Mendigo não tem nome, não tem carteira de identidade nem parentes, é enterrado quando morre como indigente o que significa “sem ninguém que chore a sua morte”, sem ninguém que reclame o seu cadáver, sem alguém que tenha coragem de dizer: “ Este é o meu irmão, parente, amigo”.Mendigo vive sozinho e anda pelas ruas, olhado como um leproso, de quem todos fogem por medo de contágio. É visto como ladrão disfarçado, vagabundo que gosta de não trabalhar e se aproveita de bondade de alguns ingênuos.

Na verdade se contam por aí histórias de gente graúda que, disfarçada de mendigo, só faz dinheiro e tem apartamento na praia bem à beira mar, nem precisa pegar ônibus para ir até a praia, e não só, tem apartamento no centro da cidade e vive de renda, tem filhos estudados, mulheres que andam com jóias e carrão. Há mendigo, dizem os estendidos em mendicância, que até vai de férias ao exterior, e quando colocar de novo nas esquinas com a mão estendida mendigando um pedaço de pão. Mendigo é malandro e pronto. É uma raça que não presta e que seria melhor acabar. Há mendigos que são vaidosos, ricos, usam perfumes caríssimos. De vez em quando jornais e revistas se divertem cinicamente às custas dos mendigos: “Mendigo por um dia”. No fim do dia contam os trocados recebidos e fazem logo as contas: mendigo ganha no fim do mês até mais de R$ 2 mil, sentenciam.

Se fosse tudo isto verdade, que há entre os mendigos ricos com fazenda e apartamento q eu ganham dinheiro, por que então tantos pobres? E por que os ricos também não vão mendigar para se tornarem ainda mais ricos? A Bíblia está cheia de mendigos, e todos são conscientes da própria miséria, da própria incapacidade e sofrimentos terríveis. Como não lembrar a parábola que Jesus um dia contou do rico que o povo apelidou de “Epulão” porque podia permitir-se o luxo de esbanjar tudo, vestia vestes finíssimas de púrpura e dava banquete todos os dias. E havia o pobre Lázaro a quem ninguém olhava, que se via obrigado a sentar na porta do palácio esperando migalhas, enquanto os cachorros lhes lambiam as feridas...

Mas a sorte foi diferente na outra vida: o rico vai para o inferno e o pobre é recebido no seio de Abraão. Entre o rico no inferno e Abraão trava-se um diálogo emocionante, cheio de súplica, por quem está no inferno e na justiça de Abraão. Há entre os bons e ruins um abismo que não poderá ser superado. O que mais compromete na via são as palavras que Abraão diz: “Não adianta enviar os mortos para avisar os que vivem, porque não vão acreditar. Eles, os vivos, têm a lei, e os profetas observem isto e se salvarão”.

A vida de todos nós é uma história dramática que deve ser vivida na dimensão do amor e da misericórdia. Aqui e agora quem têm importância são os ricos e poderosos, que podem permitir-se de oprimir e de massacrar os pobres; eles têm nome e endereço. Os pobres para os ricos não têm nome. São indigentes abandonados, excluídos do mínimo convívio e do mínimo respeito, mesmo depois de mortos. Mas diante de Deus as coisas mudam numa forma totalmente surpreendente. O pobre tem nome, se chama Lázaro, é recebido com festa no céu e acolhido no seio de Abraão, que é o paraíso. Nem sempre é fácil compreender esta lógica de Deus, mas é esta.

Todos nós ficamos chocados por um dia diante de tamanha brutalidade e depois tudo volta ao normal, a vida continua e as coisas não mudam. Precisamos constantemente de terapia de choque para compreender que o ser humano sem amor vira animal devorador e destruidor dos próprios semelhantes.

Quem deve resolver estes problemas dos mendigos, dos irmãos sem nome, sem terra, sem referenciais? Todos nós, eu e você. Necessitamos permitir que Deus entre nos nossos corações e grite forte, sempre mais forte, para que o grito do silêncio dos mortos e da brutalidade nos acorde do nosso sono. Não tem sentido fazer demonstrações e pedir perdão para os mortos. É preciso que, os que detêm o poder da ordem, sejam capazes de devolver à sociedade a tranqüilidade. E ainda a revolta è maior quando os jornais, os meios de comunicação, insinuam que os atores destas atrocidades são policiais. Mendigo morre e nem se chora.



Mendigo, tu não tens nome

Nem uma cruz no teu túmulo,

Nem uma flor será plantada,

Nem o teu nome será inscrito...

Tu és Zé ninguém.

Para Deus tu és importante;

Chama-te Lázaro

E serás glorioso no dia

Da ressurreição.



Frei Patrício Sciadini, ocd.

(Extraído do informativo O Testemunho de Fé)

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