornalística", decidiu o juiz Silva Filho.

O juiz Marcelo Mattar Coutinho, de Alegre (ES), condenou Gleidson de Paiva Lima por litigância de má-fé. O magistrado afirmou, na sentença, que fez pesquisa de ações movidas em outros juizados. Ele concluiu que "o objetivo da propositura de tantas ações indenizatórias nada mais é do que o de promover uma verdadeira retaliação de forma orquestrada, visando dificultar a defesa".

Mais de 200 são retiradas de rancho de seita no Texas após denúncia de abusos

http://www.overbo.com.br/modules/news/article.php?storyid=6503


Mais de 200 mulheres e meninas já foram retiradas desde a quinta-feira do rancho pertencente a uma seita poligâmica no Estado do Texas, nos Estados Unidos.



(Fonte: BBC Brasil) - O rancho foi alvo de uma ação policial após as acusações de que uma adolescente de 16 anos havia sofrido abusos físicos e sexuais no local.

As autoridades do Texas estariam investigando informações de um casamento entre a menina e um homem de 50 anos.

A adolescente teria tido um filho quando tinha 15 anos de idade.

Pela lei do Texas, meninas com menos de 16 anos não podem casar, mesmo com aprovação dos pais.

O proprietário do rancho na cidade de San Antonio é o líder da Igreja Fundamentalista de Jesus Cristo dos Últimos Dias (FLDS, sigla em inglês), Warren Jeffs, que foi preso em novembro por 10 anos por cumplicidade em um estupro.

Jeffs foi condenado após ter forçado uma adolescente de 14 anos a se casar com seu primo.




Policiais escoltam membros da seita

Julgamentos



O líder religioso (foto acima), que se proclama profeta, aguarda outros julgamentos no Arizona, em que é acusado de ser cúmplice em quatro casos de incesto e conduta sexual com uma menor de idade fruto de dois casamentos arranjados.

A seita, que tem cerca de 10 mil seguidores e domina as cidades de Colorado City, no Arizona, e Hildale, em Utah, é uma dissidência da igreja Mórmon.

Os integrantes da seita acreditam que o homem precisa casar com pelo menos três mulheres para subir ao céu. As mulheres, por sua vez, são ensinadas que seu caminho para o céu é a subserviência ao marido.

A poligamia é ilegal nos Estados Unidos, mas as autoridades relutam em enfrentar a FLDS por medo de provocar uma tragédia similar à que aconteceu em 1993 na sede da seita Ramo Davidiano, em Waco, no Texas, quando 80 fiéis morreram em choques com a polícia.

Visite o link abaixo para assistir a reportagem da Record:
http://www.mundorecord.com.br/play/95fb80ab-e612-41f0-81b3-012cac264936


A Grande Promessa de Jesus:

“Tu és Pedro, e sobre esta Pedra edificarei a MINHA Igreja; Eu te darei as chaves do Reino dos céus; tudo o que ligardes na Terra será ligado no Céu... e as potências do inferno jamais prevalecerão contra ela” (Mt 16, 16s)

Prudêncio (348-410), escritor cristão e conselheiro do imperador Teodósio:
“ Este é o significado das vitórias e dos triunfos do Império. A paz romana preparou o caminho para a vinda de Cristo.”

Tertuliano, leigo, escritor cristão de Cartago (†220) disse que:
“Nunca houve entre os cristãos um revoltado, um conspirador, um assassino”. “Nós nos multiplicamos quando nos ceifam”. “Sanguis martyrum est semen christianorum”.

AS PROVAS DA HISTÓRIA

- É a única Instituição que já tem 2000 anos.

- É a única Instituição que já teve 266 Chefes

- Não foi destruída pelo Império Romano.

- Não foi destruída pelos bárbaros, pelos comunistas e nazistas Stalin, ditador e comunista soviético:
“Quantas legiões de soldados tem o Papa?

- Não foi destruída pelas heresias: Gnosticismo, Adocionismo, Montanismo, Marcionismo, Donatismo, Novacianismo, Priscilianismo, Arianismo, Macedonismo, Pelagianismo, Nestorianismo, Apolinarismo, Monofisismo, Monoteletismo... Jansenismo, Quietismo, etc.

- Não foi destruída pelos pecados dos seus filhos: leigos e clero: investidura leiga, nicolaismo, simonia, etc.

- Não foi vencida pelo nazismo, pelo comunismo, pelo islamismo.

- Não foi vencida pelos racionalistas e iluministas.

- A Igreja é divina porque sua cabeça é Jesus Cristo. Jamais será vencida.

Santo Agostinho (354-430), assim explicou esta verdade:
“Alegremo-nos, portanto, e demos graças por nos termos tornado não somente cristãos, mas o próprio Cristo. Compreendeis irmãos, a graça que Deus nos concedeu ao dar-nos Cristo como Cabeça? Admirai e rejubilai, nós nos tornamos Cristo, com efeito, uma vez que Ele é a Cabeça, e nós somos os membros, o homem inteiro é constituído por Ele e por nós. A plenitude de Cristo é, portanto, a Cabeça e os membros; que significa isto: a cabeça e os membros? Cristo e a Igreja ( Comentários ao Evang. de João 21,8).

