"Eis que
veio em meu socorro Miguel,
um dos primeiros
príncipes".
(Dan 10, 13)
“Eu sou Gabriel,
que assisto
diante (do
trono) de Deus".
(Lc 1, 19,)
“Eu sou o anjo
Rafael, um dos sete
que assistimos
diante do Senhor”.
(Tob 12, 15)
A Igreja e o
povo fiel veneram de modo especial os três gloriosos Arcanjos — São Miguel, São
Gabriel e São Rafael. Embora eles sejam comumente chamados de Arcanjos, segundo
teólogos e comentaristas das Escrituras, eles certamente pertencem ao primeiro
dos coros angélicos, o dos Serafins.
São Miguel: “Quem é como Deus?”
Em hebraico:
mîkâ’êl, que significa: “Quem (é) como Deus?” As Escrituras se referem
nominalmente ao Arcanjo São Miguel em quatro passagens: duas delas na profecia
de Daniel (cap. 10, 13 e 21; e ap. 12, 1); uma na Epístola de São Judas Tadeu
(cap. único, vers. 9 ) e finalmente no Apocalipse (cap. 12, 7-12). No livro de
Daniel o Santo Arcanjo aparece como “príncipe e protetor de Israel”, que se
opõe ao “príncipe” ou celestial protetor dos persas.* Segundo São Jerônimo e
outros comentadores, o anjo protetor da Pérsia teria desejado que ficassem ali
alguns judeus para mais dilatarem o conhecimento de Deus; porém São Miguel
teria desejado e pedido a Deus que todos os judeus voltassem logo para a
Palestina, a fim de que o templo do Senhor fosse reconstruído mais depressa.
Essa luta espiritual entre os dois anjos teria durado vinte e um dias.
* Nas escrituras os anjos são chamados com freqüência
príncipes.
São Judas, na
sua Epístola, alude a uma disputa de São Miguel com o demônio sobre o corpo de
Moisés: o glorioso Arcanjo, por disposição de Deus, queria que o sepulcro de
Moisés permanecesse oculto; o demônio, porém, procurava tomá-lo conhecido, com
o fim de dar aos judeus ocasião de caírem em idolatria, por influência dos
povos pagãos circunvizinhos. No Apocalipse, São João apresenta São Miguel
capitaneando os anjos bons em uma grande batalha no céu contra os anjo rebeldes
chefiados por Satanás, ali chamado dragão:
“E houve no céu
unia grande batalha: Miguel e os seus anjos pelejavam contra o dragão, e o
dragão e seus anjos pelejavam contra ele; porém, estes não prevaleceram, e o
seu lugar não se achou mais no céu. E foi precipitado aquele grande dragão,
aquela antiga serpente, que se chama demônio e Satanás, que seduz todo o mundo;
e foi precipitado na terra, e foram precipitados com seus anjos” (Apoc 12, 7-12).
A Igreja não definiu nada de particular sobre São Miguel, mas tem permitido que
as crenças nascidas da tradição cristã a respeito do glorioso Arcanjo tenham
livre curso na piedade dos fiéis e na elaboração dos teólogos. A primeira
crença é a de que São Miguel era, no Antigo Testamento, o defensor do povo
escolhido — Israel; e hoje o é do novo povo escolhido — a Igreja. Tal piedosa
crença está em consonância com o que é dito no livro de Daniel: “Eis que veio
em meu socorro Miguel, um dos primeiros príncipes. ... Miguel. que é o vosso
príncipe” — isto é, dos judeus (10, 13 e 21). “Se levantará o grande príncipe
Miguel, que é o protetor dos filhos do teu povo” — de Israel (12, 1). Essa
crença é muito antiga, sendo já confirmada pelo Pastor de Hermas, célebre livro
cristão do século II, no qual se lê: “O grande e digno Miguel é aquele que tem
poder sobre este povo” (os cristãos). Ademais, tal crença é partilhada pelos
teólogos e pela própria Igreja, que a manifesta de muitas maneiras.
A segunda crença
geral é a de que São Miguel tem o poder de admitir ou não as almas no Paraíso.
No Oficio Romano deste Santo no antigo Breviário, São Miguel era chamado de
“Praepositus paradisi” — “Guarda do paraíso”, ao qual o próprio Deus se dirige
nos seguintes termos: “Constitui te Principem super omnes animais suscipiendas”
— “Eu te constituí chefe sobre todas as almas a serem admitidas”. E na Missa
pelos defuntos rezava-se: " Signifer Sanctus Michael representet eas in
lucem sanctam” — "O ' Porta-estandarte São Miguel, conduzi-as à luz
santa”.
A terceira
crença, ou melhor, opinião, é a de que São Miguel ocupa o primeiro lugar na
hierarquia angélica. Sobre este ponto há divergência entre os teólogos, mas tal
opinião tem a seu favor vários Padres da Igreja gregos e parece ser corroborada
pela liturgia latina, que se referia ao glorioso Arcanjo como "Princeps
militiae coelestis quem honorificant coelorum cives” — "Príncipe da
milicia celeste, a quem honram os habitantes do Céu"; e pela liturgia
grega que o chama “Archistrátegos “, isto é, "Generalíssimo."
