À tarde daquele dia, disse-lhes: Passemos para o outro lado. Deixando o povo, levaram-no consigo na barca, assim como Ele estava. Outras embarcações o escoltavam. Nisto surgiu uma grande tempestade lançava as ondas dentro da barca, de modo que ela já se enchia de água. Jesus achava-se na popa, dormindo sobre um travesseiro. Eles acordaram-no e disseram-lhe: Mestre, não te importa que pereçamos?
E ele, despertando, repreendeu o vento e disse ao mar: Silêncio! Cala-te! E cessou o vento e seguiu-se grande bonança. Ele disse-lhes: Como sois medrosos! Ainda não tendes fé?Eles ficaram penetrados de grande temor e cochichavam entre si: Quem é este, a quem até o vento e o mar obedessem? (Mc 4,35 – 41)

Os discípulos escolhidos por Jesus são convidados a entrarem na barca e irem para outra margem do lago de Genesaré, também conhecido como Mar da Galiléia ou Tiberíades. O mar para os judeus era tido não somente como uma grande extensão de água que proporcionava a pesca, mas também como um lugar que dava medo. O povo daquela época pensava que nas grandes águas moravam monstros, seres assustadores capazes de devorar. Quaisquer manifestações no mar faziam com que eles pensassem que a morte estava próxima, pois seriam daqui a pouco devorados. Por mais experientes que fossem os pescadores sempre temiam o mar.
Agora imagine você o que deve ter passado pela cabeça dos discípulos de Jesus ao vê-Lo dormindo na popa sobre um travesseiro: Grande tempestade, mar furioso a ponto de entrar na barca. Meu Deus, como será que eles ficaram? Os discípulos eram pescadores experientes, basta lembrar dos primeiros que foram chamados por Jesus: Pedro, André, Tiago e João (Mt 4,18.21), mas mesmo assim ficaram com muito medo. E para eles o fator mais agravante era que enquanto todos tentavam de todas as maneiras salvar a barca e suas vidas em meio a tantos problemas, Jesus nem dava sinal de preocupação, a ponto de continuar dormindo. Então, foram ao encontro dEle e acordaram-No pedindo a Sua ajuda dizendo “: Mestre, não te importa que pereçamos?”. Em seguida Jesus ordenou ao vento e a tempestade que parassem e veio a bonança, Jesus então dirigindo aos seus discípulos interroga-lhes sobre a fé.
Naqueles tempos quando a tempestade se desencadeava no mar os marinheiros costumavam jogar óleo sobre as ondas para tranqüilizá-las. Ao invés disso jogamos sobre as ondas do medo e da angústia a confiança em Deus. O apostolo Pedro exortava os primeiros cristãos a ter confiança em Deus nas perseguições, dizendo: “confiai-lhe todas as vossas preocupações, pois Ele cuida de vós” (I Pd 5, 7). A falta de fé que Jesus reprovou aos discípulos nessa ocasião se deve ao fato de pôr em dúvida que lhe “importe” sua vida: “não te importas que pereçamos?”. O certo é que Jesus se importa e até demais. Ele cuida de nós!
Quantos discípulos não se comportam assim, no serviço de evangelização, nos momentos de turbulência em nossas vidas, mesmo estando bem próximos de Jesus, escolhidos e enviados por Ele, diante dos desafios preferem empenhar seus próprios recursos para solucionar os desafios encontrados na caminhada, esquecendo-se que agindo unido a Jesus, colocando Ele em primeiro lugar, venceremos os desafios, pois é Jesus que nos defende e nos dar a vitória. Assim aconteceu com Moisés, que diante da missão de conduzir o povo para a libertação, encontra-se em frente ao mar, sem saída e com o povo a lhe cobrar uma solução. Moisés não se inquieta, pois soube entender que naquela situação estava o plano de Deus que queria manifestar o seu poder, para aquele povo e para todas as nações. O Senhor disse a Moisés: Porque clamar a mim por socorro? Dize aos israelitas que se ponham em marcha. Quanto a ti, ergue a tua vara, estende a mão sobre o mar e divide-o, para que os israelitas passem em seco pelo meio do mar. De minha parte vou endurecer o coração dos egípcios para que os persigam, e eu seja glorificado à custa do faraó e de todo o seu exército, seus carros e cavaleiros. (Ex. 14,15-17). E assim aconteceu.
Há os que se desviaram enganados por seus projetos e entendimento. Judas Iscariotes é um destes, que não se renunciando para fazer a vontade de Deus, pensando fazer o bem, achando que ao entregar Jesus Ele ia manifestar o seu poder e destruir as estruturas erradas deste mundo tornou-se a causa da sua ruína. Não adianta nossos esforços se Jesus não for o condutor das nossas ações e comportamento e que se não for Ele a acalmar as tempestades deste mundo e de nossos corações, ninguém poderá fazê-lo. Basta que para isso o busquemos de coração livre e Ele fará o que for necessário para nos salvar.
Sabemos que Jesus não estava dormindo por comodismo ou omissão da realidade. Ele dormia porque sabia que todo domínio estava n’Ele e no Pai e também queria provar a fé dos seus discípulos e leva-los a cura da auto-suficiência e independência de Deus, e assim poderem chegar a fé sobrenatural e entenderem que Jesus não é só um bom homem com sábias palavras bom comportamento, mas que Ele é Deus, capaz de destruir todas as tempestades das limitações e fraquezas humanas e estabelecer nos corações dos homens a verdadeira alegria de serem filhos de Deus, verdade esta que só podemos encontrá-la nos deixando ser conduzidos por Jesus, que quer nos levar a uma experiência de uma fé viva, como fez com seus apóstolos.

Patricia Alves

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