O Concílio Vaticano II disse:
“Pois somente por meio da Igreja católica de Cristo, a qual é meio de salvação, pode ser atingida toda a plenitude dos meios da salvação. Cremos que o Senhor confiou todos os bens da Nova Aliança somente ao Colégio dos Apóstolos, do qual Pedro é o chefe, a fim de constituir na terra um só Corpo de Cristo, ao qual é necessário que se incorporem plenamente todos os que, de alguma forma, já pertencem ao Povo de Deus. (Unitatis Redintegratio, 3)

Teilhard de Chardin: “Sem a Igreja o Cristo se esfacela”.

TESTEMUNHOS DA TRADIÇÃO

Santo Inácio de Antioquia (†110):
“Onde está o Cristo Jesus está a Igreja Católica”.

Lactâncio (Luccius Caccilius Firmianus, 260-325), apologista cristão, dizia no século III:
“Somente a Igreja sustenta tudo”.

Santo Agostinho: “Os que tomam a nascente da água e do Espírito são como criancinhas. Precisam de uma mãe que lhes ofereçam o leite que sustenta e faz crescer. “Essa mãe é a Igreja”!

- Fazei-vos Corpo de Cristo se quereis viver do Espírito de Cristo. Somente o Corpo de Cristo vive do seu Espírito.

Santa Catarina: “Foi na dispensa da hierarquia da Igreja que Eu guardei o Corpo e o Sangue do meu Filho” “Tenham a certeza de que quando eu morrer a única causa de minha morte será meu amor pela Igreja”.

São João da Cruz: (1512-1591) “Guiemo-nos, pois, agora pela doutrina de Cristo-homem, de sua Igreja e de seus ministros; e por esse caminho, humano e visível, encontraremos remédios para a nossa ignorância e fraqueza espiritual”.

Santa Teresa: (1515-1591) “Em tudo me sujeito ao que professa a Santa Igreja Católica Romana, em cuja fé vivo, afirmo viver e prometo viver e morrer.”

São Francisco Sales: (1567-1622) “À Igreja quero submeter para sempre meus escritos, minhas ações, minhas palavras, minha vontade e meus pensamentos”.

São Leão Magno: “Não podemos caríssimos, de modo algum duvidar de que toda a observância cristã procede de instruções divinas e de que tudo o que a Igreja recebeu como costume de devoção provém da tradição apostólica e do ?

São Vicente de Lerins (†450):
“A Igreja de Cristo, cuidadosa e cauta guardiã dos dogmas que lhe foram confiados, jamais os altera; em nada os diminui, em nada lhes adiciona; não a priva do que é necessário, nem lhe acrescenta o que é supérfluo; não perde o que é seu, nem se apropria do que pertence aos outros, mas com todo o zelo, recorrendo com fidelidade e sabedoria aos antigos dogmas, tem como único desejo aperfeiçoar e purificar aqueles que antigamente receberam uma primeira forma e esboço, consolidar e reforçar aqueles que já foram evidenciados e desenvolvidos, salvaguardar aqueles que já foram confirmados e definidos” (Commonitorium, XXIII).

“Perguntando eu com toda atenção e diligência a numerosos varões, eminentes em santidade e doutrina, que norma poderia achar, segura, enquanto possível genérica e regular, para distinguir a verdade da fé católica da falsidade da heresia, eis a resposta constante de todos eles: quem quiser descobrir as fraudes dos hereges nascentes, evitar seus laços e permanecer sadio e íntegro na sadia fé, há de resguardá-la, sob o auxílio divino, duplamente: primeiro com a autoridade da Lei divina, e segundo, com a tradição da Igreja Católica” (Commonitorium).

Santo Epifânio (†403), batalhador contra as heresias:
“A Igreja é a finalidade de todas as coisas”. (Haer. 1,1,5)

“Há um caminho real, que é a Igreja católica, e uma só senda da verdade. Toda heresia, pelo contrário, tendo deixado uma vez o caminho real, desviando-se para a direita ou para a esquerda, e abandonada a si mesma por algum tempo, cada vez mais se afunda em erros.

Eia, pois, servos de Deus e filhos da Igreja santa de Deus, que conheceis a regra segura da fé, não deixeis que vozes estranhas vos apartem dela nem que vos confundam as pretensões das erroneamente chamadas ciências” (Haer.59,c. 12s).

São Leão Magno (400-461), Papa e doutor da Igreja:
“Quem se aparta da confissão da verdade, muda de caminho e o percurso inteiro se torna afastamento. Tanto mais próximo da morte estará quanto mais distante da luz católica.”

São Máximo Confessor (580-662):
“Com efeito, desde a descida até nós do Verbo encarnado, todas as Igrejas cristãs de toda parte consideram e continuam considerando a grande Igreja que está aqui em Roma como única base e fundamento, visto que, segundo as próprias promessas do Salvador, as portas do inferno nunca prevalecerão contra ela.” (Opus., PG 91, 137-140).

São Bernardo (1090-1153), doutor da Igreja:
“Permaneceremos na fé e combateremos até à morte, se for necessário, pela Igreja, nossa Mãe, com as armas que nos são permitidas: não com escudos e espadas, mas com as orações e as lágrimas a Deus” (Epist. 221, 3; Migne, P.L.; CLXXXII, 36,387).

