Ainda hoje há uma divergência dentro da Igreja entre pessoas que são contra e a favor de se falar em transformação social e política na ótica do Evangelho. Considerando algumas opiniões próprias e a Liturgia do XVIII Domingo do Tempo Comum, quero fazer algumas considerações sobre o tema acima:
1. Não podemos, enquanto cristãos, nos conformar com o modelo de exploração econômica, criador e aprofundador das desigualdades sociais e econômicas, sobretudo justificando-as como natural. As desigualdades sociais são criações humanas, culturais, não divinas. Não é cristão dizer que existem pobres e ricos porque Deus quer, pois Deus não é o autor desse sistema de morte.
2. Não estou dizendo que o socialismo seja o caminho certo! Estou afirmando que, num mundo dominado pelo sistema capitalista explorador das pessoas, materialista, que a tudo transforma em mercadoria, não podemos perder nossa identidade de cristão. As primeiras comunidades cristãs não viviam assim: leia Atos dos Apóstolos, cap. 2, 42ss:

"Perserveraram eles na doutrina dos apóstolos, na reunião em comum, na fração do pão e nas orações. De todos eles se apoderou o temor, pois pelos apóstolos foram feitos também muitos prodígios e milagres em Jerusalém e o temor estava em todos os corações. Todos os fieis viviam unidos e tinham tudo em comum. Vendiam as suas propriedades e os seus bens, e dividiam-nos por todos, segundo a necessidade de cada um. Unidos  de coração freqüentavam todos os dias o templo. Partiam o pão nas casas e tomavam a comida com alegria e singeleza de coração, louvando a Deus e cativando a simpatia de todo o povo. E o Senhor cada dia lhes ajuntava outros que estavam a caminho da salvação."

(Retirado de: http://www.bibliacatolica.com.br/01/51/2.php. Acesso em 03 ago. 2011, as 00h52)
Portanto, percebemos claramente que as primeiras comunidades formadas pelos apóstolos tinham tudo em comum. 
3. Não devemos tentar justificar os anseios de consumo: o consumismo exacerbado, que denigre a dignidade humana, que acelera o processo de desigualdades não é cristão. A partilha do pão material e espiritual está sempre nas Sagradas Escrituras como um meio de salvação.
4. Na Liturgia deste último domingo em que temos como texto iluminador Mt 14, 13-21, Jesus nos ensina claramente que a partilha do pão é sinal de amor a Deus e aos irmãos. Ao mesmo tempo, nos ensina a não desperdiçarmos os alimentos (cf. Mt 14, 20).
5. A Liturgia Eucarística VI-D, proclamada neste domingo nos chama a atenção novamente: 
"Dai-nos olhos para ver as necessidades e os sofrimentos dos nossos irmãos e irmãs; inspirai-nos PALAVRAS e AÇÕES para confortar os desanimados e oprimidos; fazei que a exemplo de Cristo, e seguindo o seu mandamento, nos empenhemos lealmente no serviço a eles. Vossa Igreja seja testemunha viva  da verdade e da libertação, da justiça e da paz, para que toda a humanidade se abra a esperança de um mundo novo." (Missal, p. 860)
Enfim, Cristo espera que nós, ao rezarmos a oração que Ele mesmo nos ensinou e pedirmos o pão de cada dia, façamos algo de concreto pelo irmão que é oprimido, que sofre com as feridas causadas por uma sociedade capitalista e selvagem.
Os tempos estão comprovando que o modelo capitalista não salva o mundo, como muitos achavam: crises econômicas e sociais abalam o mundo. Sabe-se que não se pode salvar o mundo sozinho, mas cada um de nós, a medida que usarmos o dinheiro para suprir as necessidades, sem o alarde do consumir por consumir, sobretudo quando colocarmos o dinheiro a nosso serviço e não estarmos a serviço do dinheiro, já estamos contribuindo para um mundo melhor.






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