Pergunta de mais um leitor do blog vocacionados

A todos, Paz e Bem! Esclareçam-me sobre o dízimo. Minha dúvida é quanto à ênfase demasida dada aos dizimistas em orações e bênçãos especiais de algumas comunidades. Ora, isso não é fazer acepção de pessoas? Afinal, o desempregado que leva seu último quilo de feijão no ofertório não merece a mesma atenção? E o óbulo da viúva? Jesus manda acolher a todos sem distinção! O recolhimento de dinheiro durante a celebração litúrgica não é um contra-senso? Há disposições no Magistério da Igreja que permitam tal procedimento?
Fiquem em Paz! Grato.


Jéferson Oliveira Diniz, Sorocaba, SP




A palavra “dízimo” é originária do latim: decimum, que significa “a dé­cima parte de um todo”. É uma prática de origem bíblica. Não é uma invenção da Igreja Católica ou de qualquer outra Igreja cristã.


Já no início da Bíblia, encontramos a prática do dízimo no oferecimento das “primícias da colheita”. Era costume oferecer a Deus os primeiros e melhores frutos do trabalho agrícola e pastoril. Era uma expressão de gratidão e um gesto de louvor: dez por cento das colheitas e dos rebanhos era ofertada no Templo ao Senhor.


Abraão é o primeiro a falar em “dízimo” e oferece a Deus, através do sacerdote Melquisedeque, a décima par­te de todos os bens que o Senhor colocou em suas mãos (cf. Gênesis 14,18-20). O dízimo tinha uma dupla finalidade: manter o culto no Templo e ajudar os pobres (Deuteronômio 26, 12-13).


Mesmo quando a partir de Moisés o dízimo passou a ser uma obrigação para todos os filhos de Israel, essa prática sempre foi motivada por um gesto espontâneo que expressava a fé, o reconhecimento e a gratidão para com Deus, Senhor da vida e de todos os bens.


Há várias passagens bíblicas sobre o dízimo. Uma das principais é o texto de Malaquias 3,10: Pagai integralmente os dízimos ao tesouro do templo, para que haja alimento em minha casa. Fazei a experiência, diz o senhor dos exércitos, e vereis se não vos abro os reservatórios do céu e se não derramo a minha bênção sobre vós muito além do necessário.


O dízimo é uma oferta. Mas embora também seja um gesto espontâneo de doação, o dízimo não pode ser confundido com a oferta, tanto com aquela que fazemos na apresentação das oferendas na Missa, quanto com os gestos de caridade fora da missa, ou mesmo com a oferta a algum movimento religioso. O valor em dinheiro ou em produtos que ofertamos com generosidade é expressão viva de doação para o bem da comunidade, mas não nos isenta de sermos dizimistas, comprometidos com a comunidade onde celebramos nossa fé.


Diferentemente da oferta, que não é regular, o dízimo é uma doação mensal, sistemática e organizada que ajuda a Igreja a cumprir sua missão. O dízimo não é uma taxa nem uma esmola. É uma doação. Uma retribuição a Deus e à comunidade por tudo o que recebemos.


O dízimo bem-assumido é sinal e termômetro do amor e da gratidão a Deus, do compromisso com a comunidade. Não se dá o dízimo para garantir novas bênçãos divinas e nem para garantir “serviços religiosos” e muito menos para que se tenha algum tipo de prestígio, ou então, apenas para que o nome seja destacado na comunidade.


A Bíblia diz que Deus ama a quem dá com alegria (2ª Carta aos Coríntios 9,7). Deus não olha o tamanho da oferta, mas a generosidade. Quanto mais a pessoa abre seu coração para partilhar, tanto mais agrada a Deus e se abre a ele para receber suas bênçãos.


Por isso, o dízimo nunca pode ser motivado pelo dito: “dou para que me dês”. A relação com Deus é inversa: “dou porque Deus me deu”.

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