São Tomás de Aquino (1225-1274), doutor da Igreja:
“O bem de Cristo é comunicado a todos os membros, e essa comunicação se faz através dos sacramentos da Igreja”.

Santa Tereza de Ávila (1515-1582), doutora:
“Procurai a limpeza de consciência e humildade, desprezo de todas as coisas do mundo e fé inabalável no que ensina a santa Madre Igreja” (Caminho de Perfeição, Ed. Paulinas, 2. ed., pag 129,1979, SP ).

Aristides de Atenas (†130), apolista cristão, em defesa deles, escreveu assim ao imperador romano Adriano (Apologia) :
“Os cristãos ó rei... não cometem adultério, não praticam a fornicação, não levantam falso testemunho, não recusam devolver um depósito, não se apropriam do que não lhes pertence. Honram pai e mãe, fazem bem ao próximo e, quando em juízo, julgam com equidade. Não adoram os ídolos - semelhantes aos homens. O que não desejam que lhes façam os outros não o fazem também; não comem alimentos de sacrifícios idolátricos, pois são puros. Exortam os que os afligem, a fim de fazê-los amigos.

Suas mulheres, ó rei, são puras como virgens, suas filhas são modestas. Seus homens se abstém de toda união ilegítima e da impureza, esperando a retribuição que terão no outro mundo. Aos escravos e escravas, bem como a seus filhos – se os têm – persuadem a tornar-se cristãos, em razão do amor que lhes dedicam, e quando se tornam, chamam-nos indistintamente irmãos. Não adoram a deuses estranhos e vivem com humildade e mansidão, sem qualquer mentira entre eles.

Amam-se uns aos outros, não desprezam as viúvas. Protegem o órfão dos que os tratam com violência. Possuindo bens, dão sem inveja aos que nada possuem. Avistando o forasteiro, introduzem-no na própria casa e se alegram por ele, como se fora verdadeiro irmão: pois se dão o apelativo de irmãos, não segundo o corpo, mas segundo o espírito e em Deus.

Se algum pobre passa deste mundo, alguém sabendo, encarrega-se – na medida de suas forças – de dar-lhe sepultura. Se conhecem um encarcerado ou oprimido por causa do nome do seu Cristo, ficam solícitos a seu respeito e se possível libertam-no. Quando um pobre ou necessitado surge entre eles e não possuem abundância de recursos para ajudá-lo, jejuam dois ou três dias para obter o necessário para o seu sustento.

Guardam com diligência os preceitos de Cristo, vivem reta e modestamente – conforme lhes ordenou o Senhor Deus. Todas as manhãs e horas louvam e glorificam a Deus pelos benefícios recebidos, dando graças por seu alimento e bebida. Mesmo se acontece que um justo – entre eles – passa deste mundo, alegram-se e dão graças a Deus, ao acompanharem o cadáver, como se emigrasse de um lugar para outro. E assim como quando nasce um filho louvam a Deus, também se ele morre na infância glorificam a Deus, por quem atravessou o mundo sem pecados. Mas vendo alguém morrer na malícia e nos pecados, choram amargamente e gemem por ele, supondo-o ir ao castigo. Tal é, ó rei, a constituição da lei dos cristãos e tal a sua conduta”.


Papa Paulo VI - 30.06.1968 – Encerramento do “Ano da Fé”

1. Encerramos, com esta Liturgia solene, tanto a celebração do XIX centenário do martírio dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo, como este ano que denominamos "Ano da Fé". Nós o dedicamos à comemoração dos Apóstolos, não só com a intenção de testemunhar nossa vontade inquebrantável de conservar sem corrupção o “depósito da Fé” (cf. 1Tm 6,20) que eles nos transmitiram, senão também para confirmar o nosso propósito de relacionar a mesma Fé com a vida dos tempos atuais, em que a Igreja deve peregrinar no mundo.

3. Julgamos ainda que devemos cumprir o mandato, conferido por Cristo a Pedro, de quem somos Sucessor, embora o último na ordem dos méritos, a saber: o de confirmar na fé os irmãos (Lc 22,32)... vamos fazer uma profissão de fé, recitar uma fórmula de "Credo" que... repete, quanto à substância, a fórmula de Nicéia - a fórmula da imortal Tradição da Santa Igreja de Deus - com algumas explicações exigidas pelas condições espirituais de nossa época.

4. Ao fazer isto, bem sabemos que perturbações em relação à fé agitam hoje certos grupos de homens... Mais ainda: vemos que até alguns católicos se deixam dominar por uma espécie de sede de mudança e novidades... Mas é preciso juntamente empregar o máximo cuidado a fim de que, ao cumprir o necessário dever da investigação, não se destruam verdades da doutrina cristã. Se isto acontecesse - e vemos dolorosamente como hoje de fato acontece - iria causar perturbação e dúvida no espírito de muitos fiéis.

5. ... Aliás, devemos lembrar que pertence à interpretação ou hermenêutica, depois de examinar a palavra que foi pronunciada, procurarmos compreender e distinguir o sentido subjacente a qualquer texto e não inventar de certo modo esse sentido, segundo hipóteses arbitrárias.

