Moderadores do Blog, gostaria de saber um pouco mais sobre o posicionamento da Igreja sobre o processo de cremação. Isso é pecado ou não? Na Bíblia está escrito: “Tu és pó, e pó te hás de tornar” (Gn 3,19). A cremação contradiz a Bíblia, uma vez que fala cinzas e não de pó?

Carlos Divino Pereira,
Campo Belo, MG


Atualmente acompanhamos um significativo crescimento do nú­mero de crematórios no Bra­sil. Embora seja uma prática adotada desde a antiguidade, em nossa sociedade continua sendo um tema que gera polêmica.


A palavra cremação é derivada do verbo latino cremare, que significa a “ação de queimar”, “consumir pelo fogo”. Ou seja, a cremação é a queima de um cadáver até reduzi-lo a cinzas.


A forma de tratar o corpo de um falecido sempre foi uma questão cultural. Desde a antiguidade encontramos sociedades que enterravam e outras que cremavam os corpos de seus entes.


Entre os gregos, principalmente por ocasião das guerras, com a necessidade de trazer de volta os soldados mortos para sepultá-los em sua pátria, a cremação era muito comum. Já entre os escandinavos, embora a prática fosse a mesma, a motivação era diferente: acreditavam que com a queima do corpo a alma ganharia liberdade.


O Cristianismo, seguindo a Tradição Judaica, sempre se afeiçoou mais à prática do sepultamento. Em várias ocasiões, em que a fé na ressurreição dos mortos era colocada à prova, como por exemplo com o Iluminismo e com a Maçonaria, a Igreja se manifestou contrária à prática da cremação.


Hoje podemos ler no Catecismo da Igreja Católica: “A Igreja permite a cremação, se esta não manifestar uma posição contrária à fé na ressurreição dos corpos” (n. 2301). No entanto, nem sempre foi assim. Nas leis eclesiásticas, expressas no Código de Direito Canônico, de 1917, era negada a sepultura cristã à pessoa que fosse cremada.


O desenrolar da história e a reflexão teológica permitiram que, em 1963, a Congregação do Santo Ofício publicasse uma Instrução permitindo a cremação, desde que esse gesto “não fosse uma negação do dogma cristão ou uma atitude de revolta contra a religião católica”. Portanto, atualmente o Novo Ritual das Exéquias possibilita a realização das cerimônias de cremação no próprio crematório (Ritual de Exéquias, n. 15).


Dessa forma, a cremação, desde que motivada pela fé na ressurreição, não é contrária à Bíblia nem à fé católica. Ao invés de condenar essa prática, podemos dar a ela um novo sentido, uma vez que na Bíblia o fogo é símbolo da purificação dos pecados (Isaías 6,7). Aliás, esse simbolismo já está contemplado no comentário inicial do ritual: “O fogo ao qual entregamos este corpo não é símbolo de destruição, mas sinal do amor de Deus que quer purificar e transformar nosso irmão para que possa alegrar-se na presença de Deus”. (Cf. CNBB. Nossa Páscoa: subsídios para a celebração das exéquias).

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