Esta foi uma entrevista que os redatores do blog vocacionados fez com um Padre sécular.

Pergunta — Vendo esses escândalos noticiados atualmente, a mídia falando de padres homossexuais e pedófilos, ficamos horrorizados. Gostaria de pedir ao Cônego José Luiz uma palavra sacerdotal límpida e orientadora, como costumam ser suas respostas no Catolicismo. Ajude-nos, no meio desta confusão que envolve a Igreja que amamos tanto.


Resposta

— O espocar de notícias quase diárias sobre o assunto, em vários países da Cristandade, dá a impressão de um fenômeno de grandes proporções. Porém, quando se enumeram e analisam os casos narrados, percebe-se que o fenômeno atinge uma porção mínima do Clero católico, que conta em suas fileiras centenas de milhares de sacerdotes em todo o mundo.

Também chama a atenção que as denúncias referem-se quase sempre a fatos ocorridos 20 ou 30 anos atrás. Por que, de repente, são eles trazidos simultaneamente a público, e em lugares tão diversos? Não se pode deixar de pensar numa campanha orquestrada com fins inconfessados.

Recolocada assim a questão nas suas devidas proporções, é evidente que não se pode deixar de censurar com as palavras mais enérgicas a prevaricação desses sacerdotes que traíram de modo tão infame seus votos e sua vocação. Traição em primeiro lugar a Jesus Cristo, do qual eram representantes e ministros; traição à Igreja, que lhes confiou almas para serem conduzidas ao caminho da salvação, e não de perdição.


Pio XII: "É necessário que o Sacerdote renuncie a tudo quanto é do mundo (I Cor 7, 32-33)"

Dois pesos e duas medidas

Por outro lado, percebe-se a malícia intrínseca dessa campanha lançada contra a Igreja no fato de que é toda a sociedade hodierna que padece desse mal. A imprensa — escrita, falada ou televisiva — favorece de todos os modos a difusão do mais escandaloso permissivismo moral em todos os campos e em todas as camadas da sociedade, e de repente faz-se de moralista farisaica num ponto específico (a pedofilia) e descarrega as baterias contra a Igreja nesse ponto! Não se pode deixar de perguntar com que objetivos o faz...

Cumpre desde logo notar que, muito freqüentemente, os mesmos órgãos de imprensa que indigitam a Igreja por causa dos pecados de pedofilia de um certo número de sacerdotes, por outro lado são eles os maiores promotores dos pseudodireitos dos homossexuais. Fingindo ignorar que, com freqüência, o pecado de pedofilia é ao mesmo tempo um pecado de homossexualismo. A contradição não poderia ser mais flagrante: é preciso combater a pedofilia — dizem — mas salvar o homossexualismo (o que procuram fazer, porém não dizem...).

Não posso evidentemente, em duas laudas de papel, abordar o assunto em todos os aspectos. Por isso deixo de apresentar uma refutação cabal à contra-argumentação segundo a qual, na relação pecaminosa entre dois adultos, entra a presunção de consentimento das partes, enquanto no caso da pedofilia a presunção é de violência ou engodo, de onde seriam dois casos tipicamente distintos. Digo simplesmente que o consentimento mútuo não salva o pecado de homossexualismo (como, aliás, também não o de pedofilia, conforme alguns pretendem).


Nosso Senhor instituiu a Ordem Sacerdotal na Última Ceia

Celibato, glória da Igreja

Removendo assim habilmente do panorama a questão do homossexualismo, os promotores da atual campanha contra a Igreja investem contra o celibato eclesiástico, apontando-o como causa de "tão grande número" de sacerdotes buscar um derivativo no abuso de menores.

O celibato eclesiástico é uma das glórias da Igreja latina. E mesmo nas igrejas católicas de rito oriental, em que o celibato é optativo — sendo pois legitimamente praticada a ordenação de homens casados — convém lembrar que somente os sacerdotes célibes são elevados ao episcopado. É a maneira pela qual as igrejas orientais manifestam o seu apreço pelo celibato.

Contra aqueles que pensam ser o celibato dos clérigos de introdução muito posterior aos inícios da Igreja, o Papa Pio XI lembra que no Concílio de Elvira, celebrado nos princípios do século IV, já se encontram os primeiros traços dessa prescrição. "O que certamente prova — diz o Pontífice — que esta prática de há muito estava em uso". De onde se deduz — conclui Pio XI — que "esta prescrição da lei não faz mais, por assim dizer, do que dar força de obrigação a um como postulado que se deriva do Evangelho e da pregação apostólica" (Encíclica Ad catholici sacerdotii, de 20-12-1935, nº 67).

Pio XII aprofunda essa razão, explicando por que o celibato é "como um postulado que se deriva do Evangelho". Diz ele: "O Sacerdote tem como campo de sua própria atividade tudo o que se refere à vida sobrenatural, e é o órgão de comunicação e de incremento da mesma vida no Corpo Místico de Cristo. É necessário por isso que ele renuncie a `tudo quanto é do mundo' (I Cor 7, 32-33). E é exatamente porque deve estar livre das preocupações do mundo, para se dedicar todo ao serviço divino, que a Igreja estabeleceu a lei do celibato, a fim de que ficasse sempre manifesto a todos que o Sacerdote é Ministro de Deus e pai das almas. Com a lei do celibato, o Sacerdote, ao invés de perder o dom e o encargo da paternidade, aumenta-o ao infinito, pois se não gera filhos para esta vida terrena e caduca, gera-os para a celeste e eterna" (Exortação Menti nostrae, de 23-9-1950, nº 21).

Voz secular e solene

Para aqueles que têm dito que essa é a opinião dos Papas anteriores ao Concílio Vaticano II, basta citar Paulo VI, o qual, na carta encíclica Sacerdotalis caelibatus (24-6-1967), observa que "o celibato sacerdotal, que a Igreja guarda há séculos como brilhante pedra preciosa, conserva todo o seu valor mesmo nos nossos tempos, caracterizados por transformação profunda na mentalidade e nas estruturas" (enc. cit., nº 1). E depois de refutar o "coro de objeções" que pretende sufocar "a voz secular e solene dos Pastores da Igreja", proclama: "Não, esta voz é ainda forte e serena; não vem só do passado, vem do presente também" (enc. cit., nº 13).

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Os pontífices citados não fazem mais do que confirmar a tradição ininterrupta da Igreja, cujos santos e doutores sempre celebraram o celibato eclesiástico. Para não me alongar em citações que encheriam um livro, menciono apenas São João Crisóstomo (c. 340-407), o qual afirma: "Convém àquele que ascende ao sacerdócio ser casto como se já morasse nos Céus" (De sacerdotio III, 4).

Peçamos a Jesus Cristo nosso Redentor, por meio de Maria, Medianeira universal de todas as graças, que a atual investida contra o celibato eclesiástico se esfacele contra o rochedo de nosso amor e de nossa adesão entusiasta ao Espírito Santo, que suscitou na Igreja essa gema preciosa da castidade perfeita.

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