Há vidas e vidas. Gosto de observar as pessoas no metrô, na fila dos bancos, no hall de uma sala de espetáculos e na rua…

Aquele homem perambulava por ruas sujas e imundas, com paredes rabiscadas e fétido odor… Ele era jovem, bonito, cabelos negros, sujo, descalço, descuidado, com calças dobradas até o meio da canela. Tinha, no entanto, no jeito de caminhar e no brilho de seus olhos lampejos de nobreza. Andava a esmo, carregando uma vasilha de plástico e arrastando um cobertor…

Lavava o rosto numa bica que havia ali, perto do viaduto… e à noite se enrolava naquela coberta que carregava de um lado para o outro e dormia… nem mesmo sei se conseguia dormir… ali mesmo num canto… meio escondido, antes de deitar, urinava… sujo… sem nada, sem ontem, sem antes de ontem e sem amanhã… antes de dormir rezava uma ave-maria e fazia o nome do Pai… Andou se metendo no mundo das drogas, estragou a vida e os seus o deixaram. Ninguém sabe nada a respeito desse homem bonito e transformado num caco humano e num resto de gente.

Alguém, no entanto, tem que saber alguma coisa a respeito desse homem. Um dia um homem e uma mulher se uniram carnalmente e esse homem foi gerado… com casamento… sem casamento… não sei. Não aconteceu assim do nada. Mas teve um pai e uma mãe.

Quem sabe, talvez, ele teve um berço, sapatinhos de lã, chocalho, brinquedos do Papai Noel, tio, avós, primos, padrinho, madrinha, bilu-bilu… Deve ter mamado de peito ou de mamadeira. Deve ter sido beijado e a muitos beijado. Teve um quarto com colchão, travesseiro, edredom, mosqueteiro, livros, terço, escrivaninha para estudar com lâmpada de mesa. Sim, livros, atlas, gramática portuguesa, livros de inglês. Quando voltava à casa depois das aulas tomava uma xícara de chocolate quente nos dias de inverno.

Será que não? Será que o que escrevo é pura fantasia? Será que esse homem nunca usou faca e garfo?

Que será desse resto humano de um pouco mais de 30 anos. Quem se interessará por ele? Será que basta alguém passar e deixar uma sacola com biscoitos, leite e frutas? Será que basta que ele receba roupas que as pessoas não querem mais? Como fazer de sorte que este homem possa dormir numa cama decente, abrir a janela para o dia que chega, tomar banho, pentear o cabelo, encontrar um amor, descobrir que Jesus , belo e magnifico, deu a vida por ele numa tarde de amor?

Que tristes histórias perambulam pelas ruas….

FONTE: WWW.FRANCISCANOS.ORG.BR

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