Ele compra tudo. Até a consciência. Até a dignidade. Só não garante a plenitude eterna. Muitos dos seus dependentes já cruzaram meu caminho em tempos de vacas magras. Prestativos, solícitos, olhares ávidos de atenção e carentes de amor, eram até solidários e sabiam partilhar da própria pobreza. Amigos, poder-se-ia dizer. Gente simples, cheia de sonhos, que as agruras dos tempos difíceis me permitiram conhecer.

Engordaram seus rebanhos. Cruzam ainda meu caminho de quando em vez. Cadê o sorriso? Cadê a simplicidade de uma relação sem preconceitos, sem interesses, mas que partilhava naturalmente projetos, ambições, sonhos e ilusões? Cadê a amizade para sempre, o bom-dia cordial, o oi-como-vai, o abraço fraterno, a mão estendida?

Há raríssimas exceções. Mas ainda bem que existem estas. Por conseguinte, as encontro quase semanalmente, não em clubes sociais, nem na esfera política ou na associação comercial, ou mesmo na cooperativa rural da cidade. As exceções ainda são capazes de um abraço na hora da paz de nossas liturgias dominicais.

Por conta disso, eis que entre nós se levanta uma corrente de energia maior, amizade autêntica, capaz de agradecer pelo passado de privações, de sorrir por suas lembranças, de reconhecer nele o fogo cristalizador de uma provação divina. A necessidade partilhada, a solidariedade, fraternidade pura e desinteressada foram a escola que forjou amigos, não companheiros de infortúnios apenas.

Ou Deus ou o dinheiro. Ou a confiança serena no provedor da vida ou a submissão humilhante ao provedor da morte, das desgraças múltiplas que esfacelam e trituram qualquer sinal de dignidade, brio na cara, vergonha mesmo.

Dinheiro não é um mal, mas um bem necessário. A questão é colocá-lo no devido lugar. É também senhor, pois proporciona a concretização de muitos sonhos, o alcance de uma vida digna, a realização dos projetos não somente pessoais, mas principalmente aqueles que visam o bem comum. Riqueza partilhada, bem planejada e administrada justamente é a meta de um mundo mais santo, humano. Acima dele e de seu poder está o Plano de Amor estabelecido pelo Senhor de tudo, aquele que nos deu tudo o que temos, tudo o que somos.

Falta ao mundo essa visão do provedor maior. “Não se pode servir a dois Senhores”. O endeusamento do poder gerado e alimentado pela força do capital é hoje a maior desgraça da sociedade, seja ela capitalista ou não. Não é o regime que dita as normas da convivência humana, mas sua maneira de submissão a essas normas. Qualquer mandamento ou constituição humana, sem Deus, é jugo, grilhão da escravizante ação do poder monetário. Precisamos definir: ou um, ou outro.

A globalização econômica colocou o dinheiro como fonte de todas as benesses. Pode até ser, no plano material. Mas há o custo social, ou, na linguagem cristã, a prática da fraternidade universal. Sonho aparentemente utópico, mas possível de ser real. Não sem antes restituir ao coração de todos os povos o conhecimento e respeito à única fonte de vida plena: Deus. Sem a magnitude de seu poder, sem a submissão aos seus projetos, sem o respeito a seus mandamentos, nada somos, nada temos. Esse é o grande dilema dos que constroem seus pedestais com a solidez de suas posses materiais, quando mais consistente e valiosa é a riqueza dos bens espirituais. Esta não se aufere com cifras, números, pesos ou medidas especulativas, pois que a dimensão divina é infinita. Ele é Soberano, Senhor dos Céus e da Terra. Oferece-nos um tesouro sem qualquer corrosão ou vulnerabilidade como aqueles que aqui amealhamos. Pois sua riqueza não pesa no bolso, mas no coração. Possui a volátil e impalpável leveza da alma submissa ao Amor do Pai. Esse nenhum dinheiro compra.

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