O papa João Paulo I, no seu brevíssimo pontificado afirmou que “Deus é Pai e Mãe”.

Essa afirmação do papa sorriso, impõe uma mudança radical da mentalidade judaica e patriarcal, que é a fonte do cristianismo. A figura de Deus – Pai, não esta teologicamente errada. Mas é muito salutar começar a olhar de outro modo o amor maternal de Deus. Deus é o Pai e a Mãe que nos corrige e derrama sua misericórdia sobre nós, num gesto de profundo de amor materno. Precisamos cultivar a dimensão feminina de Deus. A teóloga Maria Clara Bingemer, professora de teologia (PUC – RJ) vai além, e estende a dimensão materna as três pessoas Santa da Trindade, dizendo “Cada pessoa da Trindade é uma harmonização de características masculinas e femininas”.

A doutora em religião sugere algumas passagens que fundamenta a sua tese, vejamos: “Como a uma pessoa que a sua mãe consola assim eu vos consolarei”. (Is 66,13).  “Por acaso uma mulher se esquecerá da sua criancinha de peito? Não se compadecerá ela do seu ventre? Ainda que a mulheres se esquecessem eu não me esquecerei de ti”. (Is 49,15).

Outra expressão do amor materno de Deus pode ser experimentada com Maria. Ela não é Deus nem Deusa com diz a música Senhora e Mãe “Não és deusa, não és mais que Deus. Mas depois de Jesus, o Senhor. Neste mundo ninguém foi maior”. Maria é expressão do amor de Deus para com a humanidade. Nessa oportunidade dos dias das mães, lembro – me da definição de Chiara Lubich que em alguns do seus discursos disse: os homens e mulheres são chamados a ser como Maria, ou seja, sermos geradores de Cristo para a humanidade, isso significa estar cheios do amor de Deus, para podermos cumprir o maior mandamento de Cristo, que é “Amai – vos uns aos outros” (Jô. 15,17), pois como diz a música já citada do Padre Zezinho: “Porquê de levar a Jesus entendes mais”.

A maternidade sempre foi uma benção para Igreja. E na fecundidade de uma gestação expressa de alguma forma o amor de Deus para com os seres humanos. Os homens não passam pela gestação como receptores de uma gravidez, mas tem a grandiosidade de nascer de uma mãe. Não conheço outra forma de se chegar a esse mundo que não seja pela grandiosidade de gestação, embora os avanços tecnológicos. E por isso que nós em todas as camadas sociais devemos defender uma gestação mais natural e saudável possível.

Quanto à maternidade todos os discursos são válidos para homenagear a maternidade e as mães. Mas ninguém mais adequado do que uma mãe para partilhar conosco a definição de ser mãe? Para isso convidamos a mãe do Gabriel e do Bruno para comungarmos da experiência de ser mãe, em singelas palavras Lúcia Sabino assim definiu o que é a maternidade “Ser mãe é estar ligada em Deus que é Fonte de Amor Infinito e gratuito” assim ela define “É ser aprendiz”, e prossegue com muita propriedade e profundidade “É ser pacífica, coerente, corajosa e comprometida com a Vida. Para corrigir, acolher e mostrar o caminho certo.”. 


No imaginário geral, Deus Pai é um senhor sisudo de barba branca, bem parecido com Jesus, só que mais velho. Mas a verdade é que Ele não é mesmo assim. Bem, talvez até seja… mas não existem bases para afirmar que Ele tenha alguma forma humana, seja de homem ou de mulher. Ele é espírito, e não se enquadra dentro de nenhuma destas categorias biológicas.
Catecismo da Igreja Católica define muito bem essa questão:
“Deus não é de modo algum à imagem do homem. Não é nem homem nem mulher. Deus é puro espírito, não havendo nele lugar para a diferença dos sexos.” (CIC, 370)
Ou seja, quando a Bíblia diz que fomos criados à imagem e semelhança de Deus, não se refere à forma física, mas sim ao intelecto superior às demais criaturas, à capacidade moral que nenhum outro animal tem, ao dom da vida eterna, à capacidade de se relacionar de forma consciente e livre com Deus. Tanto isso é verdade que, logo após dizer “Façamos o homem à nossa imagem e semelhança”, Deus determinou:
“Que ele reine sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos e sobre toda a terra, e sobre todos os répteis que se arrastem sobre a terra.” (Gen 1,26)
É bem verdade que Deus Filho veio ao mundo como um Menino, porém, quanto a Deus Pai… “Ninguém jamais viu Deus” (João 1,18). Se bem que teve um sujeito que passou bem perto disso: Moisés. Confiando na intimidade de que gozava com o Criador, o profeta ousou pedir que Deus se revelasse aos seus olhos. Deus não topou, mas ao menos lhe deu a imensa graça de vê-Lo de costas.
Moisés disse: “Mostrai-me vossa glória”. E Deus respondeu: “Vou fazer passar diante de ti todo o meu esplendor (…). Mas, ajuntou o Senhor, não poderás ver a minha face, pois o homem não me poderia ver e continuar a viver. (…)
Quando minha glória passar, te porei na fenda da rocha e te cobrirei com a mão, até que eu tenha passado. Retirarei depois a mão, e me verás por detrás. Quanto à minha face, ela não pode ser vista.”
(Êxodo 33,18-23)
Deus não é homem nem mulher, mas uma coisa é certa: Ele quis se revelar nas Escrituras por meio de uma personalidade masculina. É fácil perceber que a maioria esmagadora das referências do Antigo Testamento se refere ao Senhor como um ser masculino; ele sempre é chamado de “Senhor”, e jamais de “Senhora”. Sim, há as algumas passagens em que Deus se coloca em um contexto mais feminino (“Mas agora grito, como mulher nas dores do parto” – Is 43,14), mas são bem raras.
É importante notar que esta absoluta predominância do tratamento masculino a Deus nas Escrituras não é determinada simplesmente pelo contexto cultural do povo hebreu, ou seja, pelo patriarcalismo. Afinal, o próprio Cristo se referia ao Criador como Pai, e se dizia “Filho do Homem”. E, quando ensinou seus discípulos a rezar, disse: “Pai Nosso…”.
Mas, para ajudar a embananar as coisas, certa vez o Papa João Paulo I declarou que Deus é pai, mas é mãe também (1). Neste sentido, Bento XVI parece discordar de João Paulo I. No seu livro “Jesus de Nazaré”, o Papa alemão observa que “Deus nunca é designado como mãe” na Bíblia, mas somente como pai. Ele também salienta que, “apesar de todas as imagens do amor materno, ‘mãe’ não é nenhum título divino, não é nenhuma alocução para Deus” (2).
Certo, Deus se revelou na Bíblia por meio de uma personalidade masculina, mas por quê? Bento XVI explica que o Deus de Israel precisava mostrar a Sua total diferenciação das divindades maternas adoradas pelos povos que cercavam os israelitas:
“…a imagem do pai era e é adequada para exprimir a alteridade entre Criador e criatura, a soberania do ato criador. Somente por meio da exclusão das divindades maternas podia o Antigo Testamento levar à maturidade a sua imagem de Deus, a pura trascendência de Deus”. (2)
No livro, Ratzinger esclarece ainda que a sua tese não explica todo o mistério, e nem tampouco tem a pretensão de ser uma verdade absoluta. Bem, mas já nos ajuda a compreender algo do Ser de Deus Pai.

Postar um comentário

Tecnologia do Blogger.