7. ... Queremos que esta nossa profissão de fé seja suficientemente explícita e completa para satisfazer, de maneira adequada, à necessidade de luz que angustia a tantos fiéis e a todos aqueles que no mundo buscam a Verdade, seja qual for o grupo espiritual a que pertençam.

Portanto, para a glória de Deus onipotente e Senhor nosso, Jesus Cristo; confiando no auxílio da Santíssima Virgem Maria e dos Bem-Aventurados Pedro e Paulo; para utilidade e progresso espiritual da Igreja; em nome de todos os sagrados Pastores e de todos os fiéis cristãos; em plena comunhão convosco, irmãos e filhos caríssimos, vamos pronunciar agora esta profissão de fé:

8. Cremos em um só Deus - Pai, Filho e Espírito Santo - Criador das coisas visíveis - como este mundo, onde se desenrola nossa vida passageira -, Criador das coisas invisíveis - como são os puros espíritos, que também chamamos anjos, Criador igualmente, em cada homem, da alma espiritual e imortal.

9. Cremos que este Deus único é tão absolutamente uno em sua essência santíssima como em todas as suas demais perfeições: na sua onipotência, na sua ciência infinita, na sua providência, na sua vontade e no seu amor. Ele é Aquele que é, conforme Ele próprio revelou a Moisés (cf. Ex 3,14); Ele é Amor como nos ensinou o Apóstolo São João (cf. 1Jo 4,8); de tal maneira que estes dois nomes - Ser e Amor - exprimem inefavelmente a mesma divina essência Daquele que se quis manifestar a nós e que, habitando uma luz inacessível (cf 1Tm 6,16), está, por si mesmo, acima de todo nome, de todas as coisas e de todas as inteligências criadas.

Ao revelar-se, Deus permanece Mistério inefável: "Se o compreendesses, ele não seria Deus ". (S. Agostinho, Sermão 52)

“Eu acredito que o ateísmo é a mais irracional das escolhas”. Dr. Francis S. Collins, médico, químico e biólogo americano, Diretor do Projeto Genoma (Revista VEJA - 24.01.2007)

"Deus amou tanto o mundo, que entregou seu Filho único" (Jo 3,16).

O amor de Deus é "eterno" (Is 54,8): "Os montes podem mudar de lugar e as colinas podem abalar-se, mas o meu amor não mudará" (Is 54,10). "Eu te amei com um amor eterno, por conservei por ti o amor" (Jr 31,3).

Cat.§213. A revelação do nome inefável "EU SOU AQUELE QUE SOU" contém, pois, a verdade de que só Deus é. E neste sentido que a tradução dos Setenta e, na esteira deles, a Tradição da Igreja compreenderam o nome divino: Deus é a plenitude do Ser e de toda perfeição, sem origem e sem fim. Ao passo que o das as criaturas receberam dele todo o seu ser e o seu ter, só ele é seu próprio ser, e é por si mesmo tudo o que é.

Só Deus pode dar-nos um conhecimento exato e pleno de si mesmo, revelando-se como Pai, Filho e Espírito Santo, de cuja vida eterna somos pela graça chamados a participar, aqui na terra, na obscuridade da fé, e, depois da morte, na luz sempiterna.

Cat.§ 46. Quando escuta a mensagem das criaturas e a voz de sua consciência, o homem pode atingir a certeza da existência de Deus, causa e fim de tudo.

Cat. §47. A Igreja ensina que o Deus único e verdadeiro, nosso Criador e Senhor, pode ser conhecido com certeza por meio de suas obras graças à luz natural da razão humana.

As relações mútuas, que constituem eternamente as Três Pessoas, sendo, cada uma delas, o único e mesmo Ser Divino, perfazem a bem-aventurada vida íntima do Deus Santíssimo, infinitamente acima de tudo o que podemos conceber à maneira humana.

Cat§198. Nossa profissão de fé começa com Deus, pois Deus é o o Primeiro e o ultimo" (Is 44,6), o Começo e o Fim de tudo. O Credo começa com Deus Pai, pois o Pai é a Primeira Pessoa Divina da Santíssima Trindade; nosso Símbolo começa pela criação do céu e da terra, porque a criação é o começo e o fundamento de todas as obras de Deus.

"Ouve, ó Israel, o Senhor nosso Deus é o Único Senhor...". (Dt 6,4; Mc 12,29). "É preciso necessariamente que o supremo seja único, isto é, sem igual... Se Deus não for único não é Deus"

10. Cremos, portanto, em Deus Pai que desde toda a eternidade gera o Filho; cremos no Filho, Verbo de Deus que é eternamente gerado; cremos no Espírito Santo, Pessoa incriada, que procede do Pai e do Filho como Amor sempiterno de ambos. Assim nas três Pessoas Divinas que são igualmente eternas e iguais entre si, a vida e a felicidade de Deus perfeitamente uno superabundam e se consumam na superexcelência e glória próprias da Essência incriada; e sempre se deve venerar a unidade na Trindade e a Trindade na unidade.

