A Terra é a nossa casa comum, é o único lugar que temos para habitar. Mas ela não é somente nossa. É o espaço de muitos povos de hoje e do futuro e de uma infinidade de outras formas de vida. O planeta Terra é um satélite do Sol que surgiu há 4,45 bilhões de anos. Distante do Sol a cerca de 150 bilhões de quilômetros, nosso planeta é alimentado pela energia solar. Essa energia chega na forma de radiações eletromagnéticas equivalente a 1,95 caloria/cm², a cada minuto. A sua posição com relação ao sol lhe dá uma temperatura favorável para a existência de vida do planeta (BOFF, 2004, p. 73).
        Hoje compreendemos a Terra como um grande organismo vivo e por isso a chamamos de “GAIA”, que é o nome de uma deusa da mitologia grega – a Mãe primordial. Em Gaia a vida não está apenas na sua biosfera, é um todo, um conjunto de vitalidade. É um macroorganismo vivo, um sistema cibernético capaz de buscar os meios para manter a vida. “O sistema Gaia revela-se extremamente complexo e de profunda clarividência.” Esse sistema possui uma inteligência ordenada, ordenadora muito superior a nossa. Tal inteligência consegue calibrar todos os fatores, ordenar todos os organismos que compõe o grande organismo Gaia (BOFF, 2004, p. 32-35).
        No planeta Terra, o crescimento e o metabolismo da vida produzem e regulam o ar respirável, a temperatura agradável da Terra e as águas não-ácidas. Enfim, tudo está conectado e trabalhando em favor de todas as formas de vida. A composição da atmosfera do planeta é formada especialmente por nitrogênio e oxigênio. E geralmente esses gases reagem um com o outro de forma explosiva. Mas na Terra isso não ocorre porque tudo é regulado pela vida. “O equilíbrio entre nitrogênio, enxofre e carbono na atmosfera do planeta é regulado pela vida. A vida e a Terra física, até mesmo a sua atmosfera, evoluíram conjuntamente uma com a outra”. Gaia é uma interligação de muitos trilhões de microorganismos e outros organismos vivos. Ela é um grande organismo vivo, regulado pela vida, onde todos os organismos reagem e interagem perante as reações dos demais organismos e tudo concorre para o favorecimento da vida, para possibilitar a existência de vida. Gaia não é nenhum deus ou ser supremo ou uma entidade consciente que quer preservar seus habitantes. Ela é um complexo sistema de vida que quer manter-se vivo. “A vida global preserva por si mesma as condições ambientais adequadas mediante alterações 3 do crescimento das diversas populações de organismos.” (CALLENBACH, 2001, p. 109- 111).
         A larga biografia da Terra é marcada por transtornos, crises e assaltos provocados por fenômenos da própria natureza. E com a presença da espécie humana no planeta, foram aumentando os ataques e a sua destruição. É o mesmo sistema da sociedade humana que oprime os pobres e que devasta as florestas, polui as águas e extingue um número assustador de espécies de vida. (BOFF, 2004, p. 14-15). Entre os problemas ambientais em escala global, os mais comentados hoje em dia são: o reaquecimento da atmosfera, a redução da camada de ozônio, o desaparecimento de espécies e o crescimento da população humana altamente consumista (KERBER, 2006, p. 45-46).
         O problema do reaquecimento da atmosfera, também conhecido como “efeito estufa” é causado principalmente pela emissão de gases para a atmosfera. Para o equilíbrio da temperatura do planeta é necessário a existência de uma quantidade de gases de efeito estufa, porque sem eles a temperatura da Terra baixaria para 18º negativos. São esses gases que mantém o planeta numa temperatura vital. Mas, a exagerada quantidade de gases estufa produzidos pelo ser humano está aumentando a temperatura média da Terra (GORE, 2006, p. 28). E esse fenômeno pode causar problemas de altas temperaturas no verão e a ocorrência de secas e, além disso, aumenta o derretimento dos gelos nas calotas polares e o nível das águas dos oceanos. Também a redução da camada de ozônio é algo muito problemático para a vida do planeta, pois o ozônio constitui um filtro que protege a superfície da Terra da radiação ultravioleta (KERBER, 2006, p. 46-47).
         Impactos ambientais sempre ocorreram, mas agora acontece algo bem mais grave. O ser humano alterou muito, causou enormes e perversas mudanças que afetam todo o organismo da Terra. Chegamos ao ponto de que a nossa civilização, de forma inédita, está diante do perigo de romper com o futuro da vida. Estamos cortando o cordão umbilical da vida que está em contínua gestação. Por isso, entrou em nosso vocabulário o termo crise ecológica (KERBER, 2006, p. 51-53). E essa realidade de crise, que afeta a vida de toda a humanidade, nos chama a atenção para outra crise, que é a crise do paradigma civilizacional. O atual modelo de sociedade é que está vencido. Sentimos que precisamos mudar nossa forma de nos relacionarmos com a natureza, com os outros seres humanos e com Deus (BOFF, 2004, p. 23-25).
          Diante da crise temos de pensar num outro caminho possível, mudar de rota, fazer correções profundas e transformações culturais, sociais, espirituais e religiosas. É preciso apostar num novo paradigma, que para ser novo e universalmente aceito, não pode ser hegemônico, mas diverso (BOFF, 2004, p. 23-25). Precisamos pensar, propor e trabalhar por um modo de vida com sustentabilidade, onde a melhora da qualidade de vida seja para todos os seres vivos do nosso tempo e para as futuras gerações. Um modo de vida solidário, de comprometimento com a ética, a justiça, os direitos humanos e a paz. Um desenvolvimento que seja sustentável, que parte de uma consciência ecológica, de uma ética do cuidado e que reconheça e respeite as mais diversas formas de vida (CPT, 2006, p. 21).
         Talvez tenhamos que repensar nossos conceitos de desenvolvimento, parar de pensar tanto no crescimento econômico e buscar a sustentabilidade. Esta é a palavra apropriada para respondermos o nosso dever histórico e a nossa vocação específica como seres humanos responsáveis para promover a convivência harmônica e feliz entre todas as formas de vida no planeta. É hora de pensar e agir, enfrentar os desafios que se impõe no nosso tempo. Está na hora de fazer opções de mudanças para garantir a vida, como propusera José Lutzenberger: “Ou mudamos nossa filosofia de vida ou de fato extinguiremos toda a vida do planeta” (LUTZENBERGER, 1992, p. 128-136).

          Diante do desafio da mudança podemos e devemos buscar uma luz que vem da palavra de Deus. Ao abordar as questões específicas da ecologia e a crise que paira sobre a 4 biosfera onde coabitamos, também nos propomos a fazer uma breve reflexão bíblica. E a Bíblia revela o Deus ecológico, que ouve o clamor da vida escravizada e a liberta de toda a opressão. O Deus ecológico está compadecido, solidário com a vida e grita em seu favor. Convida-nos a assumirmos nossa vocação de jardineiros e cuidar do nosso planeta, o belo jardim onde Ele nos colocou para conviver pacifica e harmonicamente com todas as formas de vida.

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