Dom Orlando Brandes



Secularização significa viver sem Deus, sem religião, porque século significa mundo. Secularização é um estilo de vida, uma cultura, um jeito de viver, sem fé, sem Deus, sem a dimensão espiritual da vida. Viver no mundo, no século e sem transcendência. A medida de tudo é o próprio homem, a razão humana. A isso chamamos de antropocentrismo. A política, a ciência, a economia, expulsaram a religião. Deus, além de inútil, virou um estorvo para o homem secularizado. Ele não passa de uma projeção do homem fraco e doentio. A secularização é a indiferença religiosa. Vive-se como se Deus não existisse. O homem inventou Deus e agora o ignora e descarta. O lugar de Deus é o exílio.

A secularização eclipsou a Deus, mas criou ídolos vorazes que devoram tudo. A depredação do meio ambiente é conseqüência do egoísmo globalizado e sem ética que provocou também a atual crise econômica e financeira. Nossa realidade está construída sobre areia. A soberba da razão, a atrofia espiritual, o culto estéril do individualismo, o vazio do coração, o endeusamento do dinheiro, do sexo e do poder são rostos do “império do mal” e da queda da atual civilização.

Ronda por aí a cultura da morte sob o manto do terrorismo e da violência, e agora, da morte do ser humano eliminado no uso de células tronco embrionárias, que na prática, leva à justificação do aborto. Não só se pratica o mal, mas tenta-se justificá-lo e transformá-lo em bem e em expressão de progresso.

Secularização hoje é um estilo de vida sem Deus que impõe modelos e critérios consumistas, cujos resultados são: a droga, o fracasso familiar, a erotização da vida, a prática generalizada da corrupção, a banalização da vida do feto e do idoso. A fome não foi exorcizada e aparecem novas pobrezas. Vivemos numa situação de “iniqüidade social”.

A própria secularização faz surgir uma “nova religiosidade selvagem”, envolvida com interesses financeiros, exorcismos exploradores, atitudes extravagantes, guerras santas, como dizia Sto. Agostinho: “a necessidade é mãe de todas as coisas”. Cresceram as religiões, mas não cresceu o amor a Deus, ao próximo e a transformação do mundo.

O apóstolo Paulo escreve que se vivemos sem Deus, vivemos sem esperança. Estamos no “século do medo”, reféns da depressão e do vazio existencial. Uma vida sem amor e sem sentido, é uma prisão. Esta realidade faz explodir a industria do divertimento, do armamento, dos desejos insaciáveis, das necessidades desnecessárias, da lógica da força.

A secularização acaba deixando no ser humano a saudade de Deus, do amor do Pai, da misericórdia do Filho, do desejo e da fome da verdade e do bem. Render-se ao amor de Deus é o caminho de uma nova cultura, marcada pela teologia da beleza, pela expressão da alegria e pela espiritualidade da esperança: “Convertei-vos e vivereis”. Voltar para Deus equivale a reconstruir a “civilização do amor”. Oxalá, a misericórdia divina, com sua benevolência, paciência e providencia, nos alcance um coração de mãe para termos atitudes filiais com Deus e fraternas com os outros.

A secularização não respeita um dado estrutural do próprio homem que é a religiosidade, o desejo de Deus, a necessidade do sentido, da verdade e do absoluto. Na realidade o ser humano é mais espiritual que material. É um ser de esperança. Construir um mundo sem Deus, é construí-lo contra o homem. O mistério e a fé são fundamentos para a existência. Ajudam a pensar e alargam o alcance da razão. Quando a dimensão religiosa não é resolvida ou foi desrespeitada, a fome de sentido da vida e as perguntas existenciais ficam sem resposta. No lugar da oração, da meditação, da adoração aparece o vazio, farra, álcool, drogas etc. O homem é um ser religioso. Portanto, é questão de justiça o ensino religioso e a liberdade religiosa. A secularização não constrói o verdadeiro humanismo.

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