Cat§ 202 - Cremos firmemente e afirmamos simplesmente que há um só verdadeiro Deus eterno, imenso e imutável, incompreensível, Todo-Poderoso e inefável, Pai, Filho e Espírito Santo: Três Pessoas, mas uma Essência, uma Substância ou Natureza absolutamente simples.

Cat§ 209. Por respeito à santidade de Deus, o povo de Israel não pronuncia seu nome. Na leitura da Sagrada Escritura, o nome revelado é substituído pelo título divino "Senhor" ("Adonai", em grego "Kýrios"). É com este título que ser aclamada a divindade de Jesus: "Jesus é Senhor".

"Quando tiverdes elevado o Filho do Homem, então sabereis que "EU SOU" (Jo 8,28).

Cat §212. Deus é único... transcende o mundo e a história. Foi Ele quem fez o céu e a terra: "Eles perecem, mas tu permaneces; todos ficam gastos como a roupa... mas tu existes, e teus anos jamais findarão!" (Sl 102,27-28). Nele "não há mudança, nem sombra de variação" (Tg 1,17). Ele é "AQUELE QUE É", desde sempre e para sempre, e é assim que permanece sempre fiel a si mesmo e às suas promessas.

Deus é a Verdade

Cat §215. "O princípio de tua palavra é a verdade, tuas normas são justiça para sempre" (Sl 119,160). "Sim, Senhor Deus, és tu que és Deus, tuas palavras são verdade" (2Sm 7,28); é por isso que as promessas de Deus sempre se realizam. Deus é a própria Verdade, suas palavras não podem enganar. É por isso que podemos entregar-nos com toda a confiança à verdade e à fidelidade de sua palavra em todas as coisas. O começo do pecado e da queda do homem foi uma mentira do tentador que induziu duvidar da palavra de Deus, de sua benevolência e fidelidade.

Cat. §222. Crer em Deus têm conseqüências:

§223. Significa conhecer a grandeza e a majestade de Deus. "Deu, é grande demais para que o possamos conhecer" (Jó 36,26).

§224. Significa viver em ação de graças. Se Deus é o Único, tudo o que somos e tudo o que possuímos vem dele: "Que é que possuis, que não tenhas recebido?" (1Cor 4,7). "Como retribuirei ao Senhor todo o bem que me fez?" (Sl 116,12).

§225. Significa conhecer a unidade e a verdadeira dignidade de todos os homens. Todos eles são feitos "à imagem e à semelhança de Deus" (Gn 1,27).

§226. Significa usar corretamente das coisas criadas. A fé no Deus único nos leva a usar de tudo o que não é Ele, na medida em que isso nos aproxima dele, e a desapegar-nos das coisas, na medida em que nos desviam dele:

§227. Significa confiar em Deus em qualquer circunstância, mesmo na adversidade. Uma oração de Sta. Teresa de Jesus (Poes. 9) exprime-o de maneira admirável: “Nada te perturbe, Nada te assuste, Tudo passa, Deus não muda, A paciência tudo alcança, Quem a Deus tem Nada lhe falta. Só Deus basta”.


As diferenças entre a Igreja Romana e a Ortodoxa tambem chamada de Grega sao muitas, mas em geral referem-se ao calendário, pois nao aceitam a mudança feita pelo a Papa Gregório em 1582 e ainda usam o calendario antigo (o interessante é que a Grécia e a Russia, para efeitos comercias usam o Calendario Gregoriano que é usado pelo resto do mundo - apenas o religioso é que nao é seguido) com isto o Natal , a Sexta da Paixao, a Pascoa etc, sao celebrados em dias diferentes.

Existem ainda algumas ligeiras diferenças.
Uma aceita os santos da outra e o mesmo papel de Nossa Senhora.
O ritual do batismo, do casamento e da missa na ortodoxa, ainda é em latin e grego com o padre de costa para o publico e de frente para o Santíssimo Sacramento. Enfim as diferenças sao muito, muito pequenas.


O culto dos Santos e a estima de suas relíquias são contestadas pelos protestantes; os discípulos de Lutero julgam haver nisto graves desvios doutrinários, que eles atribuem à Tradição católica. Mas essa prática é plenamente justificada pela Tradição cristã mais antiga, apoiada na Bíblia, desde o Antigo Testamento. Com a certeza de que os Santos já estão no Céu, a Igreja, sempre assistida pelo Espírito Santo (cf Jo 16, 12-13), já nos seus primeiros tempos, começou a prestar veneração particular àqueles falecidos que tiveram uma vida confessando Jesus Cristo, especialmente pelo martírio.

O culto de veneração (não de adoração) dos Santos foi até o século XVI prática tranqüila e óbvia entre os cristãos. Note bem, durante dezesseis séculos não houve contestação a esta prática. O Concílio de Trento (1545-1563) confirmou a validade e importância deste culto, ao mesmo tempo que ensinou a evitar abusos e mal-entendidos muitas vezes enraizados na religiosidade popular. Também o Concílio do Vaticano II (1963-65) reiterou esta doutrina, mostrando o aspecto cristocêntrico e teocêntrico do culto aos santos.

