A liturgia é sempre uma ce­lebração do Senhor e do seu mistério pascal. O culto da Igreja sempre se dirige a Deus. E é a partir desse eixo central - o mistério da Páscoa de Jesus - que a Igreja celebra Maria e os santos, reconhecendo as maravilhas de Deus realizadas naqueles que viveram o evangelho, seguiram os passos de Jesus e testemunharam em sua vida o mistério de Cristo; muitos deles até ao sacrifício de sua própria vida, fiéis até o martírio, portanto, modelos evangélicos de fidelidade a Cristo a serem imitados.

O Concílio Vaticano II diz o seguinte a esse respeito: “A Igreja introduziu no ciclo anual a memória dos mártires e dos demais santos que, tendo chegado à perfeição pela multiforme graça de Deus e recompensados com a salvação eterna, cantam a perfeita louvação a Deus no céu e intercedem por nós. Porque, ao celebrar a passagem dos santos deste mundo para o céu, a Igreja proclama o mistério pascal realizado neles, que sofreram e foram glorificados em Cristo, propõe aos fiéis seus exemplos, os quais atraem todos por Cristo ao Pai e, pelos méritos deles, implora os benefícios divinos”. (SC 104)

O mesmo documento, no nº 111: “De acordo com a tradição, a Igreja rende culto aos santos e venera suas imagens e suas relíquias autênticas. As festas dos santos proclamam as maravilhas de Cristo em seus servidores e propõem exemplos oportunos à imitação dos fiéis...”.

Interessante notar que o culto aos mártires é anterior ao de Maria e de outros santos. Isso porque, com as perseguições, no início da Igreja, foi nos mártires ou nas santas testemunhas de Cristo que se manifestaram por primeiro a paixão, a morte e a ressurreição do próprio Senhor, revelando-se neles a perfeição do seguimento e do discipulado. Mais tarde, esse culto se estende aos apóstolos, confessores, doutores, virgens, santos e santas.

Maria ocupa lugar de destaque, porque a santidade de Deus se revela de modo particular na mãe do Senhor, que acolhe Deus em seu seio e o entrega à humanidade, por isso intimamente ligada à vida e aos mistérios de Cristo.

Mas também a virgem Maria “deve ser situada no contexto do mistério pascal de Cristo e da Igreja”, no dizer de diversos autores. Ela, a cheia de graça, a Nova Eva, a discípula por excelência, a que acreditou até o fim!

É incontável o número dos santos, e cada qual é apresentado como modelo de fidelidade a Cristo, refletindo um aspecto da santidade de Deus, do Cristo total. Sobretudo em nosso continente, tão marcado por injustiças e perseguições, são muitos os mártires da caminhada e os santos do povo, cuja memória permanece entre nós e fecunda nosso chão!

Nós cremos na COMUNHÃO DOS SANTOS! Somos convidados a seguir seu exemplo e a cantar a glória de Deus que neles brilha, lembrando que “O Mistério Pascal de Cristo” é a única realidade celebrada no Ano Litúrgico. Celebrando cada ano o “dia natalício” dos mártires e dos santos e santas, a Igreja celebra o “realizar-se”, o “cumprir-se” neles do Mistério Pascal do Senhor. Páscoa de Cristo na páscoa dos santos, páscoa dos santos na páscoa de Cristo (Cadernos de Liturgia – 11 – Editora Paulus, p. 53).


A solenidade de Todos os Santos celebra, em um único dia, a multidão “que ninguém pode contar” (Ap 7,2-4), lembrando nossos intercessores que na Jerusalém celeste já contemplam a glória do Senhor face a face, juntamente com todos os irmãos que nos precederam na fé, cantando o Cântico Novo do Amém-Aleluia diante do Cordeiro! É a antecipação da eterna e plena liturgia do céu!...

O 4º Fascículo do Hinário Litúrgico da CNBB apresenta diversos cantos para o “Comum dos Santos” e outras festas, muitos dos quais foram gravados em CDs pela gravadora Paulus. Há outras composições, como a “Celebração da Páscoa de Cristo com as Santas Testemunhas” (para o dia de Todos os Santos – Canto Pastoral 2004), “Apóstolos do Reino” (Canto Pastoral 2005) e “Comum dos Mártires” (Canto Pastoral 2008), coordenados por mim, além de muitos outros.

Que o nosso canto expresse essa centralidade do Mistério Pascal de Jesus, cuja luz brilha nos seus santos e bem-aventurados!

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