O grande
comentador das Sagradas Escrituras, Pe. Cornélio a Lapide, jesuíta do século
XVI, escreve:
"Muitos
julgam que Miguel, tanto pela dignidade de natureza, como de graça e de glória
é absolutamente o primeiro e o Príncipe de todos os anjos. E isso se prova,
primeiro, pelo Apocalipse (12, 7), onde se diz que Miguel lutou contra Lúcifer
e seus anjos, resistindo à sua soberba com o brado cheio de humildade: 'Quem
(é) como Deus?’ Portanto, assim como Lúcifer é o chefe dos demônios, Miguel o é
dos anjos, sendo o primeiro entre os serafins. Segundo, porque a Igreja o chama
de Príncipe da Milícia Celeste, que está posto à entrada do Paraíso. E é em seu
nome que se celebra a festa de todos os anjos. Terceiro, porque Miguel é hoje ao
cultuado como o protetor da Igreja como outrora o foi da Sinagoga. Finalmente,
em quarto lugar, prova-se que São Miguel é o Príncipe de todos os anjos, e por
isso o primeiro entre os Serafins, porque diz São Basílio na Homilia De
Angelis: ‘A ti, ó Miguel, general dos espíritos celestes, que por honra e
dignidade estais posto à frente de todos os outros espíritos celestiais, a ti
suplico...' ". (Cornélio A LAPIDE,
Commentaria in Scripturam Sacram, t. 13, pp. 112-114 )
O mesmo dizem
inúmeros outros autores, entre os quais São Roberto Bellarmino.
Na Idade Média,
São Miguel era padroeiro especial das Ordens de Cavalaria, que defendiam a
Cristandade contra o perigo metano.
São Gabriel: “Força de Deus”
Em hebraico:
gabrî’êl, que quer dizer: “Homem de Deus" ou “Deus se mostrou forte” ou,
ainda, “Força de Deus". O próprio Arcanjo disse a Zacarias: “Eu sou
Gabriel que assisto diante (do trono) de Deus” (Lc 1, 29). Isto leva a crer que
se trata de um dos primeiros espíritos angélicos. O já citado Cornélio a Lápide
argumenta do seguinte modo, para comprovar esta opinião:
1. Se os
Serafins alguma vez são enviados por Deus em missão junto aos homens, um deles
devia ser enviado à Mãe do Redentor para anunciar o insigne mistério da
Encarnação do Verbo. Não somente pela excelsitude de tal mistério, mas porque a
Santíssima Virgem supera a todos os coros de anjos em dignidade e graça.
2. Ora, São
Paulo, na Epístola aos Hebreus (1, 14), afirma que Deus pode enviar como
mensageiro um anjo de qualquer hierarquia: “Porventura não são todos esses
espíritos uns ministros ( de Deus) enviados para exercer o seu ministério a
favor daqueles que hão de receber a herança da salvação?”
3. Logo, deve-se
crer que São Gabriel pertence à mais alta categoria angélica, isto é, ao coro
dos Serafins. (Cornélio A LAPIDE,
Commentaria in Scripturam Sacram, t. 13, pp. 142-143 )
São Gabriel, o
Anjo da Encarnação, é considerado igualmente como o Anjo da Consolação e da
Misericórdia; mas, de com o significado de seu próprio nome, representa o poder
de Deus. É por isso que as Escrituras, ao referir-se a ele, utilizam expressões
como poder, força, grande, poderoso (cf. Dan 8-10). A tradição judaica atribuía
a esse glorioso Arcanjo a destruição de Sodoma ( cf. Gen 19, 1-29), bem como o
ter marcado com um Tau a fronte dos eleitos (Ez 9, 4); e apresentava-o como o
Anjo do Julgamento Final.
A tradição
cristã vê nele o anjo que apareceu aos pastores para anunciar o nascimento do
Salvador (Lc 2, 8-14), e a São José, em sonhos, para explicar a concepção virginal
de Maria Santíssima (Mt 1,20). Teria sido ele também quem confortara Jesus em
sua agonia no Horto (cf. Hino de Laudes do dia 24 de março).
São Rafael: “Medicina de Deus”
Em hebraico:
refâ’êl, cujo sentido — é igual a: “Deus curou” ou "Medicina de Deus”.
Ele próprio
revelou sua elevada hierarquia, depois de ajudar o jovem Tobias, que cria estar
em presença de um simples homem: "Eu sou o anjo Rafael, um dos sete
(espíritos principais) que assistimos diante do Senhor” (Tob 12, 15).
Cornélio a
Lapide também considera o Arcanjo São Rafael Serafim. (Cornélio A LAPIDE, Commentaria in, Scripturam Sacram, t. 4, p. 282.)
Este insigne Arcanjo é protetor especial contra o demônio, padroeiro e guia dos
viajantes, sanador dos enfermos.
Todos esses
ofícios estão amplamente ilustrados no livro de Tobias: ele protege na viagem o
jovem Tobias (caps. 5 a
10); restitui a vista ao velho Tobias, mediante a aplicação do fel de um peixe
(cap. 11, 13-15); livra o jovem Tobias e Sara das insídias do demônio, mediante
a fumaça das vísceras do mesmo peixe, e encadeia o demônio no deserto do Egito
(cap. 8, 2-3); apresenta as boas obras e as orações do velho Tobias a Deus
(cap. 12, 12).
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