A comunhão entre os membros do povo de Deus não é extinta com a morte; ao contrário, o amor fraterno é liberto de falhas devidas ao pecado na outra vida, o que faz esta união mais forte.

Deus, que gera esta comunhão, proporciona aos Santos no céu o conhecimento de nossas necessidades para que eles possam interceder por nós, como intercederiam se estivessem na Terra. Santa Terezinha do Menino Jesus, dizia que “passaria a sua vida na Terra”; isto é, viveria o Céu intercedendo pelos da Terra. Uma das orações eucarísticas da santa Missa diz que “os Santos intercedem no Céu por nós diante de Deus, sem cessar.” Que maravilha! Esta intercessão leva-nos mais a fundo dentro do plano de Deus, porque promove a glória de Deus e o louvor de Jesus Cristo, uma vez que os Santos são “obras-primas” de Cristo, que nos levam, por suas preces e seus exemplos, a reconhecer melhor a grandeza da nossa Redenção.

O culto aos Santos tem ao menos três sentidos profundos:

1 – dá glória a Deus, de quem os Santos são obras primas de sua graça; são Santos pela graça de Deus.
2 – suplicam a eles a sua intercessão por nós e pela Igreja;
3 – mostram-nos os Santos como modelos de vida a serem imitados uma vez que amaram e serviram a Deus perfeitamente.

É entranhada na teologia católica a devoção aos Santos, embora não seja obrigatória. Ela surge de uma perfeita compreensão do plano salvífico de Deus, especialmente quando se refere à Virgem Maria, Mãe de Deus e Mãe dos homens (cf. Jo 19,25-27).

Vida Humana Internacional.

Quando aumenta em todos os meios do Sistema a campanha do Discurso Cultural Dominante a favor do assassinato dos fracos, camuflando-o como misericórdia ou direito, este artigo complementa o magnífico estudo "A eutanásia: um estudo geral" editado no nº 30 desta publicação. Também se recomenda visitar a completa página de Vida Humana referente a este assunto

Apresentamos a seguir algumas idéias que poderão nos ajudar a refutar os principais argumentos a favor dos crimes da eutanásia e do suicídio assistido

Nosso objetivo é lhe proporcionar ao leitor uma visão sintética da mentalidade anti vida da eutanásia e o suicídio assistido, seus principais argumentos, a refutação dos mesmos e a visão pró-vida que deve substituir a dita mentalidade antivida.

1. Uma colocação equivocada

Os argumentos em pró da eutanásia e o suicídio assistido exploram o medo normal que todos temos, nem tanto da morte em si, mas sim do sofrimento e solidão diante dela. Este sofrimento é causado muitas vezes pelo uso exagerado de "meios desproporcionados" da medicina, quer dizer, meios que infligem cargas graves (dores agudas, etc.) ao doente e que são maiores que os benefícios que se supunham deviam lhe oferecer. Como ninguém quer estar nessa situação, nem deve estar, os promotores da eutanásia e do suicídio assistido se aproveitam desse temor normal expondo uma alternativa equivocada.

No que consiste essa colocação equivocada dos promotores da eutanásia e o suicídio assistido? Consiste em propor duas alternativas extremas:

1) ou aplicamos a eutanásia ao doente

2) ou morrerá irremediavelmente cheio de dor e sofrimento.

Logicamente, este argumento suscitará a aceitação de muitos que acreditam erroneamente que essas são as duas únicas opções. A razão disso é que muita gente crie, equivocadamente também, que o que ensina a religião ou a medicina é que devemos manter o doente com vida não importa os meios que se utilizem e que o não fazê-lo constitui um ato de eutanásia. Então concluem que eles estão também a favor da eutanásia.

Isto é um lamentável engano. Em primeiro lugar não é um ato de eutanásia o retirar ou o negar-se a proporcionar "meios desproporcionados", sempre e quando se respeitarem os legítimos desejos do doente. Por conseguinte não temos que manter um doente sofrendo grave e indefinidamente por causa do uso de "meios desproporcionados". Isto implica que a colocação dos promotores da eutanásia e o suicídio assistido está equivocado. Existe uma terceira via: que não é nem a de matar o doente por meio da eutanásia e o suicídio assistido, nem tampouco a de deixá-lo sofrer indefinidamente por causa de "medidas desproporcionadas".

Mas, o que acontece quando o doente sofre dores intensas que não são produto de "médidas desproporcionados"? Nesses casos podemos utilizar, de forma adequada, os analgésicos ou calmantes que a autêntica medicina proporcione. Pode ser que esses analgésicos tenham como efeito colateral a aproximação da morte ou a perda da consciência, parcial ou completa. Entretanto, ainda o uso de tais calmantes pode ser lícito se se cumprirem as seguintes condições, as quais são muito razoáveis e de senso comum:

1) não há outra alternativa melhor (não há disponíveis outros analgésicos que não tenham estes efeitos)

2) não há mais nada que se possa fazer

3) trata-se de uma dor grave que experimenta um paciente terminal, e

4) o doente já cumpriu ou pode razoavelmente cumprir com seus deveres graves: arrumar seus assuntos familiares, receber os sacramentos, etc.

A intenção aqui não é matar o doente por meio de fármacos para então aliviar seus sofrimentos, mas sim a de lhe aliviar os sofrimentos por meio de remédios adequados, ainda correndo o risco de que a morte se aproxime mais rapidamente por isso ou que perca a consciência, parcial ou completamente, sempre e quando houver graves motivos.

Muitos dos que estão a favor da eutanásia e do suicídio assistido, alegam falsamente que este argumento sobre os analgésicos é hipócrita porque, dizem eles, é o mesmo ato de dar um remédio que em definitiva pode matar o doente e que a única coisa que muda é nossa intenção. A esses tais respondemos que não se trata só da boa intenção, mas sim de proporcionar ao doente uma dose adequada a sua dor. Muitas vezes a eutanásia ocorre quando os médicos partidários dela proporcionam dose que eles sabem matarão o doente. Mas quando um médico que respeita a vida proporciona um analgésico cuja dose está encaminhada a aliviar a dor, mas que ao mesmo tempo e infelizmente pode ter um efeito ulterior não desejado de acelerar o processo da morte e há motivos sérios de por meio para proporcionar tal remédio (os que mencionamos antes), então não há nenhuma razão para chamar esse ato de "eutanásia" nem "suicídio assistido". Está claro que não é um ato de hipocrisia, mas sim se fez o melhor que se pôde em uma situação difícil. Está claro também que se o médico pró vida tivesse ao seu dispor um analgésico melhor, um que não tivesse os efeitos mencionados, utilizasse esse e não outro. O problema muitas vezes é que muitos médicos não foram treinados adequadamente no tratamento paliativo e por isso é que se acredita que não há alternativas.

Aqui merece esclarecer um ponto muito importante: embora estamos obrigados moralmente a nunca matar diretamente a um inocente, mas sim a respeitar sua vida sempre; isto não implica que devamos manter sua vida a todo custo e com qualquer meio. Recordemos que a vida corporal é um bem muito elevado, inclusive é o mais fundamental, a base e condição de todos outros, mas não é o bem maior que existe, a vida espiritual é mais importante. Pode ser que a serenidade espiritual de um doente terminal perigue diante da experiência de uma dor muito intensa, então, com o uso adequado de analgésicos para acalmar a dor, e não para matar, tratamos de mitigar-lo embora se corra o risco (de novo, por graves motivos), de que se aproxime a morte ou a perda da consciência.

Resumindo, frente à dor de um doente terminal, não estamos obrigados a utilizar ou a manter o uso de "meios desproporcionados". Sim estamos obrigados a lhe proporcionar as curas necessárias ao doente, como a água, a alimentação (oral ou médica), os remédios, os calmantes, a ventilação adequada, a atenção higiênica e do conforto e, acima de tudo, o amor e a solidariedade. Não temos por que nem devemos matar o doente nem deixá-lo sofrer indefinidamente. A eutanásia e o suicídio assistido constituem uma hipocrisia e uma falsa "compaixão" que procuram a via fácil, egoísta e cômoda para resolver os problemas, em vez de sacrificar-se pelo doente e lhe dar nosso amor e compaixão.

2. O falso "direito" de morrer e o direito de viver

Os que promovem a eutanásia e o suicídio assistido falam do "direito de morrer". Na realidade todos vamos morrer, de maneira que não faz falta inventar um "direito" para isso, a natureza, queiramos ou não, encarregará-se de que morramos. Não temos por que, nem devemos nos apurar neste assunto.

Se o que quer dizer com "direito de morrer" é que todo ser humano tem o direito a morrer em paz e dignidade, quando a morte natural chegar, então não há nada que objetar. Mas infelizmente isso não é o que os partidários destes crimes querem dizer com o falso "direito" de morrer. O que eles querem dizer é que a pessoa tem o "direito" de que lhe apliquem a eutanásia, o suicídio assistido ou a suicidar, inclusive quando ela o estime conveniente. Estes ativistas chegam também a dizer a barbaridade de que o ato de matar a si mesmo ou de procurar a ajuda de outros para obtê-lo é um "ato final de auto-determinação", "libertação" ou "morte misericordiosa" ("mercy killing"). Todos estes termos são eufemismos, quer dizer, frases bonitas mas enganosas, que tentam esconder a terrível realidade que se pretende promover: a eutanásia, o suicídio assistido e o suicídio.

Mas possivelmente o que mais querem ocultar os partidários destes crimes é o egoísmo dos saudáveis para com os doentes. Quando uma sociedade cria uma mentalidade propícia à eutanásia e ao suicídio assistido, em realidade está dizendo aos idosos, aos doentes terminais e aos familiares dos pacientes comatosos: "Olhem, não vamos lhes ajudar, não vamos estar com vocês para aliviar a dor ou para lhes ajudar a carregar suas cargas, mas sim vamos a 'ajudaá-los' a que se tirem do meio ou vamos fazer o com seu consentimento ou inclusive sem ele."

Não existe o "direito" de tirar a vida nem de pedir que outros nos tirem isso, nem tampouco, é obvio, tirar de outro, embora nos peça isso. As súplicas de um doente ou idoso de que o matemos não são tanto uma petição de morte, mas sim um grito de desespero de uma pessoa em uma situação vulnerável diante da dor. Vamos abandonar a essa pessoa nessa situação ou vamos ajudar a sair dela para que recupere seus cabais e receba o amor, a solidariedade e a paz que necessita antes morrer de forma natural? É uma hipocrisia inconcebível dizer que o doente terminal tem o "direito" a decidir seu destino (a morte), quando na realidade sua situação mental (às vezes causada pelos que o rodeiam com uma mentalidade em pró da eutanásia) é o que o levou a esse momento de desespero e quando é ele e não nós o que está pedindo isso.

Entretanto, independentemente de uma condição de intensa vulnerabilidade psicológica, o suicídio (assistido ou não) e, é obvio, a eutanásia sempre são atos graves e nunca lícitos. Alguns objetam que por que o "direito" a morrer pela própria mão não existe, se for a própria pessoa que o decide. Respondamos a este argumento parte por parte.

Em primeiro lugar se trata de um argumento circular e portanto falacioso. Dizer: "eu tenho o direito de suicidar-me porque eu decido" não prova absolutamente nada. No fundo implica que a decisão própria justifica tudo, o qual é uma aberração e a destruição, por princípio, não só da vida mesma, mas também da convivência social.

Mas o pior desta mentalidade é a concepção erroada da pessoa humana que está à base da mesma. Em efeito, se eu disser que é lícito matar alguém, ajudá-lo a que se mate ou me matar a mim mesmo porque está (ou estou) sofrendo ou porque seu (ou meu) vida "carece da qualidade ou sentido suficiente", então eu estou dizendo que a vida humana e em último caso a pessoa humana tem um valor extrínseco e relativo, quer dizer, condicionado à posse de certas qualidades ou vantagens. Estou dizendo que a pessoa humana carece de uma dignidade ou valor intrínseco e absoluto, quer dizer, que não vale pelo mero feito de ser pessoa, mas sim a condição de que possua certas qualidades (de saúde, etc.) que a sociedade considera necessárias para que mereça continuar vivendo.

Essa forma de pensar, além de desumana e equivocada, é extremamente perigosa, já que suporta a um declive escorregadio e interminável de morte. Com efeito, os promotores da eutanásia e do suicídio assistido começaram retirando a água e os alimentos dos pacientes comatosos, logo promoveram a falsa "solução" de dar uma injeção letal com o consentimento de seus familiares, agora na Holanda estão matando os pacientes terminais e os idosos mesmo sem seu consentimento, assim continuarão eliminando ainda àqueles que não são pacientes terminais nem pacientes graves nem idosos. O "controle de qualidade" não terá fim.

A razão fundamental de que ninguém tenha o "direito" de matar-se ou ajudar a outros a fazê-lo é porque todos temos uma dignidade, quer dizer, um valor intrínseco e absoluto, e os valores assim não se destroem, protegem-se e se amam. Na realidade à base da saúde mental e do mesmo amor é o valor da pessoa. Se eu perder o sentido de meu próprio valor ou dignidade (a dignidade nunca se perde, não importa em que condição me encontre, mas o sentido pode se perder, embora não deveria se perder), se eu perder, repito, o sentido de minha própria dignidade, isso equivale a perder minha auto-estima e minha saúde mental. O que eu necessito nesse caso é que me ajudem a recuperar esse sentido, essa autoconsciência de meu próprio valor como pessoa, não que me "ajudem" a me liquidar.

Se a sociedade perder o sentido ou a consciência do valor incondicional da pessoa humana, perderá também a capacidade de amar incondicionalmente, já que o amor e o valor são realidades correlativas, não se ama o que não se percebe como um valor. O que será então de nossa sociedade, de nossas famílias, de nossos matrimônios? Se os esposos não se amarem dessa maneira, se os pais não amarem a seus filhos dessa maneira e vice-versa, se os cidadãos não se amarem ou ao menos não se respeitam dessa maneira, o que acontecerá as gerações posteriores, como crescerão nossos filhos, que classe de ser humano teremos no futuro? Uma sociedade que não é capaz de servir autenticamente (isso é amar) a seus membros mais fracos perdeu o sentido de sua própria humanidade e do que significa ser civilizado e se converteu em uma sociedade caracterizada pela barbárie, uma sociedade onde o homem é o lobo do homem, onde se pisoteia esse direito e esse desejo que está semeado no mais profundo do coração de toda pessoa, admita-o explicitamente ou não, de que o tratem como pessoa e não como uma coisa, que o tratem como um fim em si mesmo e não como um meio para outro fim.

A mentalidade em pró da eutanásia e do suicídio assistido leva em si mesmo o germe da destruição social e do que significa ser pessoa, por isso deve ser denunciada e refutada por todos os meios legítimos a nosso alcance. Mas não só isso, deve ser também substituída por uma mentalidade a favor da vida e do amor, por uma mentalidade a favor do amparo dos mais débeis e doentes, por um progresso adequado no campo da saúde, por uma mentalidade criadora de forma cada vez melhores de compaixão e ternura e por um correspondente léxico pró vida: "pessoa" não "vegetal", "vida humana" não "vida sem sentido", etc. Em definitiva se trata de construir uma civilização em pró da pessoa e não contra ela.
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